Com a calagem do solo é possível corrigir o pH dos solos ácidos, o que melhora as condições para que as plantas se desenvolvam e ainda pode potencializar a produtividade da lavoura
O que é calagem do solo?
Assim como os nutrientes (NPK, entre outros) disponíveis no solo são importantes para a produtividade de pastos e grãos, o mesmo vale para o pH.
Dessa forma, um solo ácido é aquele com pH abaixo de 7,0. Quando esse valor é maior do que 7,0, classificamos o solo como básico (ou alcalino). E se for igual a 7,0 significa pH neutro. Em resumo:
- pH abaixo de 7,0: solo ácido
- pH igual a 7,0: solo neutro
- e pH acima de 7,0: solo básico
Em geral, os solos brasileiros são classificados como ácidos, pois, possuem valores baixos de pH, o que pode afetar a absorção de outros nutrientes pela planta, dado um cenário desfavorável em campo.
Assim, uma forma de corrigir o pH, ou seja, a acidez do solo, é por meio da aplicação de calcário, em um processo conhecido como calagem.
(Fonte: Carlos Kurihara)
No Brasil, as primeiras recomendações de calagem são quase centenárias, ocorridas em meados de 1925.
De lá para cá, essa prática possibilitou a expansão da agricultura brasileira, principalmente rumo ao Cerrado. Isso porque, aquela região tem solos ácidos com pH entre 4,0 e 4,5, caracterizados como pobres em cálcio e magnésio.
Qual a importância da calagem para a fertilidade do solo?
São vários os benefícios obtidos com a calagem. Além da correção do pH, ela fornece cálcio (Ca) e magnésio (Mg), que são elementos essenciais para o bom desenvolvimento radicular da planta e, consequentemente, melhora a absorção dos outros nutrientes por meio da CTC (capacidade de troca catiônica).
Ainda, reduz os efeitos tóxicos provenientes de altas concentrações de alumínio (Al) e manganês (Mn), os quais, em excesso no solo, podem dificultar o enraizamento.
Em termos físicos, ela aumenta a agregação do solo, o que, por sua vez, irá diminuir a compactação e, novamente, criará condições mais favoráveis ao desenvolvimento radicular.
O valor do pH está diretamente relacionado à disponibilidade dos macro e micronutrientes para a absorção das plantas.
Conforme a figura (abaixo), um baixo valor de pH, próximo a 5,0, faz com que tenhamos altas disponibilidades de Alumínio, Ferro, Cobre, Manganês e Zinco (que é a situação mais encontrada em solos brasileiros), e baixas disponibilidades de Potássio, Cálcio e Magnésio.
Embora seja raro de observar-se no Brasil, altos valores de pH, acima de 7,0, fazem com que o Molibdênio e o Cloro fiquem mais disponíveis às plantas, porém, prejudicando as disponibilidades de outros nutrientes, tais como Alumínio, Ferro, Cobre, Manganês e Zinco.
Todos esses fatores benéficos da calagem proporcionarão melhores condições de produção na lavoura.
Em quais situações a calagem é necessária?
A maior parte das culturas se desenvolvem na faixa de pH entre 5,5 e 6,5, ou seja, solos levemente ácidos.
Sendo assim, conhecer quais são as características químicas do seu solo é fundamental para ver se a calagem será necessária, como veremos abaixo.
Como realizar a calagem de solo?
O primeiro passo para verificar a necessidade da calagem é a amostragem de solo, a ser feita de modo representativo em toda a propriedade, sendo as amostras homogêneas de mesmo volume.
Na sequência, você deverá encaminhar a um laboratório especializado para obter os resultados da análise química. É sempre recomendado anotar a data e o local da coleta para evitar confusões entre as áreas em campo.
A terceira etapa corresponde ao cálculo da calagem, que é feito baseado na fórmula a seguir:
Onde:
NC = Necessidade de Calcário, em toneladas por hectare;
V2 = Saturação por bases desejada (normalmente entre 50% e 70%, a depender da cultura);
V1 = Saturação por bases atual, proveniente da análise de solo (Ca²+ + Mg²+ + K+);
CTC = Capacidade de Troca Catiônica [Ca²+ + Mg²+ + K+ + (H + Al)], a pH 7,0;
PRNT = Poder Relativo de Neutralização Total (encontrado nos rótulos das embalagens de calcário).
Tipos de Calcário
Os valores de PRNT não possuem relação com a qualidade do produto comercializado, ou seja, um calcário de maior PRNT não, necessariamente, será melhor que outro de menor valor, pois o PRNT é um indicador de reatividade (e não de qualidade).
Usualmente, o calcário comercializado tem origem em rochas moídas. Quanto aos tipos, as opções mais conhecidas são: calcítico, magnesiano e dolomítico.
Todos possuem cálcio e magnésio em suas composições, porém, o calcítico é o mais recomendado para deficiências em cálcio, ao passo que o dolomítico tem concentração maior em magnésio. O magnesiano seria o intermediário.
Para a aplicação, recomenda-se que seja igualmente distribuída em toda a extensão da propriedade, a uma profundidade de 20 cm, visto que é nessa camada que se encontra a maior parte das raízes (mais finas) que farão a absorção dos nutrientes.
A princípio, sugere-se que a calagem seja feita num período de pelo menos 3 meses antes do plantio, para que dê tempo suficiente para que ocorram as reações químicas.
De acordo com a Embrapa, caso a Necessidade de Calcário (NC) seja maior que 4 toneladas/ha, é importante considerar o parcelamento em duas aplicações, sendo a primeira antes da aração e a segunda após tal operação.
Em caso de plantio direto, a aplicação do calcário será somente na superfície, sem o revolvimento da terra.
É extremamente válido se atentar à direção e velocidade do vento quando planejar a calagem, visto que quanto maior for a velocidade do vento, maior poderá ser a deriva (desvio da rota desejada), o que aumentará o custo da aplicação.
E depois?
Uma vez realizados os tratos culturais necessários, é importante acompanhar o crescimento da cultura. Para isso, é imprescindível manter-se atualizado nas informações.
Uma das formas de monitoramento é pelo Normalized Difference Vegetation Index (NDVI, ou Índice de Vegetação por Diferença Normalizada, traduzido ao português). Ele é um índice que analisa as condições da vegetação por imagens aéreas, normalmente oriundas de satélites.
Para isso, baixe o App BoosterAgro de modo gratuito e tenha informações sobre sua fazenda.
Conclusão
Neste artigo, vimos a importância que o calcário tem na produtividade agrícola. Embora a calagem seja uma ação estratégica, ela só deve ser feita se realmente for necessária, sendo cada caso um caso.
Apesar das recentes altas dos insumos em 2021, com a disparada do dólar, o calcário continua sendo um dos mais baratos para o produtor, correspondendo a cerca de 5% do custo total da produção. E pode trazer um retorno econômico incrível na produtividade, se bem realizado!
A nível de curiosidade, os solos urbanos, os quais têm constante revolvimento da terra, sendo compostos por restos de entulho, cimento, tijolos etc., costumam ter pH básico e são pobres quanto à presença dos nutrientes. Por isso é importante trocar o solo em plantios de paisagismo e arborização.

