Manejo da adubação na cultura da soja: veja como realizar amostragens de solo e tecidos foliares, recomendações e especificidades para cada um dos nutrientes necessários.
A produção de soja no Brasil vem batendo recordes anuais.
Diante deste crescimento e da importância econômica da cultura da soja, é necessário que o potencial genético das cultivares sejam aproveitados ao máximo.
Dessa forma, o conhecimento sobre as necessidades nutricionais da cultura em cada um dos seus estádio de crescimento e desenvolvimento é indispensável.
Confira, a seguir, como realizar as amostragens de solo e foliar, as exigências nutricionais da planta, como realizar a adubação da soja e ter o melhor aproveitamento dos macro e micronutrientes.
De acordo com pesquisas, estima-se que até 2050 a produção de soja no mundo cresça de forma expressiva. No Brasil e Estados Unidos, por exemplo, esse aumento deve chegar a 115% e 36%, respectivamente.
Além disso, a área brasileira de soja também deve crescer 75%, bem como a participação do Brasil na produção mundial do grão, chegando a 33,73%.
Ou seja, até 2050, um terço de toda a soja produzida no mundo será brasileira.
Assim, diante de estimativas animadoras de expansão do cultivo do grão, a otimização dos recursos, especialmente aqueles relacionados ao manejo da fertilidade dos solos, será indispensável.
Dessa forma, atender as exigências nutricionais de macro e micronutrientes da cultura é muito importante para obter altas produtividades e grãos de qualidade.
Por isso, análises de solo e foliares são ferramentas que podem colaborar para que a adubação seja feita de forma equilibrada nas lavouras de soja.
Confira, a seguir, como realizar cada uma delas de forma adequada.
Para conhecer as necessidades da cultura, em função das condições do solo na propriedade, é importante realizar a análise do solo.
Porém, a qualidade dos resultados obtidos nos laudos dependerá de três fatores: a frequência, a época e forma de amostragem. Se os três estiverem corretos, a análise vai refletir a realidade sobre a fertilidade do solo, trazendo maior clareza sobre as necessidades da cultura.
Sobre a frequência, as amostragens devem ser anuais nos três primeiros anos de implantação da cultura e, posteriormente, podem ser feitas a cada dois ou três anos.
A época de amostragem deve ser a partir da maturação fisiológica da cultura anterior (final do período chuvoso, maio a junho). Pois, assim, é possível ter o laudo em mãos antes do plantio da soja, para realizar a interpretação dos resultados e a compra dos fertilizantes em tempo.
Além disso, a amostragem também precisa seguir alguns passos importantes para que se obtenham amostras de qualidade e representativas.
Profundidade de 0 a 20 cm: fazer a amostragem com uma pá de corte e utilizar apenas a porção central da amostra retirada.
Nesta profundidade é possível analisar os macro e micronutrientes, além da acidez e textura do solo.
Profundidade de 20 a 40 cm: realizar a amostragem com trado de rosca. Esse tipo de coleta é bem importante, principalmente na região do Mato Grosso do Sul, devido às estiagens e a presença de acidez em profundidade.
Deve-se evitar a coleta de amostras em locais com depósito irregular ou anormal de adubos ou que contenham cupins e formigueiros.
Além disso, após a chuva, é recomendável aguardar 2 a 4 dias para a coleta das amostras.
Passo a passo para amostragem de solo:
Caso o solo da propriedade seja muito ácido é preciso realizar a correção desta acidez.
Isso porque, a acidez do solo interfere diretamente na disponibilidade dos nutrientes presentes para as plantas. Desta forma, é preciso corrigi-la para que a cultura possa ter acesso à uma nutrição adequada.
Conforme a figura a seguir, é possível observar que em pH entre 5,9 e 6,5 ocorrem as maiores disponibilidades de forma equilibrada dos macro e micronutrientes para a cultura da soja.
A acidez do solo é a concentração (atividade) de íons hidrogênio na solução do solo.
Solos muito ácidos ou neutros diminuem a concentração de fósforo, nitrogênio, enxofre e boro, disponíveis para absorção pelas plantas.
Além disso, na faixa de pH de 4,4 a 5,0 ocorre o aumento expressivo da concentração de alumínio, prejudicial à microbiota do solo e a fixação biológica de nitrogênio.
No entanto, em pH muito elevado ocorre menor disponibilidade de micronutrientes como zinco, ferro, manganês e cobre.
Assim, em solos muito ácido, deve-se aplicar o calcário, no mínimo, seis meses antes do plantio.
E a dose necessária de calcário (NC) a se usar deve ser equilibrada e conforme a interpretação da análise de solo da área.
Deve-se definir a dose de calcário de acordo com a metodologia da saturação de bases, calculando a necessidade de calcário (NC), através da seguinte fórmula:
Modo de aplicação do calcário: incorporado na camada de 0 a 20 cm.
Para correção de pH ácidos, pode-se usar silicatos que neutralizam íons H +.
Além disso, para a escolha do calcário é importante estar atento ao objetivo de seu uso. No caso, como estamos falando da correção da acidez e da elevação do cálcio e magnésio no solo, é preferível optar por calcário dolomítico (>12% de Mg) ou calcário magnesiano (entre 5,1% e 12% de Mg).
O gesso agrícola diminui a saturação de alumínio, no entanto, NÃO neutraliza a acidez do solo.
Ele é fonte de enxofre, tem residual mínimo de 5 anos e deve ser utilizado quanto a saturação de alumínio no solo for maior que 20% e a de cálcio menor de 60%. E sua aplicação pode ser feita a lanço.
Este tipo de análise deve ser feito como um complemento à análise de solo ou para diagnóstico de possíveis deficiências ou excessos de nutrientes na cultura.
Para análise foliar, deve-se evitar a amostragem:
A época adequada de coleta é no estádio fenológico R2, caracterizado pelo pleno florescimento.
Assim, para a análise, deve-se coletar o primeiro trifólio, totalmente expandido, a contar a partir do ápice da planta.
Uma amostragem representativa deve ser coletada de 30 folhas (trifólios) por talhão a ser analisado (uma folha por planta).
Passo a passo para a coleta de material vegetal:
As recomendações de aplicação de macro e micronutrientes para as culturas agrícolas são definidas a partir de resultados de pesquisa em campo. E que levam em conta o rendimento relativo das culturas em diferentes solos e por vários anos em relação aos teores de nutrientes no solo.
Assim, os macronutrientes são aqueles que as plantas precisam em maior quantidade. Já os micronutrientes são os requeridos em menores quantidades.
Independentemente da quantidade, os macro e micronutrientes são indispensáveis para os resultados produtivos das culturas e devem ser fornecidos em dose e época adequadas.
A cultura da soja requer quantidades equilibradas de Nitrogênio (N), fornecida via inoculação por microrganismos do gênero Rhizobium, como o Bradyrhizobium e coinuculação com Azospirillum brasiliense, que podem conferir incrementos de até 16% na produtividade da cultura.
No entanto, outros macronutrientes também são necessários, como o fósforo (P), potássio (K), enxofre (S), cálcio (Ca) e magnésio (Mg), os quais tem pico de absorção pela cultura no início do estágio reprodutivo.
Por ser um elemento pouco móvel, o histórico da área combinado com os resultados das análises de solo das últimas três safras podem auxiliar na tomada de decisão segura da quantidade a se aplicar deste nutriente.
Algumas informações importantes:
A tomada de decisão deve se basear nas tabelas de interpretação da análise de solo de acordo com a região de cultivo (distintas para as diferentes regiões devido ao tipo de solo e região geográfica).
Para a região Sul do Brasil, os valores sofrem algumas alterações, tanto em função da classe do solo, quanto pelo método que se utiliza para a extração do nutriente. Por isso, é importante consultar um profissional para auxiliar na interpretação correta dos resultados.
CURIOSIDADE – saiba diferença entre os métodos de extração do fósforo:
O teor de potássio depende do teor de argila do solo. Algumas informações importantes sobre a sua aplicação:
O calcário e o magnésio já foram comentados acima, quando falamos de correção de acidez.
No caso do Enxofre, o seu teor está relacionado à matéria orgânica do solo. Além disso, devido à sua mobilidade no solo, sua análise deve ser realizada em duas profundidades: 0 a 20 cm e 20 a 40 cm.
Algumas informações importantes sobre a sua aplicação:
É importante analisar o teor de Zinco (Zn), manganês (Mn), cobre (Cu) e boro (B) no solo, pois eles possuem efeito residual de pelo menos cinco anos.
Desta forma, mesmo que recomendados para aplicação de manutenção, podem não ser aplicados, dependendo da situação financeira do produtor.
Já no caso do Molibdênio (Mo) e cobalto (Co), é importante destacar que eles são indispensáveis para a fixação biológica de nitrogênio.
Assim, é recomenda-se a aplicação de Mo e Co via sementes ou pulverizados entre os estádios V3 e V5. Contudo, eles não devem ser misturados aos inoculantes, pois não são compatíveis.
A adubação foliar da soja só é recomendada para fornecimento de manganês (Mn), e caso ele esteja em níveis muito baixos.
Isso porque, este nutriente é importante na realização da fotossíntese por ser regulador de enzimas e clorofilas.
Para a infecção das raízes pelos microrganismos fixadores de nitrogênio, por exemplo, temperaturas de 30ºC são ideais para estabelecimento das relações planta-microrganismo.
Por isso, é importante estar atendo a umidade e a temperatura do solo, pois podem implicar na eficiência da adubação na soja.
Em resumo, a adubação equilibrada na cultura da soja é fator chave para alcançar altas produtividades.
Porém, é importante se atentar de que, antes da aplicação dos fertilizantes, é preciso a saber como está a disponibilidade de nutrientes no solo.
Para isso, a realização de análises de solo e foliar são indispensáveis.
Mas, para isso, é necessário obter amostragens representativas, seguindo metodologias padrões para garantir que os resultados obtidos reflitam, de fato, a real necessidade da área.
Além disso, é importante lembrar que a recomendação de doses de fertilizantes é distinta para as diferentes regiões do país.
Por isso, procure um profissional para te auxiliar na adubação da sua lavoura.
Engenheira Agrônoma (UFFS), Mestra em Fitossanidade pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), com área de concentração fitopatologia. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) na área de sanidade vegetal e pós-colheita. Tem experiência nas áreas de fitopatologia, controle de doenças de plantas, grandes culturas, pós-colheita de grãos e sementes e agricultura de precisão.
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