O controle dos custos de produção possibilita aumentar a lucratividade da fazenda tomando as decisões corretas e de forma mais eficiente
A sua fazenda atualmente está operando no azul ou no vermelho? E os anos passados, como foram? Apresenta boa margem de lucro? Quais as perspectivas para o futuro?
Ter respostas para essas perguntas é fundamental para que se tenha uma fazenda com um financeiro saudável.
É normal que os números variem a cada ano, sobretudo para os produtores de commodities agrícolas, como soja, milho e outros grãos.
Isso ocorre por vários fatores, como, por exemplo, a relação entre oferta e demanda, a variação no dólar, nos insumos agrícolas, custo de energia elétrica, combustíveis e inflação, tal como vimos em outro artigo.
No entanto, ter o conhecimento e o controle dos custos ajudará na previsibilidade da receita.
Quais são os tipos de custos de produção?
Os custos referem-se aos gastos inerentes à produção de um determinado produto ou serviço. Eles fazem parte de qualquer empresa, seja ela ligado ao agro ou não.
O Custo de Produção (CP) é calculado pela seguinte fórmula:
Onde:
CP = Custo de Produção, em R$/unidade;
CT = Custo Total, em R$;
TP = Total Produzido, em unidade (ex: saca, caixa etc.);
O “Custo Total”, por sua vez, corresponde à soma dos Custos Fixos e os Custos Variáveis.
- Os Custos Fixos são aqueles que são recorrentes a cada mês, ou seja, independem da produção. Como por exemplo: os salários dos funcionários; os aluguéis; as contas de telefone e serviços de limpeza e segurança etc.
- Os Custos Variáveis são aqueles que variam conforme a produção, tais como: matéria-prima, combustível, mão de obra temporária etc. Note que quanto maior for a produção, mais desses elementos serão necessários (energia elétrica e água também podem ser considerados variáveis, caso sua produção dependa delas).
Vale ressaltar uma observação: custo é diferente de despesa!
Isso porque, os custos referem-se aos gastos para produzir o produto/serviço (como a matéria-prima). Já as despesas são os gastos administrativas, não estando relacionadas com o produto final, como por exemplo materiais para escritório etc.
Como organizar uma planilha de custos de produção?
Você pode organizar seus custos numa planilha, fazendo um fluxo de caixa, com entradas e saídas.
Em resumo, a diferença entre entradas e saídas originará a margem e, a partir desta, é possível prever o lucro da atividade.
É importante que tenha separado os gastos da fazenda com os gastos familiares, embora, em alguns casos, seja a própria família quem gerencie a área. Isso facilita a organização das informações para a tomada de decisão mais assertiva.
Algumas variáveis que podem constar em sua planilha de custos são:
- Safra (2021/22);
- Data (dia/mês/ano);
- Cultura (soja, milho, trigo, algodão etc.);
- Atividade (preparo de solo, plantio, adubação etc.);
- Tamanho da área (ha);
- Tipo de insumo utilizado (semente, fertilizante, defensivo etc.);
- Preço (custo de aplicação);
- Maquinário (custo da hora-máquina e o tempo de uso)
É válido que este controle seja feito constantemente, de modo a ter um histórico de produção, permitindo comparações e análises futuras para o estabelecimento de novas metas.
Perceba que ao final da colheita você poderá fazer diversos filtros em sua planilha para obter o custo de qualquer atividade.
E se você fizer isso tenha certeza que estará à frente de muitos produtores, que cultivam há anos, mas nem sempre sabem se estão no azul.
Fique de olho: Manutenção, depreciação, inflação e taxa de juros!
Pode parecer simples organizar uma planilha de custos, mas muitos produtores acabam esquecendo de fatores importantes que podem ficar “invisíveis” na hora da tabulação.
Estamos nos referindo aos custos de manutenção e depreciação das máquinas, implementos agrícolas e benfeitorias! Isso significa que a cada ano que passa eles “valem menos”.
Manutenção e depreciação
Por exemplo, se um trator for comprado ao preço de R$ 200 mil, considerando uma depreciação de 10% a.a. (ao ano), ao final do primeiro ano ele valerá R$ 180 mil e esses R$ 20 mil de diferença devem entrar na planilha de custos.
Temos dois tipos de depreciação: fiscal e gerencial.
- Fiscal: o valor da máquina ou implemento será descontado até chegar a zero;
- Gerencial: o valor da máquina ou implemento será descontado até sua venda futura (“resíduo”), que costuma corresponder a cerca de 20% a 25% do valor original.
Se tomarmos como exemplo o trator citado anteriormente (R$ 200 mil), temos:
1. Depreciação fiscal
A depreciação fiscal para um tempo de uso estimado em 10 anos (equivalente a 120 meses). Ou seja,
- R$ 200 mil / 120 meses = R$ 1.666,67 por mês.
- Isso significa que cada mês que passa ele tem uma desvalorização de R$ 1.666,67, sendo que ao final de 10 anos o seu valor será zero.
2. Depreciação gerencial
Já na depreciação gerencial, supondo que o produtor irá vender o trator pelo valor de R$ 140 mil após 5 anos de uso (equivalente a 60 meses) e deseja saber se será ou não um bom negócio:
- R$ 140 mil / 60 meses = R$ 2.333,33 por mês.
- Isso significa que, neste caso, compensaria vender o trator para comprar um novo, pois R$ 2.333,33 é maior do que R$ 1.666,67.
Em outras palavras, neste caso, o produtor estaria “economizando” R$ 666,67 por mês (e com um trator novo na fazenda).
Sabemos que a mecanização agrícola apresenta uma maior eficiência em campo, com ganhos de escala, economia de recursos e redução da mão de obra, algo cada vez mais difícil de encontrar.
Por consequência, essa eficiência pode traduzir-se numa parte considerável do custo de produção, podendo chegar até 50%, dependendo da cultura, exigindo que o produtor faça contas para analisar a viabilidade em terceirizar uma operação ou optar por uma nova máquina.
Segundo dados da ABIMAQ, aproximadamente 50% das máquinas agrícolas em uso no Brasil possuem mais de 10 anos de uso.
Isso demonstra um mercado com potencial de crescimento, tendo em vista a necessidade de modernização da frota para melhores resultados na fazenda, conforme preconizou Marchesan, Presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ.
Inflação e Taxa de Juros
Além disso, é válido comentarmos sobre a inflação e taxa de juros.
Conforme a definição do Banco Central do Brasil, “Inflação é o aumento dos preços de bens e serviços. Ela implica diminuição do poder de compra da moeda”, sendo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) o utilizado nas metas para a inflação. Atualmente, a inflação está próxima a 10% ao ano.
Em outras palavras, isso significa que a cada ano o poder de compra é diminuído em, aproximadamente, 10%.
Quanto à taxa de juros, atualmente a SELIC está em 9,25% a.a. Assim, quanto maior é essa taxa, mais difícil são os financiamentos e, logo, mais arriscado se torna o negócio.
É o chamado “Custo de Oportunidade”, utilizado para fazer escolhas entre duas ou mais opções, ou seja, “ver o que compensa mais”, se é investindo o capital no próprio negócio ou em outra atividade (como títulos de renda fixa, por exemplo).
Para que serve o custo de oportunidade?
O Custo de Oportunidade está diretamente relacionado à viabilidade de qualquer projeto. Tomemos como exemplo novamente a aquisição do trator de R$ 200 mil.
Se ele for comprado e subutilizado na fazenda (operando apenas 6 meses ao ano), o nosso “custo de oportunidade” pode revelar ter sido um negócio ruim.
Nesse caso, pode ser que a terceirização da atividade seja mais viável, visto que os outros 6 meses ele continuaria apresentando os gastos.
Perceba que os juros pagos no financiamento da máquina poderão ser maiores que os possíveis lucros que ele irá gerar à fazenda.
Além disso, se a compra fosse à vista, ainda assim pode não ser vantajoso, pois o “Custo de Oportunidade” seria comparado à atratividade dos títulos de renda fixa (atrelados ao CDI e à Selic).
Enfim, são várias possibilidades e números que devem ser analisados antes da tomada de decisão da compra ou venda de algo.
Conclusão
Em resumo, ficou claro o quão importante é saber os números da fazenda.
Seja numa folha de papel, numa planilha do Excel ou, ainda, em algum aplicativo de celular, é importante ter o controle dos custos da fazenda.
Dessa forma, será possível perceber a porcentagem que cada insumo agrícola possui na composição dos custos, identificando onde estão os pontos-chaves para aumentar sua lucratividade.
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