Pós-colheita e armazenamento de milho: saiba os cuidados com as boas práticas na pré e pós-colheita para evitar perdas
A cultura do milho vem passando por diversos entraves nas últimas safras, marcadas pela falta de chuvas que reduziram a oferta do grão no mercado interno e externo em 23% na safra 2020/21.
Com as perspectivas favoráveis à cultura e os preços atrativos, a estimativa é de que haja um crescimento de 3% no total da área plantada na safra 21/22.
Além disso, nos últimos doze meses, foi possível observar aumentos de mais de 100% no valor comercializável do grão, impactando assim, na redução do cultivo de outras culturas, como o algodão na região central do Brasil, para implantação do milho.
Diante deste cenário favorável ao cultivo do milho, é importante estar atento aos fatores que podem reduzir a qualidade dos grãos colhidos logo após a colheita e durante o armazenamento.
Fatores como umidade ou teor de água nos grãos para a colheita, armazenamento em condições de umidade e temperaturas adequadas são muito importantes para que não ocorram perdas.
Confira a seguir, as perspectivas da produção e do mercado do milho na safra 21/22, e as boas práticas na pré e pós-colheita para evitar perdas de qualidade, e de valor comercializável do grão!
A cultura do milho tem importância econômica relevante no Brasil e no mundo, especialmente devido ao seu uso na indústria alimentícia, na fabricação de rações e na produção de etanol.
No Brasil, 65% da produção é destinada à alimentação animal, principalmente para a produção de proteínas, como a de frango e suína, o que o tornou um dos maiores fornecedores para os países asiáticos e do Oriente Médio.
A demanda também deve aumentar, com estimativa de crescimento interno de 3,9% superior à safra anterior.
A exportação da safra 2022 deve ser 66% superior à safra 2020/2021, correspondendo a 39 milhões de toneladas.
Devido às estimativas de aumento da demanda de milho para produção de etanol e alimentação animal, a estimativa é de que o consumo será 4% superior à safra anterior.
O plantio da cultura será estimulado ainda pelos preços atrativos, sendo a área mundial cultivada de 199 bilhões de hectares.
Mas, embora as perspectivas favoráveis estimadas pelas CONAB, os produtores devem estar atentos, pois existe possibilidade de formação do fenômeno La Niña, que em safras anteriores provou quedas significativas da produtividade da cultura (superior a 2 mil kg/hectare).
Além disso, fatores de risco como alteração inesperada do câmbio brasileiro, com desvalorização do dólar em relação ao real, aumento no custo de insumos e surgimento de novas pragas ou infestações de pragas conhecidas podem frustrar as estimativas projetadas.
De acordo com a agência climática do governo norte-americano, NOAA, para o trimestre de setembro a novembro há 55% de probabilidade de La Niña, com períodos de seca, o que impacta diretamente nos cultivos.
Diante disso, para este verão, a probabilidade é de 60% de chances de ocorrência, cenário que já deixa os produtores em alerta para a próxima safra.
Para a cultura do milho, os períodos de estiagem, provocados pela falta de chuvas, reduziram a produtividade da cultura na safra 2019/2020 em 30%, representando 2.267 kg de grãos por hectare inferior.
Mas, além da restrição hídrica, outros fatores podem reduzir a qualidade dos grãos, o preço de comercialização e a conservação destes durante o armazenamento.
Então, confira a seguir as boas práticas que se deve adotar para evitar perdas ainda maiores na sua lavoura!
Estima-se que da produção nacional de milho, 30 a 40% seja armazenado nas propriedades rurais, em grãos debulhados ou em espiga. Dessa forma, cuidados na pré e pós-colheita do grão devem ser tomados.
Isso porque, as práticas inadequadas de manejo na lavoura na pré e pós-colheita podem provocar perdas diretas: como a redução do peso dos grãos e a qualidade nutricional (devido consumo de matéria seca e respiração dos grãos, quando expostos a temperaturas e umidade altas).
Nas condições descritas acima, também pode acontecer a contaminação por fungos produtores de micotoxinas, que podem intoxicar o homem e os animais.
Além disso, os insetos também são considerados um dos principais fatores de perdas durante o armazenamento do milho. Pois, provocam a redução do peso e da qualidade dos grãos, favorecendo o aquecimento da massa de grãos e o desenvolvimento de fungos pelas aberturas provocadas nos grãos.
O período de pré-colheita é importante para a qualidade dos grãos colhidos e deve ser monitorado a campo. O acompanhamento da umidade ou teor de água dos grãos a campo determinará se os grãos estão prontos para a colheita.
Assim, quando as estruturas de secagem estão disponíveis, pode-se colher os grãos de milho com teor de água mais elevado, de 18 a 24%.
Caso contrário, deve-se deixar os grãos para secar em campo até teor de água próximo a 13%.
No entanto, vale lembrar que na secagem a campo, os grãos permanecem expostos a condições climáticas adversas, como umidade e temperatura elevadas, o que pode causar a deterioração acelerada do produto.
Para monitorar o teor de umidade antes da colheita, é preciso retirar amostras de grãos de talhões homogêneos. Assim:
Outra forma de determinar a umidade é pela diferença de peso dos grãos, alocando a amostra em silo secador, sempre deixando as amostras esfriarem nos sacos plásticos abertos, para que os grãos não absorvam novamente a água.
Abaixo, confira o percentual de umidade de alguns grãos em relação à colheita e ao armazenamento seguro:
Para o milho, o ponto de colheita ideal é o da maturidade fisiológica, que pode ser identificado através da “camada negra” no ponto de inserção do grão com o sabugo.
No entanto, nesta fase, a umidade do grão encontra-se próximo a 25%. E, se o produtor não contar com estruturas de secagem disponíveis, não é recomendável que se faça a colheita.
A exposição dos grãos à umidade, chuvas, temperaturas altas, insetos e microrganismos, pode reduzir a qualidade, o valor de comercialização e produtividade da cultura.
Além disso, no procedimento de classificação oficial dos grãos, se houver presença de mofo e grãos ardidos acima dos limites de tolerância, a carga será desclassificada e a comercialização proibida.
Confira abaixo os limites máximos de tolerância expressos em percentual (%)
Defeitos considerados graves e são desencadeados, principalmente, por temperatura e umidade acima do recomendado.
Quando os grãos estão muito úmidos, ocorre maior porcentagem de esmagamentos, exigindo ainda que os grãos passem pela secagem posterior. Além disso, exigem secagem imediata.
A depender da temperatura de secagem, pode ocorrer maior porcentagem de quebra de grãos durante o armazenamento.
Quando os grãos estão secos demais (vindos do campo), ocorre maior porcentagem de grãos quebrados ou trincados. Assim, é preciso fazer a regulagem nas máquinas (colhedoras e de beneficiamento).
A velocidade de colheita também não deve ser alta, a ideal é 4 km/h. Isso porque, velocidades de 6 km/h já provocam alguns danos dos grãos, dependendo da umidade em que se encontram.
É possível armazenar o milho em espiga e em silos a granel. Para ambas as formas de armazenagem é preciso tomar alguns cuidados, por exemplo:
Atenção, no caso da secagem dos grãos de milho, quanto maior for a umidade ou teor de água dos grãos, menor deve ser a temperatura de início desta operação. Isto porque, a perda rápida de água provoca danos e menor capacidade de tempo de armazenamento.
Veja, a seguir, a temperatura de secagem de grãos e sementes no secador de leito fixo:
A temperatura, umidade relativa do ar e teor de água dos grãos são fatores chaves no armazenamento e na qualidade final dos grãos.
Dessa forma, é preciso adotar práticas que visem expor os grãos por menos tempo possível a temperaturas desfavoráveis (altas) e umidade relativa do ar alta.
Controle da temperatura e umidade: prover boa circulação de ar no ambiente e armazenar os grãos com teores baixos de água, de 9 a 11%.
Para grãos armazenados em silos e com secagem com ar natural, a umidade relativa do ar externa deve ser monitorada. Pois, em casos de aquecimento da massa de grãos e umidade relativa externa alta, a inserção de ar externo para a massa de grãos pode promover ainda o aumento do teor de água dos grãos.
Quando ocorre o aquecimento em silos, é possível utilizar a aeração do silo com ar natural para reduzir a temperatura da massa de grãos e o teor de água.
Outras medidas a se adotar, em casos mais específicos, são: a retirada e introdução dos grãos, novamente, no mesmo silo; ou, a passagem dos grãos de um silo para o outro.
O movimento dos grãos faz com que a massa de grãos resfrie, controlando assim o aquecimento.
É importante conhecer as perspectivas da produção das culturas de interesse e serão cultivadas na sua propriedade, pois assim, será possível entender quais os comportamentos esperados pelo mercado e as previsões meteorológicas de temperatura e precipitações.
Além disso, para bons resultados econômicos e produção de grãos de qualidade, boas práticas na pré e pós-colheita do milho são necessárias, como monitoramento da lavoura quanto a pragas e doenças, especialmente aquelas que atacam as espigas.
O teor de água dos grãos para colheita também deve ser observado. Se a colheita for realizada em teores de água dos grãos muito altos e estruturas de secagem não estiverem disponíveis no momento, ou ocorrer demora para a secagem dos grãos, perdas significativas vão ocorrer.
A água presente nos grãos favorece o desenvolvimento de microrganismos, especialmente os fungos, que causam deterioração dos grãos e também podem produzir micotoxinas, prejudiciais à saúde humana e animal, além de causar deterioração rápida dos grãos e diminuir o seu valor de comercialização.
Engenheira Agrônoma (UFFS), Mestra em Fitossanidade pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), com área de concentração fitopatologia. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) na área de sanidade vegetal e pós-colheita. Tem experiência nas áreas de fitopatologia, controle de doenças de plantas, grandes culturas, pós-colheita de grãos e sementes e agricultura de precisão.
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