Há diversos tipos de herbicidas no mercado, por isso, é importante conhecer seus modos de ação para realizar a rotação adequada de produtos visando o melhor manejo das lavouras
Os herbicidas têm papel de auxiliar o produtor no campo eliminando ou atrasando o crescimento de plantas indesejadas dentro da lavoura.
Por isso, saber rotacionar o modo de ação destes produtos é fundamental para evitar a sua perda de eficiência.
Mas então, você conhece os modos de ação dos herbicidas? Sabe como eles agem nas plantas?
Se quiser conhecer mais sobre esse tema, venha conferir no texto a seguir!
Uso de herbicidas na Agricultura
Os herbicidas são amplamente utilizados na agricultura, em diferentes momentos, para diversas funções e para todas as culturas.
Isso porque, a competição causada entre as plantas daninhas e o cultivo pode levar à perdas de até 50% da produção, gerando grandes prejuízos ao produtor.
Por isso, existem mais de 779 herbicidas registrados no Brasil, que podem ter diversos tipos de classificação. Por exemplo, podem se classificar quanto:
- Espectro de ação, ou seja, que tipo de plantas o produto controla: pode ser graminicida (controla folha estreita), latifolicida (controla folha larga) ou de amplo espectro (controla folha larga e estreita);
- Seletividade do herbicida, em outras palavras, se causa danos em plantas específicas: podem ser seletivos (causa dano da planta daninha, mas não na cultura) e não seletivos (causam danos nas plantas daninhas e na cultura);
- Época de aplicação, podem ser: pré-plantio (PP) (utilizados antes do plantio), pré-plantio incorporado (PPI) (utilizado antes do plantio, sendo incorporado ao solo), pré-emergência (PRE) (aplicados antes da emergência das plantas), pós-emergência (PÓS) (utilizados após a cultura ter emergido) e PRE ou PÓS (aplicados a qualquer momento);
- Translocação na planta, ou seja, como ocorre a sua a movimentação na planta, que pode ser: de contato (herbicida age próximo ao local de absorção) ou sistêmico (herbicida se movimenta na planta, podendo causar danos em diferentes locais)
Além disso, ainda é possível classificar os herbicidas em função de seu mecanismos de ação — assunto que vamos abordar no tópico a seguir.
Mecanismos de ação dos herbicidas
Este tipo de classificação é uma das mais importantes, pois as plantas daninhas sofrem mutações naturais, e assim adquirem resistência aos herbicidas com o passar do tempo.
Assim, para evitar que um produto perca sua eficiência, como tem acontecido com o glifosato, é necessário rotacionar os herbicidas com diferentes mecanismos de ação.
O problema do aumento no número de daninhas resistentes a diferentes mecanismos de ação, é que, além disso causar a diminuição da eficiência do produto, dificulta o controle destas plantas e eleva o custo de produção da lavoura.
Por isso, conhecer os mecanismos de ação dos herbicidas e os principais herbicidas de cada grupo, ajuda no manejo destes produtos.
Veja, a seguir, os 10 principais grupos de mecanismos de ação, suas classificações e as principais características.
Inibidores da ACCase
A classificação dos inibidores da ACCase pelo sistema Herbicide Resistance Action Committee (HRAC) é a letra A e da Weed Science Society of America (WSSA) é o número 1.
ACCase é abreviação da enzima acetil coenzima A carboxilase, assim, os herbicidas pertencentes a este grupo inibem a ação desta enzima.
São produtos graminicidas exclusivos sistêmicos, do grupo químico dos ariloxifenoxipropionatos (FOPs), ciclohexanodionas (DIMs) e fenipirazolinas (DENs).
Os sintomas demoram a aparecer por atuarem no meristema e causam necrose dos meristemas das plantas, amarelecimento ou arroxeamento e posterior necrose das folhas.
Alguns exemplos deste mecanismo de ação são: haloxyfop, fenoxaprop, diclofop, clethodim, alloxydim, sethoxydim e pinoxaden.
Inibidores da ALS
A classificação deste mecanismo de ação pelo HRAC é a letra B e da WSSA é o número 2.
Assim, os herbicidas deste mecanismo inibem a enzima acetolactato sintase, que tem a função de formar os aminoácidos valina, leucina e isoleucina.
Ou seja, com aplicação destes herbicidas as plantas paralisam o crescimento, entre 7 a 10 dias ocorre arroxeamento ou clorose internerval, levando à necrose foliar.
Imazapic, imazethapyr chlorimuron, trifloxysulfuron, metsulfuron; diclosulam, flumetsulam e pyrithiobac são alguns exemplos de inibidores da ALS.
Inibidores do Fotossistema I (FSI)
Pelo HRAC os herbicidas inibidores do Fotossintema I são representados pela letra D e na WSSA é o número 22.
Os inibidores do FSI são conhecidos também como formadores de radicais livres, pois, atuam como falso receptor de elétrons, como por exemplo o diquat.
Isto causa produção de radicais livres e diversas reações de oxidação, o que afeta o funcionamento das membranas e oxidação de clorofila, levando à clorose, bem como à necrose e morte da planta.
Assim, devido a rápida absorção e ação destes produtos, a planta morre de um a dois dias, e quanto maior a intensidade luminosa após a aplicação, mais rápido sua ação.
Inibidores do Fotossistema II (FSII)
Esse mecanismo de ação é representado pelas letras C1, C2 e C3, que correspondem, respectivamente, aos números 5, 7 e 6.
Estes herbicidas inibem o transporte de elétrons, removendo ou inativando um ou mais carregadores que transportam os elétrons, causando clorose e necrose da planta.
Ademais, os grupos químicos principais são: C1 as triazinas, C2 as uréias e amidas e C3 as nitrilas e benzotiadiazinona. Alguns ingredientes ativos, o diurom, atrazina, ametrina, propanil, bentazona e ioxinila.
Inibidores da PROTOX (PPO)
Os inibidores da PROTOX são representados pelo HRAC pela letra E, e pelo WSSA o número 14.
Estes herbicidas inibem a atuação da enzima protoporfirinogênio oxidase (PPO ou PROTOX), ou seja, levam à oxidação de lipídeos e proteínas, o que causa desidratação e desintegração das organelas.
Além disso, os principais herbicidas deste grupo são: fomesafen, lactofen, flumioxazin, carfentrazone, sulfentrazone e saflufenacil.
Inibidores da biossíntese de carotenóides
Podem ser identificados pelas letras F1 e número 12, F2 e número 27 e F3, a diferença entre a F1, F2 e F3 está apenas na enzima que o herbicida inibe, mas, são os mesmos sintomas.
Causam o bloqueio da síntese dos pigmentos carotenóides, ou seja, ocasionam fotodegradação da clorofila, o que causa a despigmentação das folhas.
Assim, os herbicidas deste mecanismo de ação são os: mesotrine, isoxaflutole, tembotriona e clomazone.
Inibidores da EPSPs
EPSPs é a abreviação da enzima 5-enolpiruvilchiquimato-3-fosfato sintase. A ação do glifosato, herbicida que corresponde a este modo de ação, causa a inibição desta enzima.
Assim, há redução na eficiência fotossintética e menor produção de aminoácidos aromáticos, degradando a planta lentamente.
Ademais, este mecanismo de ação é definido pelo HRAC pela letra G e número 9 na classificação do WSSA.
Inibidores da glutamina sintetase (GS)
A letra H e o número 10 corresponde aos inibidores da enzima glutamina sintetase.
Sua atividade está ligada ao metabolismo do nitrogênio, assim com sua inibição há um rápido acúmulo de amônia, o que resulta na destruição celular.
Dessa forma, um herbicida conhecido deste mecanismo de ação é o glufosinato de amônio pertencente ao grupo químico do ácido fosfínico.
Inibidores da divisão celular
Os inibidores da divisão celular são divididos em:
- Inibidores da formação de microtúbulos, letra K1, ou seja, tem como principal grupo químico a dinitroanilinas e o principal ingrediente ativo a trifluralina.
- Inibidores da síntese de AGCML (Ácidos Graxos de Cadeia Muito Longa), letra K3, grupo químico da α-chloroacetamidas e o S-metolacloro como ingrediente ativo.
Estes herbicidas atuam na paralisação do crescimento das raízes e parte aérea, pela ação nos tecidos meristemáticos uma vez que eles não se dividem e não se alongam.
Mimetizadores de auxinas
São conhecidos também como herbicidas reguladores de crescimento, pois atuam como as auxinas naturais nas plantas.
Esse herbicida provoca a epinastia de folhas (folhas curvadas para baixo), o “retorcimento” do caule, engrossamento das gemas terminais e, assim, levam à morte da planta.
Assim, os herbicidas deste grupo de classificação com a letra O, matam as plantas lentamente, entre 3 a 5 semanas após a aplicação, como exemplo tem o 2,4 D.
Por fim, veja na tabela abaixo um resumo dos nomes comuns de cada mecanismo de ação.
Conclusão
Neste artigo vimos que os herbicidas podem ser classificados de diferentes modos, mas que a classificação pelo mecanismo de ação é fundamental.
Além disso, também vimos que se os herbicidas não forem bem manejados ocorre resistência das plantas daninhas.
Assim, o conhecimento sobre algumas características dos grupos de mecanismos de ação é necessário para que seja realizada a rotação de produtos diferentes a fim de evitar que ocorra resistência.
Nesse sentido, o uso de herbicidas deve ser feito de modo adequado, seguindo as recomendações do agrônomo responsável e rotacionando produtos com diferentes modos de ação.
Referências
Herbicide Resistance Action Committee (HRAC) – internacional. Classificação dos herbicidas e plantas daninhas resistentes pelo local de ação. Disponível em: http://weedscience.org/Pages/SOASummary.aspx
NORA, D. D. Grupos químicos e modos de ação dos herbicidas. Disponível em: https://elevagro.com/materiais-didaticos/grupos-quimicos-e-modos-de-acao-dos-herbicidas-1/
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OLIVEIRA JÚNIOR, R. S. Mecanismos de Ação de Herbicidas. Disponível em: http://omnipax.com.br/livros/2011/BMPD/BMPD-cap7.pdf
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