Entenda quais os principais cuidados no plantio de trigo, desde antes da semeadura, para que a sua lavoura tenha um ótimo ponto de partida e alcance altas produtividades
o cultivo do trigo é feito de Norte a Sul do país, embora seja na região do Sul que a produção mais se destaque.
Diversos fatores definem o sucesso do cultivo deste cereal de inverno, principalmente aqueles relacionados à temperatura e umidade do ar e ocorrência de geadas e granizo.
Além disso, há também fatores não relacionados às condições meteorológicas, como por exemplo, as operações iniciais.
Ou seja, as operações de antes do plantio de trigo até a semeadura são importantes para um bom desenvolvimento e até mesmo tolerância da cultura à condições ambientais desfavoráveis.
Então, veja a seguir a melhor época de plantio de trigo e o passo a passo das operações necessárias para o cultivo desta cultura!
Todo ano, o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) publica o ZARC (Zoneamento Agrícola de Risco Climático).
O ZARC consiste no cruzamento de dados de análise de risco para o plantio de uma cultura em função: da época do do ano; das condições climáticas; tipos de solo; cultivares; e o local de cultivo.
Neste documento, é possível visualizar os riscos de semeadura em diferentes janelas de plantio.
Além disso, é publicada uma portaria para cada estado na qual é possível consultar os dados para todos os municípios.
É possível consultar, abaixo, as portarias por estado para o plantio de trigo em sequeiro:
Também é possível consultar os dados para a sua região de cultivo, através do aplicativo ZARC Plantio Certo, desenvolvido pela Embrapa Agricultura Digital.
Estado | Início | Fim |
Bahia | 1º a 10 de março | 21 a 30 de abril |
Distrito Federal | 1º a 10 de março | 11 a 20 de março |
Goiás | 1º a 10 de março | 11 a 20 de abril |
Mato Grosso | 1º a 10 de março | 1º a 10 de abril |
Mato Grosso do Sul | 1º a 10 de março | 1º a 10 de junho |
Minas Gerais | 1º a 10 de março | 21 a 30 de abril |
Paraná | 1º a 10 de abril | 21 a 31 de julho |
Rio Grande do Sul | 11 a 20 de maio | 21 a 31 de julho |
Santa Catarina | 11 a 20 de maio | 21 a 31 de julho |
São Paulo | 1º a 10 de março | 11 a 20 de junho |
O início é referente à abertura da semeadura. No entanto, deve-se consultar obrigatoriamente a cidade do estado de cultivo, bem como o grupo (cultivar comercial), pois as indicações podem ser diferentes a depender do tipo de solo, e do nível de risco.
Depois de conhecer qual é a época adequada para o plantio de trigo em função do ZARC, é necessário entender quais as condições ideais para o desenvolvimento da cultura, principalmente relacionadas à temperatura e umidade.
A temperatura máxima do solo para que ocorra a germinação é de 34ºC, sendo que temperaturas acima de 30ºC conferem uma germinação mais rápida.
No entanto, para o crescimento da cultura, as temperaturas entre 15 e 20ºC correspondem à faixa mais adequada.
Para o crescimento e perfilhamento da cultura, a temperatura ideal fica entre 15 e 20ºC.
Já para o crescimento foliar, são favoráveis temperaturas um pouco mais elevadas, entre 20 e 25ºC.
Em relação a umidade do ar, ela não deve ser muito elevada, pois favorece os fungos causadores de doenças, principalmente na região Sul do Brasil em anos de inverno chuvoso.
Esta é a fase mais sensível em relação a temperatura e umidade do ar.
Assim, temperatura e umidade do ar elevadas não são ideais, principalmente por favorecerem a ocorrência de doenças.
Por isso, a faixa considerada ótima para a fertilização das espiguetas é entre 18 e 24ºC, admitindo um mínimo de 10ºC e máxima de 32ºC.
Isso porque, temperaturas elevadas podem causar esterilidade (sem formação dos grãos).
Além de monitorar a temperatura e a umidade do ar nas diferentes fases de desenvolvimento do trigo, também é importante o manejo da área, principalmente na pré-semeadura.
Entre as atividades essenciais para a semeadura do trigo está o manejo pré-semeadura, que inclui o controle de plantas daninhas, principalmente a buva e o azevém.
De forma geral, recomenda-se o uso de diferentes métodos de controle para alcançar maior sucesso e eficiência no controle de plantas daninhas de diferentes espécies, como por exemplo:
O controle cultural se caracteriza por beneficiar a cultura frente à planta daninha, de forma que a cultura tenha vantagens em seu desenvolvimento.
Alguns exemplos de controle cultural incluem:
Já o controle mecânico consiste em realizar o arranquio e/ou capina, para retirada manual de plantas daninhas, especialmente quando localizadas nas bordaduras ou margens de estradas.
Vale lembrar, que as sementes das plantas daninhas são pequenas e leves, portanto, se dispersam para longas distâncias de forma fácil.
Por fim, o controle químico se caracteriza-se pelo uso de herbicidas, levando em consideração: a eficiência do controle sobre as plantas existentes na área; o custo do uso; e o estádio de desenvolvimento das plantas daninhas a que se mais indica o produto.
Assim, a associação dos três métodos de controle, pode, a longo prazo, conferir economia ao produtor, no sentido de reduzir a infestação das áreas com plantas daninhas de difícil controle.
Diversos herbicidas são indicados para o manejo pré-semeadura, ou seja, controle de plantas daninhas antes da semeadura da cultura.
A recomendação tem variação em função das espécies (para associação de mais de um tipo de produto) de plantas daninhas presentes na área e do seu estágio de desenvolvimento.
Em manejos de pré-semeadura, é necessário observar quanto tempo deve-se aguardar entre a aplicação do herbicida e a semeadura.
Isto porque, alguns herbicidas têm sua decomposição reduzida à medida em que as temperaturas são menores.
Dessa forma, a aplicação, sem a atenção a este fato pode prejudicar o estabelecimento da população de plantas, reduzindo a germinação da cultura por conta do residual do produto.
As classes de herbicidas recomendados para a cultura do trigo podem ser divididas em seletivos e não seletivos.
Os seletivos são aqueles que agem em determinadas espécies de plantas, não tendo efeito em outras.
Já os não seletivos são aqueles que ou não podem ser aplicados após a emergência da cultura, pois além de atingirem as plantas daninhas, provocam danos na cultura do trigo; ou atingem um grande número de espécies de plantas infestantes.
A dessecação para a semeadura do trigo deve ser feita, de preferência, com pré-emergentes.
Ou seja, herbicidas que inibem a germinação das sementes de plantas daninhas que estão presentes na área de cultivo.
Esta inibição é importante, pois a matocompetição, ou seja, competição exercida pelas plantas daninhas por nutrientes, luz e água com a cultura do trigo, reduz de forma significativa o potencial produtivo da cultura.
Assim, para o uso do produto mais adequado para as condições da sua lavoura, é indispensável a consulta a um engenheiro agrônomo.
A adubação da cultura deve-se basear na análise de solo da área de cultivo, levando em consideração ainda, a extração de nutrientes pelas culturas, bem como a adubação de manutenção.
A análise de solo da área deve ser feita, de preferência, a cada dois anos (com período máximo de três anos).
As amostragens de solo devem ser feita em sistema de plantio direto consolidado em profundidade de 0 a 10 cm, e de forma intercalada nos anos, de 10- 20 cm também.
Para a aplicação de Nitrogênio, principalmente em anos de encarecimento dos insumos, o produtor deve se planejar em relação a escolha da fonte de nitrogênio (N) com melhor relação de custo e benefício.
Além disso, é preciso ficar atento às expectativas de produtividade e o impacto das condições climáticas na safra de cada região.
Em anos de La Niña, por exemplo, as expectativas de rendimento para a região Sul são maiores.
Desta forma, produtores podem ajustar as doses de N em função também das previsões do ano.
Para os demais macronutrientes, Potássio e Fósforo, a recomendação deve se basear nos critérios de cada estado do Brasil – que constam em seus respectivos manuais de adubação e calagem.
Além disso, micronutrientes e enxofre só devem ser aplicados se for constatada a deficiência, não sendo indicada a aplicação via foliar.
No caso do Boro, é preciso atenção, pois, a sua deficiência pode provocar a esterilidade masculina ou “chochamento” dos grãos. Caso constatada, é importante realizar a aplicação deste micronutriente no sulco de semeadura.
O uso de sementes de qualidade na semeadura é um fator chave. Por isso, as sementes devem ser certificadas.
Sementes certificadas são produzidas com critérios e fiscalização rígidos, garantindo assim a qualidade e isenção de contaminação por sementes de outras culturas (principalmente daninhas) e até mesmo pragas e doenças.
Além disso, na ausência de uma boa estrutura de tratamento de sementes on farm, deve-se optar sempre pela aquisição de sementes tratadas (com tratamento industrial de sementes, TSI).
A legislação exige que a germinação mínima dos lotes de sementes seja de 80%.
Além da germinação do lote de sementes, o vigor (o qual não é um teste obrigatório pelas empresas produtoras de sementes), também é um indicativo importante.
Isso porque, o vigor é a capacidade de emergência rápida e uniforme da semente, sob uma ampla faixa de condições de campo.
O teste de vigor do lote de sementes pode ser feito em um laboratório de análise de sementes (a partir do teste de tetrazólio) e, até mesmo, pelo índice de velocidade de emergência (IVE) em canteiros, que pode ser feito pelo próprio produtor.
A recomendação da densidade de semeadura e população final de plantas é dependente do ciclo da cultivar.
Ou seja, se ela é semi tardia, tardia, precoce, ou até mesmo de duplo propósito (pastejo e colheita de grãos ou somente pastejo).
Além disso, pode variar a depender do estado em que o cultivo é feito, e da própria cultivar utilizada.
É indispensável que os produtores monitorem as expectativas de eventos climáticos, como geadas “do cedo” ou “tardias” (região Sul), para que a semeadura da cultivar escolhida seja realizada de modo que os períodos críticos para a cultura não coincidam com condições climáticas desfavoráveis.
Outro fator importante, é a escolha da cultivar em relação à ocorrência de doenças na área, para que, assim, se possa planejar a aplicação de defensivos.
Indicações técnicas de densidade de semeadura nos diferentes estados do Brasil:
O espaçamento entre linhas para a cultura do trigo deve ser de 17 cm, não devendo ultrapassar os 20 cm.
Por fim, a profundidade de semeadura não deve ultrapassar os 5 cm, ficando entre 2 e 5 cm.
A preferência deve ser dada a semeadura em linha, pois neste sistema, há maior distribuição das sementes, alcançando uma maior uniformidade da lavoura.
Além da conferência dos parâmetros técnicos de época de semeadura, população de plantas, espaçamento entre linhas e profundidade de semeadura, outros fatores devem ser levados em consideração para bons resultados produtivos.
São eles: a velocidade de operação; a umidade do solo; e a previsão do tempo.
A velocidade de operação é importante evitar que a operação da semeadura seja realizada em velocidades muito altas, especialmente quando as semeadoras não forem à vácuo, pois pode ocorrer redução da emergência de plantas e desuniformidade na distribuição de plantas.
Assim, neste caso, recomenda-se que a velocidade fique entre 4,5 e 8 km/h, a depender da semeadora utilizada, sendo a velocidade de 6 km/h ideal para esta operação.
Além disso, também é importante monitorar a umidade do solo, pois, em épocas de ocorrência de chuvas, deve-se evitar realizar a semeadura com o solo muito úmido; bem como, em épocas mais secas, a baixa umidade do solo também é problema.
Isso porque, ambas as situações afetam a germinação das sementes de forma negativa.
Já em relação à previsão do tempo é preciso sempre monitorá-la, a fim de saber, por exemplo: se as condições de chuva e temperatura serão ideais para a germinação.
Além disso, a previsão do tempo será importante ao longo de todo o desenvolvimento da cultura, pois permitirá o melhor planejamento das operações em campo.
A cultura do trigo é uma ótima alternativa para rotação de culturas, principalmente na região Sul do Brasil, apesar de também ser cultivada em estados da região Centro-Oeste do Brasil e Nordeste (como a Bahia).
No entanto, para obter altas produtividades, é preciso atender diversos fatores.
Em resumo, atender aos cuidados essenciais como seguir o ZARC, realizar um bom manejo em pré-semeadura e dessecação de daninhas, seguir uma adubação inicial adequada, escolher a melhor sementes e realizar uma boa operação de semeadura já é um bom ponto de partida para uma lavoura de sucesso.
Engenheira Agrônoma (UFFS), Mestra em Fitossanidade pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), com área de concentração fitopatologia. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) na área de sanidade vegetal e pós-colheita. Tem experiência nas áreas de fitopatologia, controle de doenças de plantas, grandes culturas, pós-colheita de grãos e sementes e agricultura de precisão.
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