Manejo

Boas práticas na inoculação de sementes de soja

Saiba quais cuidados tomar na inoculação das sementes de soja, entenda a compatibilidade com agrotóxicos e micronutrientes e quais estratégias adotar para o melhor aproveitamento destes microrganismos.

A produção de soja no Brasil vem batendo recordes anuais. 

Na safra 2020/21, o volume ultrapassou 135 milhões de toneladas, com produtividade média de 3.517 kg/ha e área plantada superior a 38 milhões de hectares. 

Mas, para manter estes números, é preciso adotar um bom manejo, principalmente quando se trata da nutrição das plantas.

Assim, dentre os nutrientes necessários à cultura, o nitrogênio (N) é o mais importante e sua demanda pode chegar a 80 kg de N para produzir uma tonelada de grãos.

A demanda por nitrogênio na cultura da soja ocorre principalmente por meio da fixação biológica de nitrogênio (FBN) por bactérias especializadas do gênero Bradyrhizobium.

Desta forma, o conhecimento sobre as boas práticas e cuidados com a manipulação destes microrganismos é indispensável para o sucesso da fixação biológica de nitrogênio.

Confira, a seguir, quais são as boas práticas para a inoculação de sementes de soja. E, também, como a aplicação de agrotóxicos e micronutrientes podem influenciar, de forma positiva ou negativa, no sucesso destes microrganismos em sua lavoura.

A importância da cultura da soja no Brasil e no mundo

A cultura da soja tem grande relevância econômica mundial. Estima-se que, até 2050, a sua produção aumente 104% em todo o planeta. 

A importância da cultura se dá pela utilização dos grãos:

  • Para o consumo in natura, devido aos altos teores de proteínas;
  • Na indústria, na fabricação de rações para alimentação animal (suínos, bovinos, etc.);
  • Em produtos não alimentícios, como detergentes, etanol, plásticos, lubrificantes, etc.

Desta forma, atender as exigências nutricionais da cultura é fator indispensável para obter altas produtividades e grãos de qualidade, com altos teores de proteína e óleo.

O que é inoculação na cultura da soja?

Embora, para o crescimento e produção ideal de uma cultura, diversos macro e micronutrientes sejam necessários, o nitrogênio (N) é o nutriente requerido em maiores quantidades.

Isso porque, ele é o componente principal das moléculas de DNA, aminoácidos, clorofila e proteínas.

Por isso, o nitrogênio é tão importante: para que o alto teor de proteína dos grãos e a produtividade atingível da cultura (de acordo com o seu potencial) sejam alcançados.

Como suprir esta grande demanda por nitrogênio?

Pela inoculação de microrganismos, especialmente as bactérias, que são capazes de sintetizar uma enzima, denominada nitrogenase.

Esta enzima permite que o nitrogênio proveniente do ar atmosférico seja reduzido em amônia. E, em seguida, ele é incorporado a íons de hidrogênio, resultando em íons amônio, que serão utilizados pelos microrganismos e disponibilizados no solo às plantas. 

Dentre os microrganismos que realizam as associações com as raízes das plantas hospedeiras (no caso da soja), os rizóbios, principalmente do gênero Bradyrhizobium são os de maior importância e eficiência.

Fornecimento de N mineral em soja

Primeiro é importante ressaltar que diversos experimentos realizados pela Embrapa, nas mais diversas condições ambientais e de solo, e em regiões distintas do país, demonstraram que a utilização de complementação com nitrogênio mineral diminuem a eficiência das bactérias que realizam a inoculação e consequentemente a produtividade da cultura da soja.

Além disso, a Embrapa, após a realização de mais de 200 experimentos não constatou nenhum tipo de benefício desta prática. Pelo contrário, as pesquisas mostraram perdas de produtividade e de recursos financeiros pelo agricultor quando ocorre esta complementação com nitrogênio mineral.

Isto porque, o nitrogênio mineral diminui a atividade das bactérias por ser tóxico, apresentando ainda maior custo energético à planta para realizar a sua absorção e menor eficiência.

Algumas dúvidas frequentes sobre a inoculação na soja

É necessário reinocular as áreas mesmo após anos de inoculação na soja?

A resposta é sim. 

Isto porque, mesmo em populações de microrganismos no solo, após anos de inoculação, os inoculantes comerciais já encontram-se em estado fisiológico adequado para iniciar imediatamente a nodulação, o que confere antecipação a este processo, diferentemente dos microrganismos presentes no solo.

Além disso, quando ocorrem estresses ambientais, os microrganismos fixadores de nitrogênio presentes no solo demandam mais tempo para entrar em estado fisiológico adequado para formar a associação com as raízes, ou seja a simbiose.

Como avaliar a inoculação anual nas raízes da soja?

Quando a nodulação das raízes vem da inoculação anual, é possível observá-la na coroa da raiz. Em contrapartida, os nódulos mais tardios estão relacionados às populações já presentes na área. 

Quais os benefícios da inoculação anual (reinoculação)?

Pode-se obter anualmente incrementos de 8% na produtividade final da cultura, podendo alcançar até 16%, quando utilizada da associação de Bradyrhizobium e coinuculação com Azospirillum brasilense, conforme demonstrado na tabela a seguir:

Ganhos médios de rendimento de grãos de soja pela reinoculação anual com Bradyrhizobium e coinoculação com Azospirillum brasilense. 

Experimentos conduzidos pela Embrapa, em áreas velhas com população mínima de 104 células viáveis/g de solo, com seis repetições. Todos os ganhos foram estatisticamente significativos (Duncan, p < 0,05) em relação ao controle sem reinoculação.

É vantajoso produzir o inoculante ‘on farm’?

A produção dos inoculantes na própria propriedade não é recomendada, embora permitida pela legislação.

Os principais problemas desta prática incluem a presença de patógenos humanos. Além de diversos patógenos causadores de doenças em plantas e que podem causar prejuízos ao cultivo, principalmente quando introduzidos em áreas onde antes estavam ausentes.

Além disso, embora graves os problemas anteriormente mencionados, em análises de qualidade, realizadas pela Embrapa, o principal é a ausência do microrganismo alvo, no caso os Bradyrhizobium. Desta forma, na ausência do inoculante, a produtividade da cultura pode cair em mais de 8%.

Quais cuidados tomar durante o processo de inoculação da soja?

A inoculação antecipada ou pré-inoculação de  Bradyrhizobium em contato com agroquímicos por longos períodos pode levar à inviabilização do microrganismo. Por isso, é importante ter cuidado durante o tratamento de sementes.

De acordo com pesquisas, a mortalidade dos microrganismos pode chegar a 62% após duas horas, e atingir até  95% após 24 horas.

Além disso, em solos arenosos, a situação se agrava. Isso porque, a proteção dos microrganismos pela argila é baixa, expondo as bactérias ao contato dos agroquímicos por mais tempo.

Por isso, não é recomendável a inoculação antecipada, pois diminui a população de células viáveis em mais de 100 vezes, comprometendo a eficiência dos microrganismos.

Então como aplicar os inoculantes à base de rhizobium em sementes tratadas?

Para isso, é preciso:

  • Realizar a aplicação do inoculante no dia e pouco tempo antes da semeadura;
  • Quando possível, optar por inoculante turfoso;
  • Quando necessário o uso de agrotóxicos, aplique primeiro nas sementes, deixe que sequem e, em seguida, aplique o inoculante, realizando a semeadura posteriormente;
  • Aplicação de micronutrientes: Cobalto (Co) e molibdênio (Mo) são indispensáveis para o sucesso da fixação biológica. No entanto, ambos são incompatíveis e, por isso, não se deve aplicá-los de forma conjunta aos rizóbios;
  • Quando possível, realizar a inoculação no sulco de semeadura.

Vale ressaltar que, pode-se aplicar Co e Mo de forma conjunta ao tratamento de sementes. Porém, ambos não são compatíveis com os inoculantes e, por isso, o ideal é aplica–los separadamente.

Ou, ainda, via sulco, após a aplicação do inoculante durante o tratamento de sementes.

E até mesmo via foliar, contanto que se realize a aplicação nos estádios V3 a V5 (terceira a quinta folha trifoliada expandida), na mesma dose do tratamento de sementes. 

O que NÃO é recomendável

De modo algum é recomendável a realização da mistura dos inoculantes, agrotóxicos e micronutrientes na caixa semeadora.

Mais alguns cuidados necessários

A inoculação das sementes deve ser o último processo a se fazer no tratamento de sementes.

É necessário lembrar que as bactérias são organismos vivos, e que a exposição a altas temperaturas pode provocar a morte das células e o insucesso na inoculação.

Desta forma, deve-se manter a mistura à sombra para evitar o ressecamento das bactérias.

Além disso, é preciso monitorar a umidade do solo no momento da semeadura. Pois, as bactérias necessitam que ocorra a emissão de raízes o mais rápido possível para estabelecer a relações de simbiose e isso só irá acontecer se houver umidade suficiente no solo.

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Conclusão

A inoculação de sementes de soja podem conferir ganhos à cultura. E quando ocorre a soma da inoculação com Bradyrhizobium e coinoculação com Azospirillum brasiliense, o aumento do rendimento pode ser ainda maior.

Mas, para isso é preciso adotar algumas práticas e evitar outras, como por exemplo, a a aplicação de nitrogênio mineral na cultura.

Ou seja, os processos relacionados à inoculação das sementes de soja exigem bastante cuidado para que a atividade obtenha sucesso. Agora você já sabe quais são eles.

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