Estresse térmico na plantação de soja: entenda como as altas temperaturas podem afetar a produtividade e qualidade dos grãos e sementes de soja. E saiba como o manejo pode auxiliar a reduzir este problema
Diversos estresses podem reduzir a produtividade das plantas de soja, sejam eles abióticos, ou seja causados por condições ambientais desfavoráveis como altas temperaturas e déficit hídrico; ou bióticos, causados por organismos vivos, como fungos, bactérias e vírus.
A resposta das plantas a tais estresses está relacionada, principalmente, às características dos materiais genéticos (cultivares). E os impactos na produtividade dependem da fase em que esses estresses ocorrem e de sua duração.
Por exemplo, em anos com ocorrência de estresse térmico por altas temperaturas, principalmente na fase de enchimento de grãos, é comum haver alta produção de sementes ou grãos esverdeados, afetando a qualidade dos lotes de sementes produzidas e os produtos industrializados.
Então, confira a seguir o que é o estresse térmico, como isso pode afetar as plantas de soja, como mitigar seus efeitos e muito mais!
O estresse térmico em plantas é caracterizado pela ocorrência de temperaturas acima ou abaixo do ideal para o seu desenvolvimento.
Para a cultura da soja, por exemplo, temperaturas entre 20ºC e 30ºC favorecem o desenvolvimento da cultura.
Assim, alterações acima ou abaixo das temperaturas consideradas ideais levam à alterações fisiológicas na planta.
Por exemplo, temperaturas abaixo de 10ºC podem inviabilizar o cultivo.
Temperaturas baixas (abaixo de 13ºC), também podem impedir a floração, sendo entre 21 e 27ºC consideradas ótimas para esta fase de desenvolvimento da cultura.
Da mesma forma, temperaturas acima de 40ºC por longos períodos interferem na floração, provocando redução na capacidade de retenção das vagens.
Como mecanismo de defesa e manutenção da sobrevivência, podem ocorrer algumas respostas ao aumento da nas plantas, como por exemplo:
Para entendermos os efeitos do estresse térmico nos diferentes períodos de desenvolvimento da plantação de soja, é importante compreender a fenologia da soja e seus estádios de desenvolvimento.
Os estádios de desenvolvimento da cultura da soja têm duas fases principais: vegetativa e reprodutiva. Sendo ambas controladas geneticamente, de acordo com as características do cultivar utilizado e influenciadas pelas condições ambientais.
Desta forma, a passagem de uma fase para a outra pode ser atrasada ou adiantada, principalmente quando ocorrem estresses por temperatura ou déficit hídrico.
Estádios vegetativos: descritos pela letra V seguida da enumeração.
Ocorre normalmente uma a duas semanas após a semeadura, sendo dependente: da cultivar, vigor das sementes, profundidade de semeadura e, principalmente, temperatura e umidade do solo;
Os cotilédones são importantes para suprir as necessidades nutricionais da planta e a perda de ambos os cotilédones, de forma precoce pode reduzir em até 9% a produtividade da cultura.
V1: caracterizado pelas folhas unifoliadas totalmente desenvolvidas de modo que os bordos dos folíolos da primeira folha trifoliada não se tocam.
V2: dois nós com a folha completamente desenvolvida. Crescimento intenso das raízes laterais até V5 e fixação biológica de nitrogênio incrementada até atingir seu máximo em R5.
Vn: último estádio vegetativo.
Estádios reprodutivos: são representados pela letra R, seguida da numeração de 1 a 8. Compreende quatro fases distintas.
Neste período pode haver interferência no estande inicial de plantas, com desuniformidade e falhas.
Pela característica de plasticidade da cultura, ou seja, capacidade de compensação no período reprodutivo, a redução da área foliar e os estresses durante o período vegetativo tem pouca influência na produtividade de grãos.
No entanto, se ocorrem na fase reprodutiva, é possível observar reduções significativas da produtividade.
Período crítico para ocorrência de estresses por temperatura, principalmente quando acompanhados de déficit hídrico.
O florescimento da cultura da soja é longo, o que acaba permitindo que a planta tolere melhor períodos de estresse, desde que estes sejam curtos. E neste período, a redução da área foliar pode acarretar em reduções significativas da produtividade.
O estresse térmico pode provocar a queda precoce das folhas, sendo importante o planejamento da semeadura.
No início da formação das vagens (R3 e R4), altas temperaturas podem provocar o abortamento das vagens.
O início da formação dos grãos (R5), é considerado o mais crítico para a redução da área foliar e consequentemente produtividade da cultura, devido ao estresse térmico e hídrico.
O enchimento de grãos tem controle genético e a temperatura, teor de nitrogênio e a disponibilidade hídrica podem afetar a sua duração.
Neste período, caso ocorram temperaturas acima do ideal para a cultura, seguido de estresse hídrico, pode haver redução no enchimento de grãos (em peso), assim como o tempo de enchimento.
Além disso, a senescência das folhas é acelerada, o que faz com que a degradação da clorofila nos grãos não ocorra de forma correta. Assim, a planta mãe morre e ocorre uma grande produção de sementes verdes.
Baseado no que vimos, a cultura da soja possui capacidade de compensação de estresses quando estes ocorrem no período vegetativo.
Entretanto, após a transição para o período reprodutivo, até ocorrer a formação dos grãos, estresses provocados pela temperatura e deficiência hídrica levam à reduções drásticas na produtividade.
E isso acontece porque, nesta fase, há o uso das folhas no processo fotossintético, que é o responsável pela produção dos chamados fotoassimilados que terão um uso no metabolismo da planta e no enchimento de grãos.
Além disso, é a genética da planta que controla o enchimento dos grãos, o que também sofre influência da temperatura.
Se essa fase for acelerada pela ocorrência de altas temperaturas, a planta terá menos tempo para o enchimento dos grãos, logo, menor acúmulo de reservas e menor peso de grãos, levando a redução da produtividade.
Outro efeito da ocorrência de altas temperaturas e aceleração do processo de maturação, é a produção de grãos esverdeados.
Ou seja, os grãos se “desprendem” da planta mãe antes da maturação completa.
Na presença de elevados teores de grãos esverdeados (o qual tem limite máximo pela legislação de 8% em um lote), há alterações da qualidade dos óleos, podendo resultar em menor teor de lipídios e maior acidez do óleo.
Na industrialização implica em custos adicionais com agentes clarificantes.
Além disso, também ocorre a redução da capacidade de armazenamento dos grãos. Isso porque, grãos esverdeados têm uma perda mais rápida de qualidade.
Outro problema é quanto a plantação de soja tem por objetivo a produção de sementes. Pois, as sementes verdes também têm menor qualidade fisiológica, apresentando reduções significativas no vigor e germinação.
A resposta é não!
Danos por baixas temperaturas também podem ocorrer, especialmente quando a temperatura noturna for abaixo de 10ºC.
Além disso, cabe ressaltar, que os efeitos nas plantas não são sistêmicos, ou seja, não é toda a planta que demonstra os sintomas, somente as folhas expostas a temperaturas baixas.
Ou seja, se em algumas noites ocorrerem temperaturas baixas e, depois houver a emissão de folhas novas em temperaturas ideais, tais folhas não apresentarão os sintomas.
Além disso, os sintomas de estresse por frio são semelhantes à virose e, por isso, recebem o nome de ‘falsa virose’.
Infelizmente, os agricultores não podem controlar condições ambientais como a temperatura e a precipitação.
A menos é claro que, no caso do estresse hídrico, em que é possível utilizar a irrigação na área.
Assim, uma forma de tentar reduzir os impactos dos estresses ambientais, principalmente aqueles causados pela temperatura, é o planejamento da semeadura.
Isto inclui, planejar corretamente as culturas de inverno ou aquelas utilizadas como cobertura e produção de biomassa na área.
Semeaduras tardias devem ser evitadas, pois estas além de reduzirem a produtividade, podem fazer com que períodos críticos, como vimos anteriormente, principalmente no estádio reprodutivo, coincidam com aqueles em que se observam maiores temperaturas.
A análise dos dados disponíveis sobre temperatura e precipitações na área de cultivo, e de anos anteriores é importante para que seja feito o planejamento mais adequado.
Além disso, o conhecimento dos padrões de comportamento destas variáveis nos anos anteriores, permite a escolha da cultivar mais adequada para a área de cultivo.
A conservação e manejo do solo também são importantes, pois solos que permitam desenvolvimento radicular em profundidade, com cobertura por palhada, e incorporação da palhada não só na superfície, mas em profundidade, auxiliam as plantas a tolerar melhor os períodos de estresse.
O estresse térmico não pode ser diretamente controlado pelo produtor. No entanto, algumas medidas podem ajudar diminuir a exposição da soja durante suas fases mais críticas de desenvolvimento, como o estádio reprodutivo.
Além disso, a escolha de cultivares mais tolerantes ao estresse térmico, aliado ao planejamento da semeadura, são estratégias que podem ser utilizadas para mitigar os efeitos do estresse térmico na plantação de soja.
Manejos visando a conservação do solo, a utilização de plantas de cobertura para incorporação de matéria orgânica no solo, são práticas que devem ser adotadas para diminuir os efeitos do estresse térmico e também hídrico na cultura.
Além disso, monitorar as variáveis climáticas, como temperatura e precipitação da região de cultivo, também são indispensáveis.
Engenheira Agrônoma (UFFS), Mestra em Fitossanidade pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), com área de concentração fitopatologia. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) na área de sanidade vegetal e pós-colheita. Tem experiência nas áreas de fitopatologia, controle de doenças de plantas, grandes culturas, pós-colheita de grãos e sementes e agricultura de precisão.
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