Conheça as 3 principais doenças da cultura do milho durante a maturação fisiológica. E entenda como elas podem impactar na produtividade da sua lavoura e na comercialização dos grãos. E fique por dentro de estratégias de manejo podem te auxiliar a evitar perdas.
Diversas pragas e doenças podem ocorrer durante o ciclo de desenvolvimento da cultura do milho, em diferentes estágios fenológicos, incluindo vegetativo e reprodutivo, com potencial de reduzir significativamente a produtividade da cultura em até 80% .
Desta forma, medidas de controle devem ser tomadas antes mesmo da implantação da cultura.
Entenda, a seguir, quais as principais doenças da cultura do milho que ocorrem durante a maturação fisiológica da cultura e como identificá-las. Além disso, saiba também como realizar o seu monitoramento e controle.
Embora diversas doenças possam ocorrer na cultura do milho, em diferentes estádios fenológicos, neste artigo, falaremos daquelas que merecem maior atenção durante a fase de maturação.
Mas primeiro, precisamos entender as diferenças entre a maturação fisiológica e a maturidade fisiológica.
A maturação fisiológica, envolve todo o período após a polinização até quando as sementes alcançam a maturidade fisiológica (correspondente ao estádio R6), ou seja, quando é interrompida a transferência de nutrientes da planta para a semente.
De acordo com o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – Esalq/USP), para a cultura do milho na temporada 2016/2017 (primeira e segunda safra), o custo dos produtores no uso de fungicidas e inseticidas para o controle de pragas e doenças foi de 2,7 bilhões de reais, correspondendo a 5,74% do custo de produção.
Para mostrar a importância disso, o não controle da lagarta Spodoptera, por exemplo, pode levar a perdas de produtividade de até 40%, causando menor oferta, elevando o preço do grão no mercado interno em mais de 13%. E isso pode ainda impactar em outras cadeias, podendo elevar o preço do leite em 4,4% (aumentos nos preços da carne, rações etc.).
Fonte: MAGALHÃES; DURÃES, 2006.
Embora as doenças que atacam a cultura em fases iniciais e antes do estádio reprodutivo tenham potencial de dano, por diminuírem a área fotossinteticamente ativa (folhas da cultura), aquelas que ocorrem nas fases reprodutivas merecem atenção especial.
As folhas acima da espiga são importantes para a fase de enchimento dos grãos, sendo o controle de doenças foliares essencial para o aporte necessário de nutrientes nesta fase.
Na fase reprodutiva, a planta concentra toda a sua energia para o enchimento dos grãos, e a ocorrência de doenças neste período mais suscetível, pode reduzir não só a produtividade, mas também a qualidade do produto colhido, especialmente quando falamos de micotoxinas.
Os fungos produzem substâncias tóxicas, chamadas de micotoxinas, que podem causar efeito tóxico em animais e humanos e até levar à morte.
Desta forma, a colheita de um produto de baixa qualidade interfere não somente na alimentação animal, que também será de baixa qualidade, mas também no armazenamento dos grãos a longo prazo.
Dentre os principais fungos que acometem a cultura, temos os fungos de campo, como Stenocarpella maydis e S. macrospora, Fusarium spp., Acremonium strictum (Cephalosporium acremonium), e de armazenamento como Aspergillus spp., Penicillium spp.
Estes últimos, causam danos durante o armazenamento, principalmente, quando os grãos são colhidos e/ou armazenados com teor de água (umidade) acima do recomendado para esta operação (11 %).
O manejo e controle das doenças que ocorrem na espiga, é essencial na produção de grãos de qualidade, uma vez que estes fungos têm potencial para a produção de micotoxinas e provocam danos (grãos ardidos e mofados), que reduzem o valor da comercialização do grão.
Grãos ardidos são aqueles têm coloração marrom em um quarto da sua superfície, por causa de um processo de podridão. Mas, essa coloração pode variar de marrom escuro, marrom claro, roxo, vermelho claro a vermelho escuro.
A classificação física do milho se baseia de acordo com a Instrução Normativa nº 60, de 22 de dezembro de 2011, e o defeito para classificação de grãos ardidos e mofados são considerados graves e podem desclassificar o lote.
Isso porque, lotes com presença de 5% de grãos ardidos são considerados fora de tipo, e tem seu valor comercial reduzido significativamente.
A seguir, você confere as principais doenças que ocorrem durante a maturação fisiológica da cultura do milho e que resultam em grãos ardidos.
Sintomas: os grãos infectados tornam-se leves, devido a paralisação do enchimento dos grãos, e adquirem coloração marrom. Além disso, as estruturas do patógeno se desenvolvem sobre os grãos (de coloração esbranquiçada), em condições de alta umidade.
Estádio fenológico de maior dano: ambos os patógenos causam também a podridão do colmo em plantas adultas. Mas podem causar danos significativos na fase de enchimento de grãos (especialmente entre R5 e R6), reduzindo a qualidade nutricional e produtividade da lavoura.
Além disso, estes patógenos produzem micotoxinas.
Condições climáticas favoráveis: Chuvas em excesso na fase de maturação dos grãos e temperaturas entre 28 e 30ºC. A doença pode ocorrer em todas as regiões de cultivo no Brasil, e pode ser destrutiva em regiões de alta precipitação pluviométrica, especialmente na região Sul do país.
Monitoramento e controle: para os testes de sanidade, realizados em laboratório para avaliação da qualidade sanitária das sementes, são necessários 14 dias para que os fungos sejam detectados.
O controle pode ser realizado através da rotação de culturas para diminuição do inóculo inicial do patógeno no solo, uma vez que o patógeno sobrevive em restos culturais.
Além disso, há também a opção de utilizar fungicidas.
Atualmente, existem sete produtos registrados no Sistema de Agrotóxicos Fitossanitário (AGROFIT) para controle, dos grupos químicos das estrobilurinas+benzimidazol, estrobilurina+benzimidazol+fenilpirrol+acilalaninato.
Sintomas: se apresentam isoladamente na espiga ou em grupos de grãos, a partir da mudança da coloração dos grãos para rosados. Além disso, pode se apresentar em estrias brancas características da doença. Espécies de Fusarium spp. podem causar ainda, a podridão do colmo e o tombamento de plântulas, nas fases iniciais e adultas da cultura.
Estádio fenológico de maior dano: maturação fisiológica da cultura.
Condições climáticas favoráveis: Favorecida em temperaturas entre 21 e 30ºC e por períodos de chuva em excesso durante a maturação dos grãos.
A doença pode ocorrer em todas as regiões produtoras, inclusive naquelas de clima quente e seco. Espécies como abacaxi, cana-de-açúcar, algodão, feijão, soja, trigo, arroz, pastagens, sorgo e floresta implantada são hospedeiras do fungo.
A doença pode estar associada a ocorrência de nematóides, que favorecem a infecção pelo fungo pelas aberturas provocadas no sistema radicular.
O patógeno sobrevive no solo, em restos culturais,e pode ser disseminado pelo vento, sementes contaminadas e implementos com solo aderido contaminado.
Monitoramento e controle: o monitoramento da doença a campo deve receber atenção especial durante a fase reprodutiva, mas o tratamento de sementes podem ser realizados para evitar a disseminação por sementes contaminadas.
Além disso, a rotação de culturas pode diminuir o inóculo da doença no solo. Outras recomendações são: usar cultivares resistentes; manter uma adubação equilibrada; e colher em época adequada, pois, manter as plantas no campo por longos períodos pode favorecer o patógeno.
O controle químico de Fusarium moniliforme, por sua vez, pode ser feito com os grupos químicos para aplicação terrestre, no caso dicarboximida.
Para o tratamento de sementes, de acordo com o AGROFIT, se recomendam os grupos químicos dos triazóis, fenilpirrol, triazolinthione, dimetilditiocarbamato, estrobilurina+benzimidazol, dentre outros.
Sintomas: eventualmente, pode ser confundida com Fusarium moniliforme ou F. subglutinans, porém se distingue de ambos, pois tem início a partir de uma massa cotonosa na ponta da espiga para a base. O fungo coloniza ainda a palha, que torna-se colada à espiga.
Estádio fenológico de maior dano: R5 e R6.
Condições climáticas favoráveis: mais comum em regiões de clima ameno e alta umidade relativa do ar, especialmente no Sul do Brasil. Além disso, chuvas em maior frequência no final do enchimento dos grãos aumentam a incidência da doença.
Monitoramento e controle: pode ser realizado através da rotação de culturas, uso de materiais genéticos tolerantes/resistentes e uso de fungicidas no tratamento de sementes, como os grupos químicos fenilpiridinilamina+benzimidazol.
Um bom controle de doenças tem início ainda no planejamento da lavoura. E para isso, é preciso analisar as condições climáticas previstas e durante o cultivo, uma vez que, a incidência de doenças pode aumentar em épocas mais secas ou chuvosas.
Além disso, em muitas situações a aplicação isolada de um método, como fungicidas, não serão eficientes no caso das doenças que atingem as espigas e causam podridões, dada a dificuldade de acesso do fungicida a estas partes da planta, sendo necessário adotar medidas conjuntas, tais como:
Além disso, estresses durante a fase de enchimento de grãos predispõe as plantas à ocorrência de podridões, por exemplo:
Ao longo deste artigo podemos entender qual o impacto das doenças na fase de maturação fisiológica da cultura do milho, e nos preços praticados no mercado, inclusive ao consumidor final.
Além disso, entendemos também a importância da combinação de diferentes métodos de controle, buscando realizar o manejo integrado de doenças.
Por fim, conhecemos os principais fungos causadores de podridões da espiga, Stenocarpella maydis e S. macrospora, Fusarium moniliforme, Fusarium subglutinans e Gibberella zeae (anamorfo Fusarium graminearum) e que resultam em grãos ardidos e mofados.
Assim, medidas como a rotação de culturas, planejamento da semeadura em janelas adequadas à região de cultivo, análise de estágios de desenvolvimento de lavouras vizinhas e até mesmo da incidência de pragas e doenças nas áreas de cultivo e em áreas próximas, podem auxiliar no planejamento e na tomada de decisão de quais controles podem ser empregados, reduzindo assim o potencial de dano e redução dos preços comercializáveis dos grãos.
Para estas doenças o tratamento de sementes e uso de materiais resistentes, aliado aos métodos anteriormente descritos são as formas mais eficientes de controle.
Engenheira Agrônoma (UFFS), Mestra em Fitossanidade pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), com área de concentração fitopatologia. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) na área de sanidade vegetal e pós-colheita. Tem experiência nas áreas de fitopatologia, controle de doenças de plantas, grandes culturas, pós-colheita de grãos e sementes e agricultura de precisão.
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