Fertilizantes, defensivos, energia elétrica, combustíveis, alta do dólar, inflação e muito mais: entenda como tudo isso impactou nos os custos agrícolas nesta safra
Os reflexos da pandemia da Covid-19 ainda continuam afetando o mundo, sobretudo os países emergentes como o Brasil.
Mesmo assim, o agro veio apresentando um histórico de números fortes e consistentes, até em momentos de alta volatilidade nos mercados, sendo uma das poucas atividades capazes de sustentar o PIB nacional.
Mas, os custos de produção agrícola também subiram!
Em paralelo a isso, a maior parte (72%) dos ingredientes ativos dos defensivos são importados, principalmente da China.
Com as restrições logísticas e o aumento no preço do frete, os custos de produção dispararam nesta safra. Veja o porquê.
De acordo com o IMEA, na safra 2021/22 os custos de produção de soja no Rio Grande do Sul cresceram cerca de 48,5%. Para o milho o aumento chegou a 52,0% (comparação frente a safra passada).
Assim, no estado, o custo total de produção da soja deve chegar a R$ 5.408,23/ha, ante a R$ 3.646,02/ha da safra anterior.
Para o caso do milho, os custos totais são estimados em R$ 7.653,15/ha, frente a R$ 5.034,58/ha da safra anterior.
A relação de troca do milho no RS estão melhores que as da soja. Enquanto a soja teve um aumento de 35% na cotação, o milho atingiu 90%.
Já no Mato Grosso, de acordo com dados do Imea, o custo de produção da soja na safra 2021/2022 está 22% maior que na safra passada, chegando a R$ 5.133,06/ha, devido ao aumento no custo das sementes (40%) e dos fertilizantes e corretivos de solo (24%).
Ao contrário do que muitos consumidores pensam, o produtor rural não é o vilão nessa história.
Conforme Bruno Lucchi, diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a pandemia foi o fator precursor dessa bola de neve.
Para se ter uma ideia, o custo de aluguel de um contêiner de aço de 40 pés (12 metros) da Ásia para a América do Sul (por via marítima) antes da pandemia variava entre US$ 1 mil e US$ 2 mil; hoje está no patamar de US$ 10 mil.
Além disso, os efeitos climáticos também afetaram produtores do Brasil todo, com ondas de frio, geadas e a falta de chuva que impactou a bacia do rio Paraná e que, por sua vez, abrange importantes hidrelétricas do País.
De acordo com dados divulgados pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, entre setembro/2020 e março/2021, as usinas hidrelétricas receberam o menor volume de chuvas em 91 anos, afetando usinas como Itaipu, Jupiá, Ilha Solteira e Porto Primavera.
Consequentemente, a energia elétrica ficou mais cara, elevando também os preços da irrigação.
Considerando um período de 2 anos, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), índice oficial da inflação no Brasil, foi de 3,2% para uma projeção de mais de 10% ao fim de 2021.
Como o mercado se baseia na Lei da Oferta e Demanda, a falta de matéria prima acarretou no aumento dos preços nos supermercados.
Assim, com a crise sanitária gerada pela COVID-19, o dólar teve maior demanda internacional, valorizando-se perante as moedas emergentes, como o Real.
O câmbio foi de R$ 4,00 (dez/2019) para R$ 5,65 (dez/2021) – alta nominal de 40%, depreciando a nossa moeda. Logo, os custos de importação também ficaram maiores, assim como os combustíveis.
Quanto aos defensivos agrícolas, a maior parte é dolarizada. Isso significa que estão atrelados ao câmbio. Logo, um dólar alto faz com que os custos também aumentem.
A maior parte dos insumos agrícolas que utilizamos são importados:
Em média, os fertilizantes subiram mais de 100% em 2021, ou seja, mais do que dobraram de valor!
O glifosato, por exemplo, acumulou um aumento de até 150% do seu valor.
As geadas ocorridas nos meses de julho de 2021 danificam plantações de milho, café e hortaliças das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Elas também afetaram pastagens no exterior e, sem pasto para alimentar os animais, a solução foi suplementar com rações à base de soja e milho, encarecendo produtos como carne e leite.
Isso tudo acarretou no desabastecimento do mercado nacional.
O setor de máquinas agrícolas também foi afetado. Segundo Cristina Zanella, gerente da Abimaq, com inflação sendo estimada em 10,2%, os custos de produção aumentaram em 26%, enquanto que os preços das máquinas agrícolas, 23%.
Fertilizantes também seguiram na mesma linha de aumento de preços. O fosfato monoamônico (MAP), muito utilizado nas lavouras de soja e milho, teve um aumento de 92,2% em 2021, quando comparado ao mesmo período de 2020.
O combustível utilizado nos tratores e máquinas agrícolas subiu 26,8% em um ano, chegando a um valor médio de R$ 4,60 por litro, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo.
Dessa forma, os custos de produção de soja e milho no Sul e no Cerrado têm aumentado. E a tendência é de que os preços para a safra 2021/2022 continuem em alta no próximo ano.
De acordo com a Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), o cenário indica uma redução na rentabilidade da soja e do milho na ordem de 36% e 40%, respectivamente.
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Com ele é possível monitorar o clima e o desenvolvimento da lavoura a fim de tomar decisões mais assertivas, algo extremamente importante em um momento como este de desafios e aumento de custos.
Frente à instabilidade de toda a cadeia logística de importações e exportações, de modo geral, os custos produtivos acabaram ficando mais elevados na safra de 2021/2022. E os produtores terão que repassar esses aumentos para o mercado.
Com insumos como o MAP chegando a 92,2% de aumento, glifosato atingindo 150%, redução das chuvas e aumentos dos custos da energia elétrica, mesmo com a alta do dólar, os custos do agronegócio foram diretamente afetados.
Apesar de ser difícil prever o comportamento do dólar, o Boletim Focus (26/nov/2021) prevê o câmbio em leve queda, fechando o ano de 2021 em R$ 5,50.
Assim, é preciso que o produtor se prepare para 2022, pois, não será um ano fácil.
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