Manejo dos cafezais após a geada: quais os tipos de geada, como elas afetam as plantas de café, o que fazer após sua ocorrência e mais.
As intempéries climáticas como seca e geadas são prejudiciais para todas as culturas, afetando diretamente a produtividade.
O café é uma planta muito sensível, principalmente pela ocorrência de geadas, podendo causar morte de plantas adultas.
Por isso, saber como manejar a cultura após a geada é fundamental para recuperação da lavoura e obtenção de boa produção nas próximas safras.
Pensando nisso, separamos este conteúdo com informações a respeito da geada nas lavouras de café do país e como proceder após sua ocorrência. Venha conferir!
Tipos e danos da geada nos cafezais
As geadas no Brasil são frequentes no outono/inverno, principalmente nos Estados do Sul e Sudeste.
Áreas de maior altitude associado a latitudes acima de 18o são as mais propícias de haver geadas, os estados que mais tem registrado ocorrências são os estados do RS, SC, PR, SP e parte dos estados de MG, RJ, GO e MS.
Além disso, a topografia do terreno influencia na massa de ar frio que causa os prejuízos da geada.
Em locais onde o ar frio fica estagnado, como nas baixadas e terrenos planos, por exemplo, os danos são mais intensos.
Assim, com altitude e latitude que favoreçam o acúmulo do ar frio, com temperaturas abaixo de -2°C podem ocorrer alguns tipos de geada em função da umidade do ar.
- Alta umidade do ar, pode ocorrer a chamada geada branca, onde nas folhas, galhos e frutos ocorre a presença de gelo na superfície;
- Baixa umidade do ar, pode ocorrer a geada negra ou geada de vento, pois os ventos são os principais responsáveis por este tipo de geada.
Na geada negra, não há formação de gelo na superfície da planta, mas ocorre congelamento da seiva.
A geada negra é mais severa que a geada branca, pois as células se rompem causando a morte do tecido.
Este último tipo é de ocorrência rara no Brasil, mas foi sua ocorrência que mudou a dinâmica de produção de café no estado do Paraná.
Classificação da geada de acordo com a região atingida na planta
Além dos dois tipos comentados, as geadas nos cafezais também podem ser classificadas de acordo com a região onde a planta foi atingida.
- Geada de canela – ocorre, principalmente, em cafezais de até um ano e meio. O ar frio atinge o tronco dos cafeeiros, perto da superfície do solo, o que causa o congelamento da seiva e, com isso, leva à morte da parte aérea da planta.
- Geada de capote – Ocorre quando há dano na parte área da planta de café, causando um aspecto de queima das folhas e, dependendo da intensidade, pode afetar os ramos.
Todos os tipos trazem prejuízos aos produtores, visto que as plantas sofrem estresse, deslocando sua energia para recuperação, ao invés da produção.
Reflexo da geada nas lavouras de café
Neste ano a produção de grãos teve grandes prejuízos com as geadas ocorridas no mês de julho. No caso da cafeicultura, o fenômeno atingiu algumas das principais regiões produtoras, especialmente no Centro-Sul do país.
Entretanto, até início de julho, metade da produção de café brasileira já havido sido colhida.
Assim, nas áreas em que a colheita ainda não havia sido feita, a geada levou à redução da qualidade dos grãos.
A redução da oferta e qualidade do produto causaram a elevação do preço pago aos produtores.
Desse modo, a influência da geada nesta safra não foi tão intensa como o que será observado na próxima.
Os efeitos das geadas são melhor observados após 60 dias, dependendo do nível de dano, há plantações que conseguem se recuperar.
Se a geada foi de alta intensidade, em alguns casos, pode ser preciso arrancar toda a lavoura e instalar novamente.
Com a queda das folhas queimadas pela geada e a realização da poda, bem como outras práticas de manejo, ainda será possível observar o reflexo das geadas na produção de café da safra 2021/22.
Além disso, se for necessária a implantação de novos cafezais, ainda será possível sentir os efeitos desta geada nas próximas temporadas.
Definindo estratégias de manejo após a geada no café
As geadas atingiram cafezais novos e velhos. Assim, 60 dias após o ocorrido, é necessário quantificar os danos, verificando a porcentagem da área afetada, bem como a intensidade.
Em cafezais novos, onde houve geada de canela ou danos mais severos nos ramos, poderão precisar de renovação do cafezal.
Se os danos não atingirem o tronco principal, chamado de ramo ortotrópico, ocorrerá a rebrota da planta, e a parte atingida será eliminada.
Já em cafezais maiores, dependendo da severidade dos danos, as plantas podem se recuperar sem intervenção. No entanto, pode ser necessário realizar alguma poda, e em situações de maiores danos, pode ser preciso arrancar as plantas devido a morte.
Se a geada atingiu apenas as folhas das pontas dos ramos, e o interior da planta permanece intacto, a planta se recupera, sem precisar de poda.
As podas, devido às geadas, podem ser dividas em:
- Decote: elimina a parte superior da planta, geralmente realizada quando ocorre geada de capote.
- Esqueletamento: elimina os ramos laterais, denominados plagiotrópicos, da planta que foi afetada pela geada.
- Recepa: elimina acima do tronco principal morto da planta afetada, realizado quando ocorre dano severo nos ramos secundários e principal.
Em consequência da geada, renovar lavouras já produtivas é mais incomum, mas pode ocorrer caso os danos tenham atingido grandes proporções do ramo principal.
Conclusão
Em resumo, neste artigo, vimos que as geadas atingiram as principais regiões produtoras de café do Brasil.
Além disso, também vimos que existem diferentes tipos de geadas, como diferenciá-las e como e quais danos elas provocam em cada parte da planta de café.
E, por conta disso, o reflexo dos prejuízos causados nas lavouras cafeeiras do país ainda serão vistos nas próximas safras.
E, por fim, como avaliar e manejar as áreas de produção cafeeira nos próximos meses para que a produção da próxima safra ainda seja satisfatória.
Referências
MATIELLO, J. B. Deu geada no cafezal, não façam podas já. MAPA – Procafé. Disponível em: http://www.cccrj.com.br/revista/839/24.pdf
MESQUITA, C. M. et al. Manual do café: distúrbios fisiológicos, pragas e doenças do cafeeiro (Coffea arábica L.) Belo Horizonte: EMATER-MG, 2016. Disponível em: https://issuu.com/cafeicultura/docs/manual_do_caf___dist__rbios_fisiol_