Descubra em quais lavouras a mosca-branca está mais presente e, além disso, fique por dentro dos principais cuidados e técnicas de controle
A mosca-branca é um inseto bastante prejudicial aos cultivos agrícolas. Isto porque, além de causar danos diretos pela sucção da seiva das plantas, ela também causa danos indiretos.
Os danos indiretos ocorrem tanto pela transmissão e disseminação de viroses, como também pelo favorecimento da fumagina – fungo que recobre a superfície foliar, dificultando o processo de fotossíntese.
A mosca-branca é um inseto de difícil controle, principalmente porque possui diferentes raças ou biótipos que, devido ao uso inadequado de inseticidas de amplo espectro, adquiriram resistência.
Dessa forma, é preciso basear o controle da mosca-branca no monitoramento da praga e no uso de diferentes estratégias.
Veja, a seguir, mais informações sobre a mosca-branca e entenda os danos que ela causa nas diferentes culturas agrícolas.
Além disso, saiba também como realizar o monitoramento desta praga e conheça diferentes estratégias de controle cultural, genético, biológico e químico.
O que é a mosca-branca?
.A mosca-branca é um inseto pertencente à ordem Hemiptera, família Aleyrodiadae.
Na fase adulta, possuem tamanho pequeno, de 1 a 2 mm de comprimento. Seu aparelho bucal é do tipo picador-sugador, ou seja, realiza a sucção da seiva da planta durante a alimentação.
Uma característica da mosca-branca é o par de asas de coloração branca e seu corpo amarelo-palha.
A mosca-branca fica, geralmente, na face inferior das folhas e podem voar até 7 km de distância e 300 metros de altura, tendo preferência pelo deslocamento nas horas mais frescas do dia.
Logo após a eclosão dos ovos (em média 150 por fêmea), as ninfas se locomovem sobre as folhas, buscando um lugar para se fixar. As ninfas possuem coloração translúcida e amarela/amarelo-claro.
No Brasil, os principais biótipos são o A, B e Q.
A duração do ciclo da praga tem variação a depender da espécie hospedeira, temperatura e umidade. As condições ideias incluem temperatura na faixa de 25ºC e umidade relativa do ar de 65%.
Além disso, o período até a fase adulta dura certa de 22 dias.
Uma curiosidade, é que a mosca-branca tem preferência de cor em relação ao hospedeiro.
Assim, quando o seleciona à distância, ela é mais atraída pelo verde-amarelado, amarelo, vermelho, alaranjado-avermelhado, verde escuro e arroxeado (nesta ordem de preferência).
Por isso, quando as áreas de cultivo estão muito infestadas por viroses ou até mesmo fungos fitopatogênicos, há uma tendência de redução significativa da captura do inseto em armadilhas, o que pode levar a erros de controle.
Em quais culturas e regiões a mosca-branca está mais presente?
A mosca-branca está presente de Norte a Sul do país e a cada ano torna-se um problema mais sério em diferentes regiões de cultivo.
No Brasil, as áreas com maior incidência desta praga são: todo o Centro-Oeste, Maranhão, Piauí, Tocantins, Bahia e Pará.
Mas, ela também se faz presente nos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Rio de Janeiro. E estados do Sul do Brasil, principalmente Paraná e Rio Grande do Sul.
As principais culturas hospedeiras da mosca-branca incluem, por exemplo:
- Tomate (Solanum lycopersicum);
- Fumo (Nicotiana tabacum);
- Algodão (Gossypium hirsutum);
- Mandioca (Manihot esculenta);
- Batata-doce (Ipomea batatas);
- Gérbera (Gerbera jamesonii);
- Bico de papagaio ou poinsétia (Euphorbia pulcherrima).
No entanto, inúmeras outras espécies podem ser hospedeiras alternativas, incluindo plantas daninhas.
As plantas hospedeiras listadas acima são assim classificadas, pois, embora a praga possa sobreviver em diversas outras espécies de plantas, são estas culturas que propiciam as condições ideais para o desenvolvimento da mosca-branca.
Plantas hospedeiras alternativas, ou seja, aquelas em que a praga é capaz de sobreviver, mas muitas vezes não consegue se reproduzir, ou o faz, em menores proporções, incluem as famílias de plantas:
- Cucurbitaceae (abóbora, pepino, por exemplo);
- Euphorbiaceae;
- Malvaceae (família do algodão);
- Fabaceae (família da soja e feijão);
- Solanaceae (família do tomate);
- Brassicaceae (família da canola);
- Asteraceae (família do girassol);
- Plantas ornamentais (lavanda, hibisco).
Diversas espécies de plantas daninhas também são importantes na permanência da praga nas áreas de cultivo, por exemplo:
- Amaranto;
- Bryonia dioica;
- Bolsa-de-pastor (Capsella bursa-pastoris);
- Buva (Conyza canadensis);
- Alface do mato ou alface-brava (Lactuca serriola);
- Azedinha (Oxalis pes-caprae);
- Tasneirinha (Senecio vulgaris);
- Erva-moura ou erva-gardiniana (Solanum nigrum);
- Serralha-macia ou serralha-branca (Sonchus oleraceus);
- Morugem (Stellaria media);
- Urtiga (Urtica urens).
Por que é tão difícil controlar a mosca-branca?
A resposta para esta pergunta pode ser facilmente respondida depois de conhecermos as espécies hospedeiras principais, as hospedeiras alternativas e plantas daninhas que são utilizadas pela mosca-branca para a sobrevivência e reprodução.
A mosca-branca tem uma gama de hospedeiros, por isto, consegue se manter nas áreas de cultivo durante a entressafra, ainda que em populações baixas.
Assim, quando as culturas hospedeiras principais são implementadas nas áreas de cultivo, ela rapidamente migra para estas, aumentando rapidamente a sua população.
Outro ponto importante na dificuldade do controle é a presença de três biótipos, ou seja, derivações com diferentes características, incluindo a resistência a determinados inseticidas.
Estes biótipos se originaram da mutação da mosca-branca, provavelmente pela pressão de seleção no uso inadequado de inseticidas de amplo espectro, ou seja, que acabaram por eliminar também os inimigos naturais da praga.
Danos causados pela mosca-branca às culturas
De acordo com pesquisas, no feijão e na soja a mosca-branca possa causar danos aproximados de 70%, bastante expressivos, dados os valores de comercialização atual destes grãos.
Assim, os danos causados são classificados em danos diretos e indiretos.
Danos diretos
Quando o inseto suga a seiva da planta, além de desviar os nutrientes utilizados nas funções vitais do metabolismo (crescimento e desenvolvimento de novas folhas, ramos, flores, frutos ou grãos), ela injeta toxinas que interferem na formação dos tecidos.
Estas toxinas causam deformações e desenvolvimento anormal das plantas.
Danos indiretos
Além disso, a mosca-branca é vetora de diversos vírus capazes de causar danos severos às culturas.
Outro dano indireto da mosca-branca é o favorecimento da fumagina, isto porque, a substância açucarada liberada pelo inseto durante a sucção da seiva favorece o desenvolvimento do fungo.
Assim, com o aumento da população da mosca-branca nas áreas de cultivo, rapidamente as folhas das culturas agrícolas ficam recobertas pelo fungo, interferindo diretamente na fotossíntese.
Como a planta não consegue captar a luz solar (por estar recoberta pelo fungo) há uma redução na captação de energia e consequentemente, interferência negativa no metabolismo da planta.
Além disso, o recobrimento afeta as trocas gasosas, realizadas pelas folhas, reduzindo a respiração. E também, devido a coloração escura da fumagina, com o aquecimento ela pode favorecer a queimadura das folhas.
Então, veja a seguir os principais danos causados pela mosca-branca nas diferentes culturas de interesse econômico!
Danos às principais culturas agrícolas
1. Feijão
De modo geral, a cultura do feijão é suscetível à ocorrência de mosca-branca em todas as suas fases de desenvolvimento.
Na cultura do feijão, em média, da fase de ovo a adulto o ciclo do inseto é entre 28 e 36,5 dias, sendo muito influenciado pela temperatura e umidade do ar.
Os danos causados são, principalmente: a alteração no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo da planta, com redução da produtividade e qualidade dos grãos.
Além disso, a praga também realiza a transmissão do mosaico dourado.
2. Soja
Na soja a redução da produção em função do ataque da mosca-branca (Bemisia argentifolii) pode ser de até 70%.
Além disso, a praga é vetora do que causa a necrose da haste da soja.
Além dos sintomas representados nas imagens (A) e (B), também é possível observar nanismo das plantas infectadas, com formação de bolhas no limbo foliar (com regiões com transição de coloração mais escura a mais clara).
3. Melão
No melão, além dos danos diretos, a mosca-branca é vetora do vírus do amarelão (Melon yellowing-associated virus – MYaV).
Assim, os sintomas são observados em reboleiras, iniciando com o amarelecimento nas folhas do baixeiro da rama (mais velhas). Assim, com o desenvolvimento da doença, todas as folhas se tornam cloróticas (esbranquiçadas), afetando a quantidade e qualidade dos frutos.
4. Melancia
Na melancia, além da sucção da seiva e da transmissão de viroses, em altas densidades populacionais a mosca-branca pode provocar a morte de mudas e plantas jovens.
Além disso, em plantas adultas, pode ocorrer o amarelecimento, branqueamento e o amadurecimento irregular dos frutos, tornando-os fora de padrão para a comercialização.
5. Tomate
Além dos danos diretos e do favorecimento da fumagina, a mosca-branca é a principal vetora dos vírus pertencentes ao grupo dos geminivírus que, de forma geral, causam a clorose da cultura entre as nervuras das folhas evoluindo para um mosaico amarelo.
As folhas podem ainda se tornar rugosas e enrolar, além das folhas tornarem-se esbranquiçadas, cloróticas.
Nos frutos, os sintomas são anomalias, com má formação devido à alimentação da mosca-branca e injeção de toxinas.
Ademais, Outro problema causado é a desuniformidade da maturação dos frutos, dificultando a colheita, além de interferir na qualidade dos tomates para a indústria, tornando-os internamente com aspecto esponjoso.
Como realizar o controle da mosca-branca?
O monitoramento da lavoura deve ser constante, inclusive antes da implantação da cultura.
Por isso, é preciso realizar a inspeção com cuidado, de modo a virar delicadamente o verso das folhas, onde os insetos geralmente estão localizados, contando o número de adultos presentes por folha, em diversos pontos da lavoura.
Além disso, durante o desenvolvimento das culturas, as plantas devem ser inspecionadas com frequência e, em caso de média de 1 adulto por folha durante a inspeção das plantas, é preciso tomar medidas de controle preventivo.
Já na presença de 3 a 4 adultos por folha, é importante tomar medidas de controle rapidamente, isto porque, o inseto tem reprodução rápida.
Assim, o controle deste inseto deve se basear no uso de diferentes métodos de controle, de forma conjunta.
Então, veja cada um deles a seguir.
1. Controle genético
O controle genético está mais relacionado a capacidade de resistência ou tolerância da cultura cultivada aos vírus transmitidos pela mosca-branca.
No entanto, além de diversos programas de melhoramento genético já estudarem possíveis cultivares resistentes à mosca-branca, existem opções disponíveis com tolerância e até mesmo resistência à praga.
2. Controle cultural
Sobre o controle cultural da mosca-branca nas lavouras, algumas estratégias são:
- Destruição de restos culturais de culturas hospedeiras logo após a colheita;
- Limpeza da área antes do plantio da cultura de interesse;
- Observar o calendário de semeadura ou plantio de mudas, evitando a disseminação da praga de áreas contaminadas, para áreas sadias;
- Uso de sementes e mudas de boa qualidade e certificadas, tanto para evitar a disseminação da mosca-branca, como das viroses e outros patógenos;
- Rotação de culturas com plantas não hospedeiras;
- Utilização de plantas armadilhas;
- Preparo adequado da área de cultivo.
3. Controle biológico
O controle biológico pode ser realizado através da inserção em massa de grandes populações de inimigos naturais nas áreas de cultivo.
Alguns exemplos de microrganismos comprovadamente eficientes no controle da mosca-branca incluem os fungos entomopatogênicos Beauveria bassiana e Paecilomyces fumosoroseus.
Também é possível usar parasitóides e predadores (como Chrysopa sp.).
4. Controle químico
No controle químico são utilizados diversos inseticidas. Mas, é importante prestar atenção na resposta do inseto aos produtos e avaliar também se houve alguma redução na eficiência deles em função da resistência de diversos biótipos a esta praga.
O uso de inseticidas seletivos, ou seja, que não eliminem os inimigos naturais é uma prática indispensável.
Além disso, ao usar produtos biológicos e químicos de forma conjunta, é fundamental consultar a compatibilidade ou período entre a aplicação dos mesmos para evitar o comprometimento do controle.
Por fim, sempre consulte um profissional de agronomia para a recomendação mais assertiva para a sua área de cultivo.
Conclusão
Devido a capacidade de causar danos à diversas culturas agrícolas, a mosca-branca exige muita atenção nas áreas de cultivo.
Isso porque, sua reprodução é rápida e, além dos danos diretos causados – como a redução do desenvolvimento das plantas e o crescimento anormal – o inseto é vetor de uma gama de vírus importantes para vários cultivos.
Assim, é importante realizar o monitoramento da mosca-branca até mesmo antes da semeadura, principalmente porque ela é capaz de se manter ativa em plantas hospedeiras alternativas, incluindo daninhas.
Por isto também, o controle deste inseto se baseia no uso de diversas medidas de controle, e não apenas uma de forma isolada.
Ou seja, monitoramento e planejamento são essenciais para manter a sua lavoura livre deste problema.
Engenheira Agrônoma (UFFS), Mestra em Fitossanidade pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), com área de concentração fitopatologia. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) na área de sanidade vegetal e pós-colheita. Tem experiência nas áreas de fitopatologia, controle de doenças de plantas, grandes culturas, pós-colheita de grãos e sementes e agricultura de precisão.