Com a calagem do solo é possível corrigir o pH dos solos ácidos, o que melhora as condições para que as plantas se desenvolvam e ainda pode potencializar a produtividade da lavoura
O que é calagem do solo?
Assim como os nutrientes (NPK, entre outros) disponíveis no solo são importantes para a produtividade de pastos e grãos, o mesmo vale para o pH.
Dessa forma, um solo ácido é aquele com pH abaixo de 7,0. Quando esse valor é maior do que 7,0, classificamos o solo como básico (ou alcalino). E se for igual a 7,0 significa pH neutro. Em resumo:
- pH abaixo de 7,0: solo ácido
- pH igual a 7,0: solo neutro
- e pH acima de 7,0: solo básico
Em geral, os solos brasileiros são classificados como ácidos, pois, possuem valores baixos de pH, o que pode afetar a absorção de outros nutrientes pela planta, dado um cenário desfavorável em campo.
Assim, uma forma de corrigir o pH, ou seja, a acidez do solo, é por meio da aplicação de calcário, em um processo conhecido como calagem.
No Brasil, as primeiras recomendações de calagem são quase centenárias, ocorridas em meados de 1925.
De lá para cá, essa prática possibilitou a expansão da agricultura brasileira, principalmente rumo ao Cerrado. Isso porque, aquela região tem solos ácidos com pH entre 4,0 e 4,5, caracterizados como pobres em cálcio e magnésio.
Qual a importância da calagem para a fertilidade do solo?
São vários os benefícios obtidos com a calagem. Além da correção do pH, ela fornece cálcio (Ca) e magnésio (Mg), que são elementos essenciais para o bom desenvolvimento radicular da planta e, consequentemente, melhora a absorção dos outros nutrientes por meio da CTC (capacidade de troca catiônica).
Ainda, reduz os efeitos tóxicos provenientes de altas concentrações de alumínio (Al) e manganês (Mn), os quais, em excesso no solo, podem dificultar o enraizamento.
Em termos físicos, ela aumenta a agregação do solo, o que, por sua vez, irá diminuir a compactação e, novamente, criará condições mais favoráveis ao desenvolvimento radicular.
O valor do pH está diretamente relacionado à disponibilidade dos macro e micronutrientes para a absorção das plantas.
Conforme a figura (abaixo), um baixo valor de pH, próximo a 5,0, faz com que tenhamos altas disponibilidades de Alumínio, Ferro, Cobre, Manganês e Zinco (que é a situação mais encontrada em solos brasileiros), e baixas disponibilidades de Potássio, Cálcio e Magnésio.
Embora seja raro de observar-se no Brasil, altos valores de pH, acima de 7,0, fazem com que o Molibdênio e o Cloro fiquem mais disponíveis às plantas, porém, prejudicando as disponibilidades de outros nutrientes, tais como Alumínio, Ferro, Cobre, Manganês e Zinco.
Todos esses fatores benéficos da calagem proporcionarão melhores condições de produção na lavoura.
Em quais situações a calagem é necessária?
A maior parte das culturas se desenvolvem na faixa de pH entre 5,5 e 6,5, ou seja, solos levemente ácidos.
Sendo assim, conhecer quais são as características químicas do seu solo é fundamental para ver se a calagem será necessária, como veremos abaixo.
Como realizar a calagem de solo?
O primeiro passo para verificar a necessidade da calagem é a amostragem de solo, a ser feita de modo representativo em toda a propriedade, sendo as amostras homogêneas de mesmo volume.
Na sequência, você deverá encaminhar a um laboratório especializado para obter os resultados da análise química. É sempre recomendado anotar a data e o local da coleta para evitar confusões entre as áreas em campo.
A terceira etapa corresponde ao cálculo da calagem, que é feito baseado na fórmula a seguir:
Onde:
NC = Necessidade de Calcário, em toneladas por hectare;
V2 = Saturação por bases desejada (normalmente entre 50% e 70%, a depender da cultura);
V1 = Saturação por bases atual, proveniente da análise de solo (Ca²+ + Mg²+ + K+);
CTC = Capacidade de Troca Catiônica [Ca²+ + Mg²+ + K+ + (H + Al)], a pH 7,0;
PRNT = Poder Relativo de Neutralização Total (encontrado nos rótulos das embalagens de calcário).
Tipos de Calcário
Os valores de PRNT não possuem relação com a qualidade do produto comercializado, ou seja, um calcário de maior PRNT não, necessariamente, será melhor que outro de menor valor, pois o PRNT é um indicador de reatividade (e não de qualidade).
Usualmente, o calcário comercializado tem origem em rochas moídas. Quanto aos tipos, as opções mais conhecidas são: calcítico, magnesiano e dolomítico.
Todos possuem cálcio e magnésio em suas composições, porém, o calcítico é o mais recomendado para deficiências em cálcio, ao passo que o dolomítico tem concentração maior em magnésio. O magnesiano seria o intermediário.
Para a aplicação, recomenda-se que seja igualmente distribuída em toda a extensão da propriedade, a uma profundidade de 20 cm, visto que é nessa camada que se encontra a maior parte das raízes (mais finas) que farão a absorção dos nutrientes.
A princípio, sugere-se que a calagem seja feita num período de pelo menos 3 meses antes do plantio, para que dê tempo suficiente para que ocorram as reações químicas.
De acordo com a Embrapa, caso a Necessidade de Calcário (NC) seja maior que 4 toneladas/ha, é importante considerar o parcelamento em duas aplicações, sendo a primeira antes da aração e a segunda após tal operação.
Em caso de plantio direto, a aplicação do calcário será somente na superfície, sem o revolvimento da terra.
É extremamente válido se atentar à direção e velocidade do vento quando planejar a calagem, visto que quanto maior for a velocidade do vento, maior poderá ser a deriva (desvio da rota desejada), o que aumentará o custo da aplicação.
E depois?
Uma vez realizados os tratos culturais necessários, é importante acompanhar o crescimento da cultura. Para isso, é imprescindível manter-se atualizado nas informações.
Uma das formas de monitoramento é pelo Normalized Difference Vegetation Index (NDVI, ou Índice de Vegetação por Diferença Normalizada, traduzido ao português). Ele é um índice que analisa as condições da vegetação por imagens aéreas, normalmente oriundas de satélites.
Para isso, baixe o App BoosterAgro de modo gratuito e tenha informações sobre sua fazenda.
Conclusão
Neste artigo, vimos a importância que o calcário tem na produtividade agrícola. Embora a calagem seja uma ação estratégica, ela só deve ser feita se realmente for necessária, sendo cada caso um caso.
Apesar das recentes altas dos insumos em 2021, com a disparada do dólar, o calcário continua sendo um dos mais baratos para o produtor, correspondendo a cerca de 5% do custo total da produção. E pode trazer um retorno econômico incrível na produtividade, se bem realizado!
A nível de curiosidade, os solos urbanos, os quais têm constante revolvimento da terra, sendo compostos por restos de entulho, cimento, tijolos etc., costumam ter pH básico e são pobres quanto à presença dos nutrientes. Por isso é importante trocar o solo em plantios de paisagismo e arborização.