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Como diminuir as perdas na colheita do trigo

Colheita do trigo, entenda tudo sobre a umidade ideal, condições ambientais de colheita e regulagem da colhedora para reduzir as perdas. 

A rentabilidade de uma lavoura está muito relacionada ao modo como o produtor irá conduzi-la desde o momento da compra dos insumos, da execução da semeadura, da colheita, até o transporte e armazenamento dos grãos.

Porém, todo o investimento empregado na formação de uma lavoura poderá ter sido em vão, se não houver a observação das condições ideais de uma etapa muito importante: a colheita.

Independente da cultura, o processo de colheita terá algum tipo de perda. Contudo, é necessário observar alguns fatores para que possamos reduzi-las ao máximo.

O trigo é um cereal que se destaca como um dos principais cultivos de inverno, especialmente na região sul do Brasil e cumpre papel importante na segurança alimentar do país.

Porém, historicamente, o produtor costuma ter uma rentabilidade baixa e, por isso, é tão importante buscar formas mais eficientes para realizar as diferentes etapas durante a condução da lavoura.

Confira a seguir a umidade ideal de colheita da cultura do trigo, as condições ambientais para realizar esta operação com segurança e como fazer a regulagem da colhedora de maneira adequada.

Além disso, saiba de que forma realizar o beneficiamento e armazenamento para evitar perdas!       

A umidade ideal do grão para a colheita do trigo

A antecipação da colheita, com teor não adequado de umidade, pode ser acontecer por dois motivos: a necessidade do produtor de retirar o trigo para o plantio da cultura da soja; ou devido às condições climáticas adversas (chuvas e longos períodos de alta umidade relativa do ar) o que atrapalha a secagem do grãos ainda em campo.

Porém, a umidade do grão é ponto chave para ser observado.

Isso porque, colher grãos com umidade inadequada pode trazer problemas quantitativos e qualitativos. Veja a seguir.

Perdas quantitativas

Quando colhidos com teor de umidade superior a 18%, os grãos sofrem esmagamento pela colhedora, perdem peso e qualidade. Além disso, ocorre o aumento dos custos de secagem para armazenagem ou, quando for o caso, o aumento do percentual de desconto na moega no ato da entrega. 

Quando colhidos com teor de água abaixo do ideal, ocorre a quebra dos grãos.

Ambos os defeitos interferem na classificação dos grãos para comercialização, como mostra a tabela abaixo. O que afeta a remuneração ao produtor no momento de venda do produto.

Perdas qualitativas

Quando os grãos chegam do campo com danos mecânicos ou alto teor de umidade, pode haver a redução da qualidade e do potencial de armazenamento.

Isso porque, estes grãos têm seus processos metabólicos de respiração acelerados, o que pode favorecer o desenvolvimento de microrganismos.

A importância do ponto de maturidade

A decisão de iniciar a colheita deve estar relacionada ao ponto de maturidade fisiológica da cultura, dando prioridade a um teor de umidade entre 13 e 18%, sendo 16% o teor de umidade ideal.

A exemplo, a colheita com umidade de 13,2% pode resultar em perdas de 5,0kg/ha, em contrapartida, com teor de 23,4%, as perdas podem chegar a 58,3 kg/ha

Comportamento de perdas pré e pós-colheita de trigo em decorrência da umidade dos grãos de trigo observadas no momento da colheita
Comportamento de perdas pré e pós-colheita de trigo em decorrência da umidade dos grãos de trigo observadas no momento da colheita. (Fonte: FIGUEIREDO et al., 2012.)

Além disso, os danos aos grãos, utilizados na classificação, podem ocorrer em maiores porcentagens, diminuindo o valor durante a comercialização.

Entretanto, é necessário também levar em consideração outros fatores para decidir quando iniciar a colheita, como veremos a seguir.

Condições ambientais para a colheita do trigo

As condições ambientais também são fatores que influenciam diretamente na colheita do trigo. 

A estação do inverno geralmente coincide com período de chuvas que podem alterar a condição da umidade do solo e impedir a entrada dos maquinários. Ou, ainda provocar a germinação dos grãos na espiga, levando à perda do peso hectolitro (PH).

Peso hectolitro (PH) do grão

O peso hectolitro (PH), ou seja, o peso da massa de 100 litros de trigo expressos em kg é uma medida que se usa na comercialização do grãos. E que reflete, de forma indireta, a sua qualidade.

Quanto menor o valor do PH do lotes de grãos, menor será o valor pago ao produtor. Além disso, menores valores de peso hectolitro diminuem o rendimento das farinhas na indústria. O PH do grão para classificação no tipo 1 é de 78.

A colheita

Em regiões mais quentes, ou condições de alta umidade, onde a germinação pode ocorrer na espiga, a colheita dos grãos pode acontecer em umidade de 18 a 20%.

O produtor deve estar atento a estas condições para dar início à colheita e, aliado a isto, observar a disponibilidade de máquinas para a operação, pois a colheita tardia  por falta de condições operacionais também irá depreciar os grãos e a rentabilidade do empreendimento.

Em casos de déficit hídrico, também é preciso ficar atento. Isso porque, apesar dos relatos de perdas serem menores, à medida que os grãos atingem umidade inferior a 13% ocorre o debulhamento natural das espigas. Com isso, aumentam as perdas na pré-colheita ou as perdas com grãos danificados nos mecanismos internos da colhedora.

Dessa forma, é possível dividir a época de pré-colheita em:

  • Prematura: trilha dificultada, aumento de perdas.
  • Ótima: semente madura;
  • Tardia: umidade baixa, devido às condições ambientais.
Fluxograma das etapas em uma colhedora de cereais. Demonstra os processos pelos quais o grão passa durante a colheita do trigo.

Manutenção e regulagem da colhedora

A manutenção e a regulagem da colhedora são dois itens essenciais para evitar perdas na operação. E neste caso, é necessário começar a observar este processo muito antes de colocar as máquinas na lavoura.

As colheitadeiras são máquinas complexas que precisam ser revisadas antes de iniciar o processo. 

O atraso ocasionado por máquinas em manutenção durante a colheita pode expor o produtor a diversas perdas decorrentes das condições climáticas. Por exemplo: debulha dos grãos ou acamamento das plantas; e até mesmo perdas ocasionadas pelo aumento da velocidade de colheita para compensar o atraso.

Contudo, com a manutenção em dia, é necessário também adaptar a regulagem da colhedora antes do início da colheita. E isso, levando em conta a cultura em campo, uma vez que:

  • As plantas são cultivadas com espaçamentos diferentes;
  • Os grãos possuem peso e formatos distintos;
  • É preciso levar em conta a altura de corte específica das plantas.

Perdas ocasionadas pela velocidade de colheita

Às vezes, a importância que se dá às perdas ocasionadas na colheita é menor, quando comparada à atenção ao manejo de pragas, doenças e daninhas.

No entanto, a velocidade de trabalho de uma colhedora é um dos fatores mais importantes para evitar perdas na plataforma de corte e nos mecanismos internos. 

Isso porque, velocidades elevadas podem gerar perdas significativas, podendo alcançar  55 kg/ha.

Além disso, a velocidade da operação em função da inclinação do terreno, plataforma e mecanismos internos das colhedoras também pode agravar as perdas.

Situações que diminuem as perdas:

  • Colhedoras com sistema de nivelamento automático nas peneiras têm maior eficiência em relação às perdas;
  • Velocidades reduzidas, como de 4 km/h, reduzem a porcentagem de perdas;
  • Em terrenos com inclinação entre 10 a 15%, a colheita deve ser feita em velocidades menores para reduzir as perdas;

De acordo com pesquisas, velocidades de operação de 6 km/h ou superiores podem aumentar as perdas em mais de 43% .

Nesse sentido, é necessário observar a velocidade de corte de acordo com a plataforma de corte, a potência do motor, o tamanho do cilindro ou rotor, o tamanho das peneiras e dos saca-palhas de cada colhedora, para que esteja adequada à operação. 

O horário em que a colheita será realizada também interfere nas perdas totais. Isso porque, as perdas costumam ser maiores quando a colheita acontece nas primeiras horas do dia, assim como no final do dia.

E isso é consequência da umidade elevada, o que dificulta o processo de trilha, sobrecarregando o processo de retrilha, assim como as peneiras.

Perdas totais em kg ha em função de diferentes horários de colheita do trigo
Perdas totais de trigo em kg ha em função de diferentes horários de colheita. (Fonte: GÖTTERT et al., 2019)

Ou seja, de acordo com o tamanho e a potência desses itens, deverá ser ajustada a velocidade para a capacidade de processamento da palha, grãos e ervas daninhas pela colhedora.

Secagem dos Grãos após a colheita do trigo

O teor de umidade ideal para a armazenagem do trigo é de 13%

Nesse sentido, todo o grão colhido com umidade superior a isso deve ser submetido ao processo de limpeza e, depois, de secagem.

E esta secagem artificial consiste em expor os grãos a um fluxo de ar quente com temperatura em torno de 40 a 60ºC (isso irá depender do tipo de secador e do teor de água inicial do trigo).

Boas práticas do armazenamento

Uma vez que os grãos foram colhidos no teor de água adequado e passaram pelo processo de secagem, em temperatura ideal, algumas condições ambientais podem influenciar na conservação destes grãos ao longo do armazenamento; são eles:

  • Umidade relativa do ar: deve ser a umidade de equilíbrio. Por exemplo, em temperatura ambiente de 22ºC, grãos de trigo com 12-13% de umidade, equilibram (não perdem, nem ganham água) quando a umidade relativa do ar estiver entre 50 e 60%;
  • Temperatura: temperaturas elevadas aceleram a respiração e, por consequência, a deterioração dos grãos. Logo, em regiões temperadas, os grãos devem ser resfriados até 8ºC para melhor conservação. Em regiões subtropicais, o grão pode ser armazenado a temperaturas entre 12 e 15 ºC.
  • Danos mecânicos: podem ocorrer quando as operações de colheita e secagem dos grãos são realizadas de forma inadequada. Além disso, grãos trincados e quebrados perdem a sua proteção natural, facilitando o ataque de microorganismos;
  • Controle de insetos, roedores e microrganismos: insetos e roedores podem consumir a matéria seca, diminuindo o peso dos grãos. 

Conclusão 

Em resumo, diversos fatores podem influenciar no valor comercial dos grãos colhidos, incluindo o planejamento para o início da safra, as operações de colheita, o beneficiamento e o armazenamento dos grãos.

As perdas no momento da pré-colheita e da colheita do trigo são inevitáveis, porém, é necessário adotar práticas que as reduzam ao máximo. 

A remuneração do produtor no caso do trigo, está relacionada à qualidade do grão colhido e o seu peso hectolitro (PH), o que reforça ainda mais a necessidade de atenção aos fatores que afetam a qualidade do produto final.

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Assim, o monitoramento das condições climáticas, a umidade dos grãos, a regulagem da colhedora e a sua velocidade durante a operação são fatores que podem reduzir bastante as perdas e, por isso, merecem a sua atenção, produtor!

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