Cultivo

Culturas de inverno: como escolher a cobertura ideal?

Entenda a importância da cobertura de solo no inverno e os seus benefícios, e saiba quais culturas de inverno são mais indicadas para a sua lavoura

Manter o solo coberto no inverno é a forma mais eficiente de preparar a sua área para a safra de verão! 

Vale lembrar que, o incremento significativo de palhada no solo com o uso de coberturas, é uma ótima maneira de manter o solo fértil, além de trazer outros benefícios que você vai conhecer neste texto.

Mesmo assim, ainda há produtores que, em muitos casos, não fazem um planejamento adequado para a implementação das culturas de cobertura, deixando essa decisão para a última hora e acabam por não fazer uma preparação adequada da base para os próximos cultivos de verão.

Quer aprender a planejar o cultivo de cobertura de inverno da sua lavoura? Então, continue a leitura!

Culturas de inverno e a importância de se fazer a cobertura de solo nesta época

É importante destacar que, o Sistema de Plantio Direto (SPD) – muito utilizado no cultivo de grãos – só tem eficiência quando é feita, de forma adequada, a rotação de culturas. 

Inclusive, o manejo inadequado do Sistema de Plantio Direto – com predomínio do cultivo de cereais e oleaginosas – já trouxe problemas à muitas lavouras, como: solos compactados, uso excessivo de fertilizantes e até erosão. 

Portanto, manter o solo sempre coberto tem como finalidade proteger este solo.

Assim, utilizar a rotação de culturas significa:

  • melhorar a qualidade do solo;
  • reduzir a incidência de doenças, pragas e daninhas;
  • diversificar o sistema produtivo;
  • maiores chances de aumento na produtividade;
  • reduzir custos;
  • e até mesmo recuperar solos degradados.

Este último aspecto é muito importante, pois, com o passar dos anos, o monocultivo de soja ou milho, seguido do cultivo de trigo, pode acabar gerando um impacto negativo na produtividade das culturas

Isso porque, dentre outros prejuízos, esse monocultivo favorece a permanência de fitopatógenos (doenças que atacam as culturas) que sobrevivem nos restos culturais.

Por isso, o uso de uma cultura de cobertura é tão importante, pois culturas de cobertura diferentes permitem eliminar o substrato (restos culturais) onde eles sobrevivem, reduzindo, assim, a presença de doenças na área.

Além dos benefícios para o solo e melhoria da sanidade da área, as plantas de cobertura absorvem nutrientes e os liberam para o solo ao se decompor, aumentando o teor de matéria orgânica neste solo, o que pode ajudar a reduzir os custos com fertilizantes e maximizar a produtividade das próximas culturas.

Quais as culturas usar para cobrir o solo no inverno?

Cada espécie de planta de cobertura possui características específicas, tanto no que se refere ao ciclo e crescimento, quanto à decomposição, liberação de nutrientes e quantidade de matéria orgânica produzida.

A seguir, veja uma lista com algumas das principais espécies que podem ser utilizadas na cobertura de inverno:

  • Aveia-preta (Avena strigosa): gramínea com rápida cobertura do solo; que auxilia na redução de patógenos e nematóides, no controle de plantas daninhas, além de reciclar nutrientes.
  • Azevém (Lolium multiflorum): gramínea com alta rusticidade e capacidade de perfilhamento, fornecendo excelente cobertura de solo, porém com crescimento inicial mais lento do que a aveia;
  • Centeio (Secale cereale): gramínea com bastante rusticidade, boa adaptação à solos arenosos e maior tolerância ao frio do que algumas culturas, como a aveia.
  • Ervilhaca (Vicia sativa): leguminosa com raízes profundas e ramificadas, bom crescimento e eficiência na cobertura do solo, ciclo longo e alta produção de matéria seca. Por ser uma leguminosa, é ótima para a fixação biológica de nitrogênio (N).
  • Nabo forrageiro (Raphanus sativus): planta com sistema radicular pivotante e profundo com alta produção de matéria seca; é uma excelente em reciclar nutrientes, pois seu sistema radicular consegue penetrar em profundidade no solo.

Além destas, que são as culturas mais amplamente utilizadas, outras espécies são cultivadas em menor escala, em função do custo ou da menor oferta de sementes. Como, por exemplo:

  • Tremoço (Lupinus spp.);
  • Ervilha-forrageira (Vicia sativa);
  • Trevo-encarnado (Trifolium incarnatum);
  • Trevo-vesiculoso (Trifolium vesiculosum).

Cuidados no uso de culturas de inverno

Vale lembrar que algumas espécies, como o nabo forrageiro, devem ser manejadas adequadamente para não se tornarem uma planta daninha. 

Dessa forma, é importante realizar o manejo antes da maturação das sementes.

Além disso, no caso de leguminosas, é importante observar se estas não são hospedeiros a determinadas doenças que ocorrem na soja, por exemplo.

Como a cultura carro chefe é a soja (uma leguminosa), realizar a rotação de culturas com outras leguminosas pode aumentar a presença de inóculo (quantidade de patógenos que causam doença), na área de cultivo.

Além disso, as plantas de cobertura podem ser cultivadas: de forma isolada; ou em consórcio, ou seja, com duas, três ou mais espécies, principalmente plantas gramíneas e leguminosas – como, por exemplo, o consórcio com aveia-preta + ervilhaca ou então azevém + ervilhaca. 

Inclusive, o uso de consórcios é muito benéfico para a lavoura, pois, além de contribuir para melhorar as propriedades físicas do solo (agregação e estruturação), proporciona um maior equilíbrio e acúmulo de carbono no perfil do solo ao longo do tempo.

De qualquer forma, a escolha da cultura ou das culturas para compor a cobertura de inverno deve levar em consideração alguns aspectos. 

Então, vejamos os principais pontos a serem considerados a seguir.

Quais características levar em conta na hora de escolher uma cultura de inverno?

Levando em conta que um dos principais benefícios da utilização de cobertura se refere ao incremento de matéria orgânica no solo, é importante escolher plantas com alto potencial de produzir palhada.

A palhada também está relacionada com a redução dos riscos de perdas por estiagem no cultivo de verão, destacando a importância em escolher plantas que proporcionem completa cobertura do solo com palhada para sua proteção nos períodos de estiagem.

Portanto, plantas com maior potencial para as condições locais geralmente apresentam:

  • desenvolvimento rápido;
  • alta rusticidade;
  • e grande produção de matéria seca radicular e da parte aérea.

A soja, principal cultivo de verão, deixa um residual aproximado de 3,5 toneladas de raízes e palha. No entanto, o volume ideal para um solo fértil seria entre 8 a 12 toneladas de material orgânico. Assim, é bastante óbvia a necessidade de incrementar!

Neste sentido, vejamos a capacidade de produção de matéria seca de algumas espécies:

Características para ficar de olho nas culturas de inverno

A utilização de cobertura no solo também auxilia no manejo de plantas daninhas, pois, em áreas de pousio, as invasoras crescem livremente e produzem sementes que  irão compor o chamado banco de sementes, responsável pelas infestações nos cultivos seguintes.

Também é interessante a escolha de espécies que tenham uma boa cobertura do solo, pois, ao assim evitam o crescimento das plantas daninhas em espaços de solo descobertos, contribuindo para reduzir o banco de sementes de invasoras que fica depositado no solo.

Além disso, é importante optar por espécies que toleram períodos de inverno rigorosos. 

A geada afeta praticamente todas as culturas, porém, algumas espécies ou variedades apresentam menos danos se comparadas a outras.

Por fim, um aspecto que vale ser considerado, é a escolha de espécies que sejam de fácil manejo da camada da palha formada, não causando dificuldades operacionais à semeadura no cultivo seguinte.

Veja, abaixo, um comparativo entre duas culturas utilizadas como cobertura de solo e sua capacidade de crescimento mesmo em condições não ideais (déficit hídrico).

Exemplos de crescimento de culturas de inverno (Fonte: Embrapa Trigo)

Quais benefícios a cobertura pode trazer?

A cobertura de solo com culturas de inverno podem trazer vários benefícios, diretos e/ou indiretos para a lavoura. Então, veja a seguir:

  1. Colaboram para o manejo sustentável do solo;
  2. Melhora nos aspectos físicos (estruturação, por exemplo), biológicos e químicos do solo;
  3. Potencial de adubação verde;
  4. Incremento da produção de matéria seca, da parte aérea e radicular;
  5. Acúmulo e reciclagem de nutrientes no solo;
  6. Proteção do solo e até controle da erosão;
  7. Contribuem para a redução do uso de fertilizantes nitrogenados, através de espécies leguminosas que, além de ciclar o nitrogênio (N) disponível no solo, utilizam o nitrogênio atmosférico (N2) por meio da associação com bactérias fixadoras;
  8. Incremento de carbono;
  9. Controle de plantas daninhas;
  10. Redução dos riscos com estiagem no verão em função do maior volume de palha.
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Conclusão

Em resumo, o uso de coberturas de inverno em áreas agrícolas pode ser uma grande aliada no manejo sustentável do solo.

Isso porque, essa medida pode ajudar na melhoria de características do solo, por exemplo, reduzindo a compactação e aumentando a capacidade de infiltração de água no solo – devido o uso de diferentes plantas com diferentes sistemas radiculares que exploram o solo maneiras distintas –, além de ajudar no incremento de nutrientes no solo, quando se decompõe.

Além disso, as culturas de cobertura podem auxiliar também no controle de plantas daninhas.

Diversas espécies de plantas, entre leguminosas e gramíneas, principalmente, estão disponíveis, cabe ao produtor (junto a algum profissional de agronomia) avaliar qual a mais adequada para a sua lavoura levando em conta: as condições do seu solo, o histórico de ocorrência de doenças na área etc.


Leia também: Estrutura do Solo: o que é e como conservá-la? e Adubação Verde: Conheça 10 benefícios

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