Doenças

Entenda a importância do manejo da Brusone e da Giberela nas lavouras de trigo

Doenças da espiga no trigo: saiba como identificá-las e como realizar um manejo eficiente para evitar o seu aparecimento e disseminação, principalmente no caso da brusone e da giberela!

As doenças nas espigas do trigo, como a brusone a giberela, têm causado enormes prejuízos, afetando tanto a produção em termos de quantidade como também de qualidade.

Estas doenças são responsáveis diretamente pelo aumento dos custos com o controle de doenças e pela perda de peso, resultante da má formação dos grãos.

Além disso, influenciam na qualidade dos grãos de trigo que podem até ser inviabilizados para o consumo, devido às micotoxinas.

Pensando nisso, neste artigo vamos conhecer as doenças na espiga do trigo, em quais situações causam maiores prejuízos e como manejá-las para garantir ótimos rendimentos na sua lavoura. 

Venha conferir!

Produção de trigo no Brasil

A princípio, o cultivo do trigo se limitava às regiões do Sul do Brasil.

Contudo, os novos cultivares e as técnicas de manejo que foram desenvolvidas possibilitaram sua expansão para outras regiões.

Atualmente, a produção brasileira de trigo está concentrada, principalmente, na região Sul e Sudeste, conforme os dados abaixo.

Estimativa da área, produtividade e produção da safra de trigo brasileira em agosto de 2021. (Fonte: Adaptado de Conab (2021))

O potencial produtivo de trigo no Brasil é bem animador! Pois, dependendo do cultivar utilizado, da região produtora e dos manejos praticados, o rendimento pode chegar a 6.136 kg/ha.

Fases fenológicas do trigo

Conhecer as fases fenológicas do trigo é fundamental.

Além de direcionar os tratos culturais, conforme a necessidade de cada etapa do desenvolvimento das plantas, possibilita o manejo certeiro das doenças!

A ocorrência de doenças, por exemplo na fase de afilamento, ou seja, perfilhamento das plantas de trigo, pode afetar diretamente o potencial de produção da lavoura.

Por outro lado, na fase de espigamento, os riscos relacionados às doenças de espiga são tão grandes que podem comprometer todo o manejo já realizado.

Os estádios de desenvolvimento das plantas de trigo podem ser descritos por duas escalas: a de Feekes (1941) (mais generalista) e a de Zadoks e colaboradores (1974) (mais detalhada).

Veja abaixo as fases fenológicas do trigo, comparando essas duas escalas.

Esquematização das escalas de desenvolvimento do trigo de Feeks (A) compreendendo os estádios de 1 a 11 e a de Zadoks (B) dividindo em 100 etapas (Z0 a Z99). (Fonte: Adaptado de Hyles (2020))

Para conhecer especificamente cada fase dessas escalas clique aqui.

Assim, entendendo a fenologia do seu cultivar, o próximo passo é identificar as doenças para manejá-las corretamente.

Principais doenças no trigo

As principais doenças que ocorrem no trigo são causadas por vírus, bactérias e, especialmente, por fungos.

Esses patógenos podem atacar as diferentes partes das plantas e ocorrer em diversas fases de desenvolvimento da cultura. As doenças mais importantes que ocorrem na triticultura brasileira são:

  • Mosaico comum do trigo – SBWMV
  • Estria bacteriana
  • Oídio
  • Ferrugens: da folha e do colmo do trigo
  • Helmintosporiose
  • Mancha amarela
  • Nanismo amarelo da cevada
  • Giberela
  • Brusone
  • Mal-do-pé
  • Podridão comum de raízes

No entanto, a ocorrência e a intensidade de cada doença podem variar conforme a região produtora, o ano agrícola, dentre outros aspectos.

Ou seja, os prejuízos decorrentes dessas doenças na lavoura não são sempre os mesmos. Cada safra é uma safra!

Para que as doenças ocorram é necessário a interação do patógeno, hospedeiro e ambiente, conhecido como “Triângulo da Doença” (Amorim e colaboradores, 2018).

Em outras palavras, a doença ocorrerá se existir patógeno na área, cultivar suscetível e condições ambientais favoráveis.

Isso pode ser exemplificado, principalmente, pela incidência de brusone e giberela que têm causado enormes preocupações à produção de trigo.

Doenças da espiga: Brusone e Giberela

Essas duas doenças fúngicas que causam danos às espigas do trigo são consideradas de difícil controle.

E, por isso, podem causar enorme impacto na produção!

As perdas variam conforme o cultivar utilizado, os fatores climáticos na região do cultivo e as estratégias de controle adotadas.

Podem até gerar dúvidas na hora de serem reconhecidas em campo, mas são causadas por patógenos diferentes e, por isso, é tão importante acertar na hora da identificação.

Brusone

Foi relatada a primeira vez em trigo no Brasil, em 1985, no Paraná e, a partir daí, já foi encontrada em SP, MS, RS e GO.

É causada pelo patógeno Magnaporthe grisea, fase assexuada Pyricularia grisea.

Pode atacar todas as partes aéreas das plantas, desde os estágios iniciais de desenvolvimento até a fase final de produção de grãos.

No entanto, quando ocorrem nas espigas representa a forma mais destrutiva dessa doença. 

Isso porque, no ponto de infecção do fungo, ocorre um estreitamento da espiga, o que impede a passagem dos nutrientes para os grãos. 

Os prejuízos aparecem na perda de rendimento, com redução no peso dos grãos e maior número de espiguetas vazias.

Principais sintomas da brusone em trigo: na folha (A), nas espiguetas (B e C) e suas consequências nos grãos oriundos da parte sadia (D) e da parte afetada (E). (Fonte: Adaptado de Lima (2004), Bacaltchuck e colaboradores (2006) e Torres e colaboradores (2009))

Giberela ou fusariose

No Brasil, o primeiro relato em trigo foi em meados de 1940, no Rio Grande do Sul.

É causada pelo fungo Gibberella zeae, fase assexuada Fusarium graminearum.

Também é altamente influenciada pelas condições ambientais! E pode ocorrer a partir do espigamento até o enchimento dos grãos.

Além da drástica redução de rendimento, compromete a qualidade dos grãos, e atrapalha não só na comercialização interna, mas também na externa do trigo!

Esse fungo produz micotoxinas, substâncias altamente tóxicas (por exemplo, a deoxinivalenol – DON).

Principais sintomas da giberela em trigo: espiguetas afetadas e aristas com desvio em relação às sadias (a) espiguetas afetadas em trigo mútico (b) pedúnculo marrom-escuro (c), toda a espiga afetada (d), grãos de cor verde (e) e rosa (f), ambos enrugados, esbranquiçados e chochos. (Fonte: Lima (2017)).

Estratégias de controle para Brusone e Giberela

Brusone

Temperaturas elevadas (entre 24 ºC e 28 ºC) com alta umidade relativa (chuvas, irrigação ou orvalho) na fase de espigamento são agravantes para a infecção.

Isso porque, essas condições possibilitam a penetração do patógeno nas plantas!

Portanto, é fundamental adotar as seguintes estratégias para manejo da Brusone:

  • Utilizar cultivares mais tolerantes à doença (a severidade e os danos variam conforme os cultivares);
  • Controle químico: monitorar as condições climáticas e se forem favoráveis à infecção do patógeno, a espiga deve ser protegida preventivamente;
  • Atraso na época de semeadura (conforme a região);
  • Reduzir a irrigação quando o trigo estiver no espigamento e ocorrer temperaturas elevadas;
  • Usar sementes sadias e tratadas com fungicidas registrados;
  • Rotação de cultura: esse fungo pode sobreviver em plantas hospedeiras (por exemplo: arroz, milho, milheto e plantas daninhas) e em restos culturais.

Giberela

A infecção ocorre com temperaturas em torno de 20º a 25ºC com períodos contínuos de molhamento, maiores que 48 horas.

Essas condições possibilitam que os esporos presentes no ar se depositem nas anteras e germinem, colonizando a espiga.

Portanto, é muito importante realizar a combinação das seguintes estratégias para o manejo da Giberela:

  • Utilizar cultivares moderadamente resistentes, visto que ainda não existem cultivares totalmente resistente;
  • Monitoramento das condições climáticas da área: imprescindível;
  • Controle químico: totalmente dependente do momento e da tecnologia de aplicação:
    • Aplicação preventiva de fungicidas registrados: se houver condições climáticas favoráveis à doença no espigamento;
    • Pontas direcionadas corretamente para o alvo da deposição;
  • Escalonamento da semeadura do trigo: para evitar o florescimento em período mais chuvoso e úmido;
  • Antecipar a semeadura: para que o florescimento ocorra em períodos menos favoráveis ao patógeno;
  • Cultivares com diferentes ciclos: visando o escape da doença.

Monitoramento das doenças de espiga

Inspecionar as plantas diariamente e monitorar as condições climáticas na lavoura, com toda a certeza, fazem parte da estratégia de manejo.

Deve-se verificar atentamente a presença de sinais (estruturas) dos patógenos, conforme mostra a figura abaixo.

Sinais da brusone: esporulação acinzentada (A e B) e da Giberela: macroconídeos cor de laranja/salmão (fase assexuada) (C) e peritécios (pontuações escuras – fase sexuada) (D) em espigas de trigo. (Fonte: Adaptado de Pereira (2013), Santana (2014) e Lima (2017))

As condições climáticas são determinantes para o progresso da giberela e da brusone.

Na região Sul do Brasil, por exemplo, quando se têm períodos mais secos o desenvolvimento da giberela não é favorecido.

Por outro lado, quando coincide o período de espigamento, na primavera, com temperaturas elevadas e períodos chuvosos, os riscos de epidemias de giberela são altíssimos.

Já nas regiões do MS, SP, Cerrado e no norte do Paraná, a brusone é responsável por grandes epidemias.

Excesso de chuvas, principalmente durante o espigamento, é crucial para ocorrência de brusone na safra. 

Para auxiliar nesse manejo, você pode acessar o SISALERT, bem como obter os dados climáticos específicos de suas áreas de cultivo.

Dessa forma, torna-se indispensável acompanhar os fatores e os elementos climáticos da região de cultivo. E você, produtor, pode fazer isso a partir das soluções da BoosterAgro clicando aqui.

No aplicativo da Booster é possível monitorar as condições de chuvas, umidade relativa do ar, temperaturas máxima e mínima e a velocidade do vento. Além disso, o app também indica se estas condições são ideais ou não para realizar as pulverizações.

Conclusão

Nesse artigo você conheceu sobre a importância da brusone e giberela em trigo, denominadas, também, como doenças de espigas.

Viu que podem comprometer a produtividade e a qualidade dos grãos da lavoura, sendo doenças de difícil controle.

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Além disso, percebeu que são altamente influenciadas pelas condições climáticas na região do cultivo, podendo variar conforme a safra.

Dessa forma, o manejo deve ser composto por diferentes estratégias, não somente a adoção de uma única medida para o controle eficiente desses patógenos.


Referências

AMORIM, L.; REZENDE, J. A.; BERGAMIN-FILHO, A. Manual de fitopatologia: princípios e conceitos. v. 1, 5ª ed São Paulo: Agronômica Ceres, 2018, 573 p.

FEEKES, W. De tarwe en haar milieu [Wheat and its environment]. Verslagen van de Technische Tarwe Commissie, v. 17, p. 523-888, 1941.

ZADOKS J.C.; CHANG, T.T.; KONZAK, C.F. Decimal code for growth stages of cereals. Weed Research, v.14, p. 415-421, 1974.

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