Conheça o padrão de evapotranspiração e precipitação no Brasil e sua relação com a disponibilidade hídrica, e entenda como isso afeta a agricultura
O abastecimento de água pela precipitação e a perda de água por evapotranspiração são os principais fatores para determinar a disponibilidade hídrica de uma região.
Como a disponibilidade adequada de água no solo é um dos fatores limitantes para uma boa produção agrícola, é fundamental conhecer o regime de chuva e evapotranspiração.
Assim, com essas informações em mãos é possível até verificar a necessidade de utilização de irrigação como alternativa para fornecer a quantidade de água necessária para manter a disponibilidade hídrica no solo em níveis ideais.
Então, continue a leitura e saiba mais a respeito!
O que é evapotranspiração?
De forma geral, a evapotranspiração é perda de água da superfície terrestre para a atmosfera pelo processo simultâneo de evaporação da água do solo e de transpiração das plantas.
Como a evapotranspiração é um processo que ocorre diariamente, é inviável distinguir os processos de evaporação e transpiração no dia a dia. Por isso, geralmente eles são contabilizados juntos.
No entanto, dependendo das condições da vegetação, do tamanho da área e das condições de água no solo, é possível haver 4 tipos de evapotranspiração diferentes:
1. Evapotranspiração potencial (ETp) ou de referência (ETo)
É a quantidade de água transferida para a atmosfera, resultante do processo somado de transpiração e evaporação; considerando uma superfície ampla, com uma cultura rasteira em pleno desenvolvimento e com solo sem restrição hídrica.
2. Evapotranspiração real (ETR)
É a quantidade de água transferida para a atmosfera, resultante do processo somado de transpiração e evaporação; considerando uma superfície ampla e com uma cultura rasteira em pleno desenvolvimento.
Porém, diferentemente da ETp ou ETo, considera condições reais de umidade do solo, ou seja, é contabilizada em condições de solo com ou sem restrição hídrica.
3. Evapotranspiração de Oásis (ETO)
É a quantidade de água transferida para a atmosfera, resultante do processo somado de transpiração e evaporação; considerando uma área vegetada e irrigada, que tem ao redor uma área seca, ou seja, sem a presença de área de bordadura.
4. Evapotranspiração da cultura (ETc)
É a quantidade de água transferida para a atmosfera, resultante do processo somado de transpiração e evaporação; considerando a demanda hídrica específica da fase de desenvolvimento no qual a cultura se encontra e considerando o solo sem restrição hídrica.
Como estimar a evapotranspiração no Brasil?
Assim como existem diferentes tipos de evapotranspiração, há também metodologias diferentes para estimá-la.
Não existe uma metodologia melhor ou pior. Portanto, antes de escolher o método de estimativa de evapotranspiração veja qual se adequa melhor para a sua situação.
Verifique a disponibilidade de dados meteorológicos, pois métodos muito complexos necessitam de diversas variáveis e, portanto, só podem ser utilizados quando há a disponibilidade de todos os dados necessários.
Por exemplo, apenas com dados de temperatura do ar não é possível aplicar o método Penman – Monteith.
Verifique também a escala de tempo, pois alguns métodos são melhores para escalas de tempo mensais e outros para escalas diárias.
Por exemplo, Thornthwaite e de Camargo são capazes de estimar bem a ETP em escala mensal, já o para a escala diária, métodos que envolvem o saldo de radiação tendem a ser mais adequados.
Por fim, verifique as condições climáticas para as quais o método foi desenvolvido, pois os métodos empíricos, não costumam ter aplicação universal.
Os métodos de Thornthwaite e de Camargo, por exemplo, são aplicáveis à regiões de clima úmido, já o método de Hargreaves & Samani é melhor para regiões de clima seco, pois foi desenvolvido para este clima.
O regime de precipitação e evapotranspiração no Brasil ao longo do ano
Para a elaboração dos regimes de precipitação e evapotranspiração no Brasil foram utilizados os dados de acordo com Xavier et al. (2022) para o período de 2001 a 2020.
A precipitação média diária (P) é a precipitação acumulada durante o período dividida pelo número de dias do período.
Dessa forma, a precipitação média diária anual é a precipitação acumulada no ano dividida pelo número de dias no ano.
Igualmente a evapotranspiração potencial média diária (ETP) é a evapotranspiração potencial acumulada durante o período dividida pelo número de dias do período.
Evapotranspiração no Brasil: regiões Norte e Sul
Nas regiões Norte e Sul do Brasil, a precipitação é frequente o ano todo, além de apresentar um alto valor acumulado.
Ainda na região Norte, apesar da temperatura ser alta, a presença de muita nebulosidade reduz a evapotranspiração. Enquanto na região Sul a temperatura é menor o que também reduz a evapotranspiração.
Dessa forma, tem-se que a precipitação é maior do que a evapotranspiração nessas regiões.
Evapotranspiração no Brasil: regiões Centro-Oeste e Sudeste
Nas regiões Centro-Oeste e Sudeste a frequência de chuva é mais variada ao longo do ano.
No entanto, devido aos sistemas atmosféricos que determinam o regime de chuvas dessas regiões – como a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) – têm-se uma faixa diagonal de áreas com menor evapotranspiração do que precipitação.
Evapotranspiração no Brasil: região Nordeste
Já no Nordeste o baixo volume de chuva e a alta demanda evaporativa fazem a região apresentar um predomínio de precipitação menor do que evapotranspiração.
Evapotranspiração ao longo das estações do ano
No verão, a precipitação é maior que nas demais estações do ano em grande parte do Brasil.
Assim, a exceção desse padrão ocorre apenas:
- no Sul da região Sul – que apresenta precipitação similar para todas as estações do ano;
- no estado de Roraima;
- e na região Nordeste.
Justamente, essas localidades que apresentam precipitação menor do que evapotranspiração.
No outono, a precipitação diminui bastante no Centro-Oeste e Sudeste, em relação ao verão.
Isso faz a região ter um padrão irregular com grande parte da área tendo valores próximos de precipitação e evapotranspiração.
Na região Norte a precipitação continua alta.
Já na região Nordeste, a diminuição de temperatura e, por consequência, da evapotranspiração, junto ao aumento da precipitação na parte norte e no litoral, fazem aumentar as áreas onde a precipitação é maior do que a evapotranspiração.
Comportamento parecido ocorre em toda região Sul nessa estação do ano.
No inverno, com exceção da região Norte, a evapotranspiração diminui acompanhando o comportamento das temperaturas.
No entanto, mesmo com essa diminuição da evapotranspiração, as áreas de menor precipitação do que evapotranspiração aumentam.
Assim, somente a região Sul, o norte da região Norte e parte do litoral da região Nordeste, que não apresentam precipitação menor que 3 mm/dia, e ficam com precipitação maior que evapotranspiração.
Na primavera, a evapotranspiração volta a aumentar em praticamente todo o país.
A precipitação também aumenta em grande parte do Brasil, com exceção da região Norte e litoral da região Nordeste.
Devido a isso, somente a região Sul, oeste e sul da região Norte, norte do Mato Grosso e sudeste da região Sudeste, é que apresentaram precipitação maior que evapotranspiração.
Esse padrão pode mudar?
Esse padrão de precipitação e de evapotranspiração ao longo das estações do ano apresentado é um comportamento médio de um período de aproximadamente 20 anos.
Isto é, considerando todos os dados desse período esse padrão é o mais comum de acontecer. No entanto, esse regime pode se apresentar diferente.
Anos com ocorrência de fenômenos como o El Niño e La Niña, por exemplo, apresentam um padrão diferente de precipitação no Brasil, o que afeta diretamente a disponibilidade hídrica.
Além disso, as projeções de mudanças climáticas indicam alteração tanto no regime de precipitação, assim como no padrão de temperatura – que deve aumentar em todo o país. Esse aumento de temperatura também tende a elevar a evapotranspiração.
Por esses motivos, é importante sempre atualizar esses padrões considerando dados observados mais recentes.
Conclusão: a importância de monitorar as condições meteorológicas na lavoura
Monitorar as condições meteorológicas permite conhecer os regimes de precipitação e evapotranspiração e, por consequência, a disponibilidade hídrica da lavoura.
Isso porque, a falta de água pode resultar em deficiência hídrica e, por consequência, em distúrbios fisiológicos negativos nas plantas.
Por outro lado, o fornecimento ideal de água pode gerar uma produção mais homogênea na área e até elevar a produtividade.
Portanto, devido às alterações no regime de chuvas e a importância de saber as condições de disponibilidade hídrica na lavoura, monitorar as condições meteorológicas se torna cada vez mais fundamental para o sucesso da safra.
Referência
Xavier, A. C., Scanlon, B. R., King, C. W., & Alves, A. I. (2022). New improved Brazilian daily weather gridded data (1961–2020). International Journal of Climatology, 1–15. https://doi.org/10.1002/joc.7731