Cultivo

Plantio de milho safrinha: Como escolher o híbrido?

Híbridos para o plantio de milho safrinha: entenda as diferenças entre os híbridos disponíveis e saiba como escolher a semente mais adequada para a sua lavoura!

O milho é o segundo grão mais cultivado no Brasil. De acordo com dados da Conab, a expectativa é de que a produção total do grão nas três safras de 2022 seja superior a 112 milhões de toneladas.

Para a segunda safra, a mais importante da temporada 2021/22, a estimativa é de que a produção seja de 86 milhões de toneladas do grão, com produtividade média de 5.443 kg/ha.

No entanto, diversos fatores podem afetar de forma negativa essa produtividade, como por exemplo, a falta de disponibilidade hídrica, uma vez que o milho precisa de até 7,5 mm diários. Outro fator é a radiação solar disponível, por isso, a escolha do híbrido adequado é fundamental!

No mercado, é possível encontrar diferentes híbridos, classificados em função da duração do seu ciclo em superprecoce, precoce, normal e/ou tardio, divididos em grupos.

Desta forma, é importante que produtores e profissionais estejam atentos às características dos híbridos para melhor escolha, analisando a relação custo/benefício, principalmente em função das necessidades do local de cultivo e das previsões climáticas.  

A seguir, entenda as diferenças entre os híbridos disponíveis no mercado e saiba como escolher o mais adequado para a sua região e lavoura!

Tipos de híbridos disponíveis para o plantio de milho safrinha

Além dos ciclos dos híbridos, ou seja, duração em dias das fases vegetativas e reprodutivas, é possível classificá-los de acordo com os seus tipos parentais (materiais genéticos que deram origem ao híbrido cultivado).

É importante levar esta característica em consideração em relação ao nível tecnológico da propriedade, além dos riscos climáticos.

Deste modo, a escolha do híbrido deve levar em consideração a relação custo/benefício do material.

Classificam-se os híbridos de milho em:

  • Híbrido intervarietal;
  • Top cross;
  • Híbrido simples;
  • Híbrido modificado;
  • Triplo;
  • Triplo modificado;
  • E híbrido duplo.

O que são híbridos de milho?

Os híbridos de milho são resultado do cruzamento de indivíduos geneticamente diferentes.

É importante destacar que, independentemente do híbrido escolhido para plantio do milho em segunda safra, as sementes só terão alto vigor e produtividade na primeira safra, o que exige que as sementes sejam adquiridas todos os anos, para garantir uma boa produtividade.

Dados indicam que se as sementes adquiridas em um ano forem colhidas e, posteriormente, semeadas pode haver redução da produtividade de 15% até 40%, resultado da perda de vigor e desuniformidade das plantas.

Por isto, a qualidade das sementes, principalmente do vigor, é fundamental.

Híbridos simples de milho

Resultam do cruzamento de duas linhas puras. E são indicados em sistemas de produção de alta tecnologia.

Os híbridos simples são os mais utilizados, principalmente pelo alto potencial produtivo que apresentam. Em seguida os híbridos triplos e os duplos.

Vantagens dos híbridos simples de milho

  • Os híbridos simples possuem maior potencial produtivo, podendo alcançar 15 mil kg/ha.
  • São menos estáveis e, por isso, conseguem explorar o máximo vigor, sendo mais produtivos e uniformes.

Desvantagens dos híbridos simples de milho

  • No entanto, as sementes deste tipo de híbrido são as mais caras para aquisição. Isso porque, a planta mãe é uma linhagem endogâmica (que tem depressão por endogamia). Dessa forma, a planta mãe produz menos sementes e sementes menores.
  • Além disso, como as plantas são geneticamente idênticas, uma condição adversa (como estresse hídrico) poderá afetar toda a lavoura de mesma forma. Já nos demais híbridos, que apresentam variações genéticas, o estresse hídrico se manifestará de forma desuniforme na lavoura.

Os híbridos simples são os mais utilizados, principalmente pelo alto potencial produtivo que apresentam. Em seguida os híbridos triplos e os duplos.

Híbrido duplo de milho

O resultado do cruzamento entre dois híbridos simples são os híbridos duplos de milho. Este tipo de híbrido tem indicação para produtores medianamente tecnificados

Além disso, as sementes têm custo inferior ao híbrido simples, apresentando uma melhore relação custo/benefício.

Os híbridos duplos são os mais utilizados à medida em que a semeadura é atrasada, principalmente quando há riscos em função de estresses climáticos como deficiência hídrica ou riscos de geadas (para a região Sul), por conta do menor custo de suas sementes.

Híbrido triplo de milho

É resultante do cruzamento entre um híbrido simples e uma linha pura. E foi desenvolvido para melhorar os híbridos duplos.

Indica-se esse tipo de híbrido para produtores com nível de tecnologia média à alta. E, depois dos híbridos simples, são os mais utilizados por apresentarem boa estabilidade.

Além disso, essas sementes apresentam produtividade intermediária, quando comparadas aos simples e duplos.

Em relação ao custo das sementes, costumam ser menores em comparação ao simples, e maiores do que as sementes dos híbridos duplos.

Tipos de híbridos de acordo com os tipos parentais:

(Fonte: FERREIRA, 2015)

Características do híbrido que merecem atenção no plantio de milho

Para uma produtividade satisfatória do milho safrinha, é muito importante levar em conta algumas características do híbrido.

Além disso, para reduzir os riscos de perdas, é necessário consultar o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc)

Nele, é possível identificar a melhor época para a semeadura do milho segunda safra, bem como as cultivares disponíveis em relação ao grupo, levando em consideração a região e os diferentes tipos de solo.

O Zarc para a segunda safra já está disponível e deve-se consultá-lo por estado.

Além disso, é possível realizar a consulta via smartphone pelo aplicativo Zarc Plantio Certo, desenvolvido pela Embrapa. 

App Zarc Plantio Certo, da Embrapa
(Fonte: Mendes, 2022)

E ainda, é possível consultar as informações via painel de indicação de riscos, selecionando a cultura, o tipo de solo, o estado e município, para assim, verificar as indicações de grupos e épocas de plantio.

Veja a seguir quais as principais características dos híbridos para se levar em conta na hora de escolher o qual plantar em sua lavoura:

1. Adaptação e estabilidade de produção regional

É importante escolher um híbrido que já possua adaptação e recomendação para a região de cultivo, tendo estabilidade, ou seja, produções satisfatórias em diferentes safras.

2. Resistência às principais pragas e doenças que ocorrem na região ou local de cultivo

Esse ponto fundamental, pois, o milho safrinha é cultivado quando há grande presença de populações de patógenos no ambiente, principalmente fungos causadores de manchas foliares e podridões de raiz e colmo.

Além destes, ocorrem também pragas, principalmente lagartas, que atacam tanto a cultura do milho, como a cultura da soja. Desta forma, com o plantio do milho safrinha depois da soja, é necessário atenção!

3. Sementes de milho com ótimo vigor, germinação e sanidade (certificadas e de procedência)

Isso é importante para reduzir problemas de falhas na emergência, o que impacta diretamente na população final de plantas na lavoura. 

Muitos produtores utilizam apenas a informação sobre a germinação das sementes, no entanto, altas porcentagens de germinação, não garantem que as sementes terão bom desempenho em campo.

Isto porque, o teste de germinação é feito em condições de temperatura, umidade e fotoperíodo (duração das horas de luz), ideais, o que muitas vezes não reflete as reais condições em campo.

Desta forma, a informação sobre o vigor do lote de sementes é fundamental. 

Os testes de vigor mais comuns em laboratório são o teste do tetrazólio e do envelhecimento acelerado. E é possível solicitá-los em laboratórios de análise de sementes. 

Sementes vigorosas devem ter a capacidade de originar uma planta sadia, de forma rápida, sob uma ampla diversidade de condições a campo.

Diferente da soja, a cultura do milho não é capaz de compensar falhas de plantio. Logo, cada semente que não foi capaz de emergir, resulta em uma falha, o que resultará em menor produção final da lavoura.

4. Ciclo da cultivar e suas características

O melhor é evitar cultivares de ciclo normal ou tardio. Isto porque, a cultura do milho, quando em cultivo safrinha, tem ciclo prolongado.

Assim, a semeadura de cultivares de ciclo longo manterá a cultura exposta à condições adversas por mais tempo.

A duração do ciclo em cultivo safrinha costuma ser de em torno de um mês a mais em comparação ao cultivo da primeira safra. 

Isso por que, na época do cultivo safrinha há redução da radiação solar e temperatura, principalmente no período final do enchimento dos grãos.

Ciclos dos híbridos usados no plantio de milho

O milho safrinha é cultivado nas regiões Centro-Sul do Brasil e algumas regiões do Norte/Nordeste, e para cada uma das regiões possui os grupos, que correspondem aos dias de duração do ciclo total.

O milho tem dois estádios de desenvolvimento, o estádio vegetativo e o reprodutivo, que são influenciados diretamente pela:

  • Temperatura;
  • Disponibilidade hídrica;
  • Radiação solar.

Desta forma, é preciso levar em consideração as características resultantes do ciclo de um híbrido de milho em relação à época da semeadura e região de cultivo (e município).

As recomendações têm variação para as diferentes regiões de cultivo. Pois, a colheita da soja também ocorre em diferentes períodos e o milho é semeado em segunda safra, após a soja na maior parte das regiões.

Os ciclos do milho são divididos, geralmente, em:

  • Precoce/Superprecoce (Grupo I): tem necessidade de até 780 unidades calóricas (que correspondem a soma térmica necessária, desde a semeadura até o florescimento), com ciclo igual ou menor a 110 dias;
  • Ciclo médio (Grupo II): requer entre 780 e 860 unidades calóricas, e tem a duração do ciclo entre 110 e 145 dias;
  • Ciclo tardio (Grupo III): tem necessidade de mais do que 860 unidades calóricas e tem ciclo de duração superior a 145 dias.

Por isso, de forma geral, recomenda-se:

  • Híbridos superprecoces: para regiões com risco de geadas, principalmente para o Sul do Brasil, além daquelas que têm como característica ocorrência de inverno muito seco (estresse hídrico).
  • Híbridos de ciclo precoce e normal: para as primeiras semeaduras do milho safrinha. Principalmente porque estas ocorrem nos meses de janeiro e fevereiro, que tem como característica a ocorrência de altas temperaturas, o que acelera o desenvolvimento vegetativo da cultura.

No entanto, é necessário avaliar se as fases críticas, principalmente enchimento de grãos, coincidem com condições climáticas favoráveis.

Fatores locais que influenciam na escolha do híbrido no plantio de milho

Os principais fatores que limitam a produção e influenciam na escolha do híbrido estão relacionado às características do solo, como disponibilidade e armazenamento de água, e fertilidade.

Tipo de solo

Solos arenosos apresentam maior risco ao cultivo, sendo, portanto, necessário escolha de cultivares com menor necessidade e/ou tolerância a restrição hídrica.

Já os solos argilosos tendem a ter maior fertilidade, além da capacidade superior de armazenamento de água.

Profundidade e capacidade de armazenamento de água

Solos profundos e não compactados tem a capacidade de armazenar maiores quantidades de água, evitando que a cultura passe por estresses quando curtos períodos de restrição hídrica ocorrem.

Sistema de cultivo

No caso de um sistema de plantio direto, há diversas vantagens para o milho safrinha, principalmente devido à proteção dada pela palhada ao solo, evitando perda de água por evaporação.

Temperatura do ar

Para o milho safrinha, o ideal é que as oscilações de temperatura estejam entre os limites de 10ºC a 30ºC.

Isso porque, a temperatura abaixo de 10ºC por períodos prolongados paralisa o crescimento do milho. Já temperaturas noturnas superiores a 30ºC afetam a produtividade da lavoura.

Além disso, a temperatura influencia muito na germinação das sementes, principalmente aquelas de baixo vigor.

A exemplo, a condição de 16ºC no período de germinação e emergência, no caso de sementes de baixo vigor, pode provocar baixo estande da cultura.

Disponibilidade hídrica e umidade do solo

O milho requer entre 500 a 800 mm de água distribuídos durante todo o ciclo. 

Ele é tolerante à restrições hídricas durante o período vegetativo, desde que não sejam prolongadas, pois a falta de água prejudica o desenvolvimento foliar. 

Logo, se houver menos folhas disponíveis para captar a radiação solar, menor será a produção de fotoassimilados que serão usados no enchimento de grãos.

Já na iniciação floral até o desenvolvimento da inflorescência e pendoamento, até a maturação, a cultura exige entre 5 e 7,5 mm diários de água.  

Em resumo, é importante destacar que uma boa safrinha de milho, inicia ainda no planejamento da cultura de verão. Pois, o quanto antes esta for colhida, antes o milho safrinha poderá ser cultivado e menor será a sua exposição a fatores adversos.

Conclusão

Ano a ano o mercado disponibiliza novos híbridos de milho adaptados às mais diversas regiões e condições climáticas.

No entanto, é importante que profissionais e produtores estejam atentos às características destas sementes, não somente ao tipo de híbrido e sua relação de custo/benefício, como também à sua tolerância às condições limitantes de produtividade da região.

A escolha da cultivar ideal é complexa e exige analisar todas as informações possíveis. 

Além disso, é importante destacar que, híbridos superprecoces e precoces são os mais indicados no cultivo safrinha, principalmente quando este ocorre de forma tardia, após fevereiro.

Por isso, consulte sempre um profissional para recomendações mais adaptadas à sua região e condições específicas da sua lavoura.


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