Clima e Tempo

O que é geada e como ela impactou o campo neste ano?

Entenda como a geada afetou as lavouras neste ano e fique por dentro de algumas alternativas para minimizar os prejuízos na sua fazenda!

A ocorrência de geadas no mês de julho deste ano trouxe sérias preocupações aos produtores agrícolas brasileiros.

Isso porque, em algumas lavouras, o evento aconteceu durante uma fase crítica para a planta, como foi o caso do milho.

As consequências das geadas ainda estão sendo mensuradas, mas é certo que algumas culturas vão registrar menor produtividade nesta safra e até mesmo na próxima.

Neste artigo, você confere como ocorre a formação de geadas e qual a previsão do seu impacto na temporada atual. Além disso, confira também algumas alternativas para minimizar os efeitos deste evento em sua lavoura.

O que é geada e o que ela causa nas plantas?

A geada é um fenômeno que causa o congelamento dos tecidos vegetais. E, por consequência, a morte da planta ou de partes dela, como por exemplo folhas, ramos, frutos e caule. Isso acontece quando a temperatura do ar diminui até chegar a 0ºC, independente de haver formação de gelo sobre a planta.

Pois, as baixas temperaturas causam o congelamento de parte da solução presente dentro das células vegetais, provocando um desequilíbrio do potencial químico. Isso faz com que as células desidratem, percam o seu potencial de turgescência, percam volume, além de levar à ruptura da membrana plasmática.

É importante destacar que a vulnerabilidade das culturas agrícolas às geadas varia de acordo com a espécie (culturas tropicais, por exemplo, são mais susceptíveis) e de acordo com o estádio fenológico da planta no momento de ocorrência do fenômeno. 

Como na imagem abaixo, é possível observar que a geada provocou danos ao feijão, enquanto o milho, devido à sua fase de desenvolvimento ainda inicial, não apresentou o mesmo nível de perdas.

Feijão e milho em lavoura afetada pela geada de julho de 2021. (Fonte: Lorena Almeida)

Além disso, outros fatores também podem interferir nesse nível de sensibilidade. Por exemplo, plantas bem nutridas e em lavouras em solos com maior teor nutricional, tendem a “sentir menos” os efeitos das geadas. Isso porque, a concentração mais elevada de sais no interior das células vegetais reduz o seu ponto de congelamento.

Vale destacar que existem alguns tipos de geadas, classificadas de acordo com a sua formação ou seu aspecto visual.

  • Tipos de geadas segundo a sua formação:
    • De advecção
    • De radiação
    • Mista
    • De canela
  • Tipos de geada segundo o seu aspecto visual:
    • Geada branca
    • Geada Negra

Quais são as consequências da geada deste ano?

Durante o mês de julho, a ocorrência de geadas em diversas áreas do Brasil afetou lavouras de várias culturas e em épocas distintas de desenvolvimento.

Isso, somado aos impactos da falta de chuva, deve trazer perdas ao setor agrícola neste ano. Abaixo, você confere os principais impactos das geadas em algumas culturas, de acordo com informações divulgadas até o momento.

Milho

Durante o período das geadas, uma parcela relevante das lavouras estavam em fase de floração e enchimento de grãos. Por conta disso, é esperado um impacto negativo na cultura, com redução de produtividade.

De acordo com a Conab, a produção de milho este ano (considerando as três safras) deve chegar a 86,7 milhões de toneladas, redução de 15,5% em relação à safra passada. A produtividade, por sua vez, deve ser 21,1% menor, na mesma comparação. Isso devido ao impacto da geada somada à falta de chuvas.

Dessa forma, a previsão do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) é de que tais consequências negativas na cultura do milho impactem no preço final dos alimentos, encarecendo alguns produtos.

Cana-de-açúcar

Os impactos da geada na cana-de-açúcar começam a ser visíveis apenas de 10 a 30 dias após a sua ocorrência. 

Assim, os níveis de danos são determinados pelo perfil do canavial e a intensidade da geada. Ou seja, a temperatura mínima e o tempo de exposição da planta.

Os danos mais severos ocorrem quando há a queima da gema apical. O que leva a interrupção do crescimento dos colmos, onde se deposita o açúcar na planta. Com isso, é necessário antecipar a colheita para evitar maiores prejuízos.

Nesse caso, além de atrapalhar o planejamento da atividade, a colheita da cana antes do seu desenvolvimento pleno implica em redução na produtividade e na qualidade (volume de ATR) da matéria-prima, como mostram os dados do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC).

Como praticamente um terço da safra 2021/22 já havia sido colhida, a cana que tinha acabado de ser cortada e estava em rebrota também sofreu impacto da baixa temperatura.

O resultado disso em 2022/23 poderá ser de redução de volume e a qualidade (ATR) da matéria-prima, bem como a necessidade de um novo plantio, devido à queima da gema apical. O que pode causar atraso no desenvolvimento desta cana-de-açúcar para a próxima safra.

Café

Dentre os danos ocasionados pela geada, estão a desfolha da parte superior, com prejuízos menores, pois, nestes casos a planta se recupera, até a perda total da lavoura. 

É importante ressaltar que, mesmo em áreas em que a geada não ocorreu, há efeitos negativos na fisiologia da planta, que vão prejudicar as próximas floradas e a formação de frutos. Porém, isso só poderá ser mensurado mais ao final do ano, após o ser dimensionado o pegamento da florada.

Em um primeiro levantamento realizado pela Conab, para a safra de café 2022/23, de ciclo alto, estima-se que 21% da área total de arábica sofrerá algum grau de dano

Vale apontar que, a Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais) e a Embrapa Café traçaram cenários de reduções entre 4 e 11 milhões de sacas no próximo ano. 

Além disso, para as lavouras mais novas, que iriam produzir em 2022, e aquelas recém formadas (plantios de 2020), a necessidade de replantios implicará em menor potencial para o ano de 2023 ou além, a depender das novas formações. 

Este cenário acabou sendo indiretamente positivo para o café conilon, que não foi impactado pelas geadas. Isso porque, devido ao encarecimento do arábica, houve um efeito substituição de alguns blends, o que colaborou para a valorização do conilon.

Citros

De acordo com o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – Esalq/USP), as geadas não foram generalizadas nos pomares e ainda não é possível afirmar se haverá impacto no volume produzido na próxima safra.

No entanto, a qualidade das frutas deve ser prejudicada, com interior seco e cristalização assim como observado após as geadas no final de junho e início de julho. 

Além disso, o limão tahiti sofreu danos com a geada, visto que é muito sensível à oscilações climáticas. O frio intenso derrubou alguns frutos pequenos, brotamentos e flores.

Hortifruti

De acordo com o relatório da Consultoria Agro, do Banco Itaú, os maiores danos das geadas sobre os hortifrútis ocorreu no Sudeste.

Para alguns produtos, como alface e batata, as perdas provocadas pela geada do dia 20 de julho já afetaram os preços. Enquanto que, para outros, por exemplo cenoura e cebola, não foram registradas grandes prejuízos, apenas atraso na colheita, uma vez que são culturas que apresentam uma maior resistência.

O relatório também apontou que as áreas de tomate e batata de São Paulo e Minas Gerais foram afetadas, o que pode refletir em aumento de preços nos próximos meses. Além disso, as temperaturas baixas também afetaram a produção e a qualidade dos frutos nas áreas de banana e manga destes estados.

Trigo

As geadas podem auxiliar no perfilhamento e na redução da incidência de pragas e doenças fúngicas, em algumas condições durante o desenvolvimento vegetativo das plantas. O que acaba tendo um impactando positivo na redução de defensivos químicos na lavoura.

Contudo, mesmo a cultura sendo mais resistente à geada, algumas áreas também foram afetas.

De acordo com o DERAL (Departamento de Economia Rural do Paraná), o percentual da área paranaense com trigo em desenvolvimento vegetativo somava 72% quando ocorreu a geada em meados de julho. Atualmente, as plantas estão iniciando o seu período de enchimento de grãos e é preciso aguardar que esta fase avance para realizar as estimativas de danos à cultura.

Porém, vale apontar que, o último relatório da Conab, apontou que cerca de 39% das áreas de trigo do Paraná estão em condições consideradas “regulares” ou “ruins”, resultado da geada somada à falta de chuvas.

No Mato Grosso do Sul e São Paulo, os maiores danos foram observados nas lavouras em estádios mais avançados de desenvolvimento, aponta a Conab.


Visão direto do campo

“Aqui no Triângulo Mineiro, nos municípios de Planura, Frutal e Pirajuba, pude observar que as lavouras mais prejudicadas foram as de cana. Os produtores estão, inclusive, adiantando o máximo a colheita, justamente por conta dos danos.

As lavouras de milho não foram muito afetadas, porque ainda não tinha muito milho plantado. Mas, aqueles que estavam plantados e passaram por algum estresse ocasionado pelas geadas, estão conseguindo se recuperar. E essa recuperação é por conta do estádio fenológico que essas plantas se encontram, a maioria delas estava antes de V3 e não houve nenhum dano no meristema apical e por isso elas estão conseguindo reagir bem.

Em relação ao feijão, houve bastante perda, principalmente nas lavouras de plantas mais jovens e em áreas de baixada porque é onde há o maior acúmulo de ar fio. E agora, inclusive, da pra ver algumas áreas de feijão com uma boa recuperação, mas foram áreas nas quais a geada não afetou o meristema apical das plantas.

– Comenta a Engenheira Agrônoma Lorena Almeida sobre o impacto das geadas em sua região.
Área de cana-de-açúcar afetada pela geada de julho de 2021 (Fonte: Lorena Almeida)
Área de feijão se recuperando da geada de julho de 2021 (Fonte: Lorena Almeida)

Fatores que merecem atenção e alternativas para minimizar os efeitos da geada na lavoura

Vale apontar que, algumas medidas, podem evitar ou minimizar os danos ocasionados pela geada nas plantações. Confira algumas delas a seguir.

Planejamento do local e semeadura visando diminuir os riscos de geada

É importante observar qual é o histórico de geadas da sua região para realizar o planejamento da época de semeadura visando minimizar as perdas. 

Para isso, você pode consultar bases de dados como o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) e Cptec/Inpe, que fornecem informações sobre a previsão de riscos de geada pelo Brasil. 

Além disso, conhecer o zoneamento agrícola de risco climático também é muito importante na hora de escolher qual cultivar plantar e quando realizar a semeadura.

A partir dessas informações, é possível escalonar o plantio para que a fase reprodutiva não caia na época de maior chance de ocorrência de geadas.

Utilização de variedades resistentes

Para uma mesma cultura as variedades podem apresentar diferentes tolerâncias ao frio.

O conhecimento das temperaturas letais para as diferentes variedades cultivadas, tanto anuais como perenes, possibilita a escolha daquelas mais adequadas para a região. 

Isso porque, as perdas na lavoura também dependem da cultura, do estádio de desenvolvimento da planta durante o evento, da fitossanidade e estado nutricional das plantas.

Uso da área levando em consideração o topoclima e relevo

É importante lembrar que, nas áreas em que o ar frio circula menos, ou seja, fica estagnado, é que as geadas ocorrem de forma mais intensa e frequente. Isso acontece, por exemplo, nas baixadas e em terrenos planos.

Por isso, é necessário avaliar o topoclima e o relevo da propriedade e, a partir disso, planejar os locais de plantio de cada cultura.

Nebulização artificial da atmosfera

Uma medida que pode colaborar para minimizar o impacto das geadas nas plantas é a nebulização.

Essa prática consiste e aplicar uma neblina artificial que absorve ou dissipa a radiação impedindo a queda na temperatura, sendo utilizada, principalmente, em casos de geada de radiação. De acordo com a Embrapa, essa neblina pode ser gerada por:

  • Aparelhos nebulizadores;
  • Geradores adaptados;
  • Queima de misturas que causam neblina, por exemplo, a serragem salitrada.

Irrigação

A irrigação, principalmente por aspersão, é uma forma de diminuir as condições favoráveis à ocorrência da geada.

Isso porque, quando a água congela, ela libera calor latente (ou seja, o calor necessário para que ocorra a mudança da água da fase líquida para a sólida) o que diminui o resfriamento e mantém a temperatura por volta de 0ºC, evitando, assim, danos aos tecidos vegetais.

Adubação foliar com potássio

A adubação foliar com potássio, principalmente sulfato de potássio também é uma forma de evitar os danos causados pelas geadas nas plantas.

Isso porque, dentro da planta, o potássio eleva o ponto de congelamento da seiva. Além disso, a aplicação do nutriente também faz com que ocorra a pulverização de água, o que leva à dispersão do ar frio no ambiente, dificultando a formação de geada.

Conclusão

O cenário de recuperação da produção, da maioria das culturas, já era desafiador em função da seca deste ano, que prejudicou o desenvolvimento de muitas lavouras. 

As geadas agravaram ainda mais a perspectiva de perdas para o próximo ciclo.

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Mas, para uma boa mensuração dos danos é preciso acompanhar as lavouras nos próximos meses, pois os impactos variam muito conforme a intensidade da geada.

Buscar informações sobre como eventos como esse afetam a sua produção e ficar por dentro de técnicas que minimizem esses impactos são ações muito importantes e podem colaborar na tomada de decisão para as safras seguintes.

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