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Nematoides na Soja: como identificar os 4 principais

Raiz de soja com sintoma causado por nematoide

Entenda quais as principais espécies de nematoides que ocorrem na cultura da soja, sintomas, condições favoráveis para ocorrência, e como diminuir os danos na sua lavoura.

No Brasil, estima-se que as perdas anuais causadas pelos nematoides à cultura da soja chegam a 16,2 bilhões de reais. 

Só a soja, por exemplo, pode ser afetada por mais de 100 espécies diferentes de nematoides. No entanto, há quatro principais que causam grandes prejuízos à soja brasileira: 

  • nematoide das galhas (Meloidogyne spp.)
  • nematoide-de-cisto (Heterodera glycines)
  • nematoide reniforme (Rotylenchulus reniformis)
  • nematoide-das-lesões-radiculares (Pratylenchus brachyurus

Além disso, ao não executar medidas para diminuir a população de nematoides no solo, em áreas muito afetadas, a produção da cultura pode se tornar inviável por anos!

Assim, para um bom controle, é necessária uma correta identificação dos nematoides presentes na área. 

Porém, isso pode ser uma tarefa difícil, uma vez que diferentes nematoides podem causar sintomas parecidos ou ainda sintomas que podem ser confundidos com outras doenças ou até mesmo deficiências nutricionais.

Então, confira a seguir os principais nematoides da soja, suas características, sintomas, condições favoráveis e práticas de manejo para reduzir os danos na lavoura!

Principais nematoides na soja

Entre os nematoides da soja registrados no Brasil, todos parasitam as raízes das plantas, exceto o nematoide Aphelenchoides besseyi, causador da “soja louca II”, pois é o único capaz de parasitar a parte aérea, e se alimentar das inflorescências, flores e folhas.

Inflorescência necrosada por Aphelenchoides besseyi, o nematoide da haste verde, que causa “Soja Louca II”
Inflorescência de soja necrosada por alta infestação de Aphelenchoides besseyi, conhecido como nematoide da haste verde, causador da “Soja Louca II”
(Fonte: Luciany Favoreto, 2019) 

A presença de nematoides na cultura da soja leva, principalmente, a: 

  • Alteração na absorção e translocação de nutrientes e água;
  • Interceptação de nutrientes durante a alimentação dos nematoides, a partir de seu aparelho bucal;
  • Destruição dos tecidos das raízes, diminuindo o seu crescimento e, com isso, a capacidade de absorção de água e nutrientes do solo para a planta.
danos por Meloidogyne sp. (nematoide das galhas)
Mecanismos envolvidos na ocorrência de danos às plantas de soja quando parasitadas por Meloidogyne sp. (nematoide das galhas).
(Fonte: ASMUS, 2000.)

Realizar o controle dos nematoides é uma tarefa difícil, por isso, uma vez que eles estão presentes na área, o objetivo principal deve ser de diminuir a sua população no solo.

Confira, a seguir, os quatro principais nematoides na cultura da soja!

1. Nematoide das galhas (Meloidogyne spp.) na soja

Os nematoides do gênero Meloidogyne são os mais importantes na cultura da soja, pois causam as famosas ‘galhas’. 

Eles estão distribuídos em todas as regiões do país, parasitando várias culturas, bem como plantas daninhas, onde sobrevivem e podem se reproduzir na entressafra. 

Se a sua população não for controlada, as perdas na produtividade da soja podem variar de 30% até 100%

Além disso, existem duas espécies principais e diversas raças dentro de cada espécie, que apresentam diferenças na agressividade de ataque na cultura. 

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Ou seja, uma mesma espécie, de raça diferente, pode ser mais ou menos agressiva a determinada cultivar de soja, por isso a identificação a nível de espécie é fundamental.

As principais espécies de Meloidogyne são Meloidogyne incognita (mais comum em áreas de cultivo de café ou algodão) e M. javanica (ocorrência generalizada nas regiões de produção de soja).

Sintomas de nematoides das galhas na soja:

  • Manchas em reboleiras com presença de plantas pequenas e amareladas;
  • Folhas com manchas cloróticas, folha “carijó” (necrose entre as nervuras);
  • Redução do tamanho das plantas;
  • Murcha nas horas mais quentes do dia;
  • Abortamento de vagens;
  • Amadurecimento prematuro das plantas;
  • Raízes com formação de raízes laterais curtas e com presença de galhas de diferentes tamanhos.
Folhas carijós (necrose das nervuras) e formação de galhas nas raízes da soja. Sintomas em reboleira
Lavoura de soja com reboleira e presença de folhas carijós (necrose das nervuras) e formação de galhas nas raízes à direita
(Fonte: Hevandro Cesar Fabani, 2019. In: FAVORETO et al., 2019)

Ciclo do nematoide das galhas

As fêmeas depositam entre 400 a 500 ovos e seu ciclo se completa em três a quatro semanas, dependendo da temperatura, umidade e planta hospedeira. 

Além disso, estes nematoides podem sobreviver nos solos em períodos de seis a 12 meses.

Por fim, as condições de temperatura entre 25 a 30ºC e umidade favorecem ambas as espécies. E ainda, períodos de veranicos na fase de enchimento dos grãos resultam em danos mais severos.

Controle de nematoides das galhas na soja

  • Realizar a rotação de cultura com plantas não hospedeiras do nematoide, como amendoim, mamona, crotalária e brachiaria antes da implantação de uma cultivar de soja resistente;
  • Usar cultivares de soja resistentes em áreas afetadas;
  • Controlar as plantas daninhas em reboleiras que apresentam infestação;
  • Recuperar a matéria orgânica no solo, o que favorece as populações de inimigos naturais dos nematoides;
  • Cuidado no trânsito de máquinas que passaram por solos com nematoides. É importante sempre realizar a limpeza do maquinário e tratores para evitar levar nematoides de uma área para outra.

2. Nematoide-de-cisto (Heterodera glycines) na soja

Já foram identificadas 11 raças diferentes deste nematoide no país. No entanto, o nematóide-de-cisto infecta um número menor de espécies de interesse agrícola, diferentemente dos outros.

Além disso, a doença provocada por ele é conhecida ainda por nanismo amarelo da soja, devido aos sintomas cloróticos e o porte reduzido das plantas. 

Anteriormente, ele podia ser encontrado apenas na região Norte e Nordeste do Mato Grosso. Entretanto, atualmente, está distribuído em diferentes regiões do país.

Sintomas do nematóide-de-cisto

É necessário observar as raízes identificando a presença de fêmeas de coloração branca/amarela. Isso porque, os sintomas são semelhantes a: deficiências nutricionais; fitotoxidade por defensivos; outras doenças; e até mesmo estresses ambientais.

Contudo, vale destacar que o seu ataque causa:

  • Interferência na absorção de água e nutrientes pela planta;
  • Sintomas em reboleiras;
  • Porte reduzido e plantas atrofiadas;
  • Clorose das folhas e redução do desenvolvimento, resultando em plantas pequenas e com pouca formação de vagens;
  • A pode levar, até mesmo, à morte das plantas.
Soja com namatoide-de-cisto - sintomas em reboleiras e fêmeas aderidas às raízes
Sintomas observados em reboleiras em área de cultivo de soja à esquerda e fêmeas aderidas às raízes de soja à direita (o que permite a fácil identificação deste nematoide).
(Fonte: FAVORETO et al., 2019)

Ciclo do nematóide-de-cisto

O seu ciclo é parecido com o descrito anteriormente, para o Meloidogyne. Porém, há uma diferença: a fêmea pode ser vista com parte do seu corpo para fora da raiz (conforme imagem anterior).

Assim, o ciclo dura cerca de três semanas, dependendo das temperaturas e da umidade do solo.

Dessa forma, temperaturas entre 23 e 28ºC, com presença de umidade no solo, são condições favoráveis a esta espécie. 

Já temperaturas abaixo dos 14ºC ou superiores a 34ºC interrompem o desenvolvimento dos nematoides no solo. No entanto, embora as temperaturas baixas interrompam o desenvolvimento, eles podem sobreviver por até seis meses em temperaturas negativas. 

Além disso, estes parasitas podem sobreviver no solo de seis a oito anos

Controle do nematóide-de-cisto

  • Limpeza de máquinas, uma vez que a principal fonte de disseminação é o solo contaminado;
  • Aquisição de sementes certificadas e de boa procedência (nematoides do cisto podem estar associados às sementes com partículas de solo);
  • Rotação de culturas com espécies não hospedeiras;
  • Eliminação de plantas hospedeiras presentes na área durante a entressafra. 

3. Nematoide reniforme (Rotylenchulus reniformis) na soja

O nematóide reniforme pode causar uma redução de até 32% na produtividade da soja, se não for realizado o controle da sua população no solo da área de cultivo.

Esta espécie pode infectar mais de 140 espécies de plantas, sendo a cultura do algodão a mais afetada. 

Sintomas de nematóide reniforme

Alguns de seus sintomas incluem:

  • Desuniformidade no desenvolvimento da cultura;
  • Plantas com porte reduzido e apresentando sintomas parecidos com deficiência nutricional;

Além disso, diferentes de outras espécies de nematoides:

  • Não há formação de reboleiras;
  • Não formam galhas;
  • Sem sintomas aparentes nas raízes.
nematoide-reniforme (Rotylenchulus reniformis) na soja
Presença de solo aderido ao redor de fêmeas de Rotylenchulus reniformis; fêmea madura; e fêmea imatura à direita.
(Fonte: FAVORETO et al., 2019)

Ciclo do nematóide reniforme

As fêmeas produzem até 100 ovos, completando seu ciclo de vida entre 24 a 30 dias, a depender principalmente da temperatura e textura do solo. Isso porque, solos de textura fina, siltoso ou argiloso favorecem esta espécie.

Podem sobreviver por até dois anos em solos infestados, sendo importante a rotação de culturas para diminuir a sua população.

Além disso, temperaturas entre 25 e 35ºC favorecem esta espécie. No entanto, solo seco e faixas de temperaturas abaixo de 25ºC provocam rápida diminuição da população de nematoides na área.

Controle do nematóide reniforme na soja

  • Rotação de culturas;
  • Utilização de cultivares resistentes;
  • Plantio anterior de espécies não hospedeiras, para posterior implantação de cultivar de soja resistente.

4. Nematoide-das-lesões-radiculares (Pratylenchus brachyurus) na soja

Esta espécie é considerada de maior disseminação, principalmente pela ampla gama de hospedeiros que inclui muitas gramíneas, por exemplo: milho, trigo, capins, sorgo, cevada, aveia, arroz, centeio e pastagens.

Pode levar a perdas de até 21% na produtividade da soja. Isso porque, além de produzir substâncias tóxicas e liberá-las nas raízes da soja durante a sua alimentação, podem servir de porta de entrada para fungos e bactérias

Sintomas do nematoide-das-lesões-radiculares

  • Necrose e podridão das raízes;
  • Volume de raízes reduzido;
  • Plantas de menor estatura;
  • Clorose;
  • Murcha das folhas.
soja com nematoide-das-lesões-radiculares (Pratylenchus brachyurus)
Lavoura de soja afetada pelo nematóide Pratylenchus brachyurus à esquerda, raízes necrosadas e fêmea migradora a direita (com corpo fino) (Fonte: FAVORETO et al., 2019)

Ciclo do nematoide-das-lesões-radiculares

Os ovos podem ser depositados no solo e no interior das raízes e, após a eclosão, o parasitismo na planta tem início. 

Porém, diferente dos demais nematoides, neste caso a fêmea também é migradora (pode se deslocar de uma planta a outra).

Além disso, o seu ciclo é influenciado pela temperatura (mais amenas, em torno de  20ºC, podendo se desenvolver bem em temperaturas de até 30ºC), umidade e presença de matéria orgânica. Isso porque, tais fatores favorecem o desenvolvimento desta espécie. 

E ainda, locais de solo arenoso, áreas com irrigação e com sistema de plantio direto (que mantém o solo úmido por mais tempo) também favorecem o aumento da população deste parasita.

Mesmo assim, pode sobreviver em solo seco e sem plantas hospedeiras por até 21 meses.

Controle do nematoide-das-lesões-radiculares

Rotação de culturas, mas, cuidado! Vale a pena observar e evitar a ampla gama de espécies hospedeiras, como gramíneas e algodão, cultivadas, principalmente, em regiões de solo arenoso;

ATENÇÃO! Solos compactados merecem atenção redobrada quando a área possui esta espécie de nematoide.

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Conclusão

Em resumo, podem atacar a cultura da soja diferentes espécies, bem como diferentes raças da mesma espécie, com agressividade variáveis.

Assim, o controle de fitonematoides ainda é bem difícil, pois eles estão em diferentes profundidades no solo e aderidos às raízes. 

Dessa forma, as medidas mais utilizadas e mais eficientes são aquelas que visam reduzir a sua população no solo.

Além disso, em áreas com suspeita de nematoides, vale a pena observar não só as plantas de soja, como também as daninhas, uma vez que podem ser hospedeiras destes parasitas.

Por fim, dependendo da espécie observada, pode ser preciso enviar o material a um laboratório para análise e diagnóstico correto da área para que, assim, adotar a estratégia de manejo mais adequada.

Em conclusão, os nematoides são parasitas de difícil controle e alto potencial de danos, por isso, é fundamental estar atento à sua presença na lavoura. 

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