Tratamento de Sementes: O que é e Como Funciona?

Entenda como o tratamento de sementes pode aumentar os resultados da sua lavoura. E conheça as vantagens e desvantagens dos tratamentos on farm e industrial.

Na produção agrícola, as sementes são o insumo com maior valor agregado e a sua qualidade é o ponto de partida para uma boa safra.

Isso porque, elas que terão o papel de gerar uma planta vigorosa e sadia, capaz de expressar todo o seu potencial genético, resultando em uma produção satisfatória e de qualidade.

No entanto, mesmo que as sementes tenham boa sanidade, ou seja, estejam livres de patógenos (organismos capazes de causar doenças em plantas), elas ficam suscetíveis a eles ao serem expostas ao solo.

Assim, essa prática é fundamental para garantir que as sementes estejam protegidas contra organismos do solo, principalmente fungos e bactérias, e pragas, como lagartas, corós, formigas, cupins etc.

Além disso, é possível adicionar micronutrientes e microrganismos benéficos às sementes, com diversas finalidades e benefícios, como: ação de controle de pragas e doenças, indução de resistência ou promoção de crescimento.

Então, entenda a seguir como funciona o tratamento de sementes, quais são os seus benefícios e saiba a diferença entre os realizados on farm e de forma industrial (TSI).

O que é o tratamento de sementes?

O tratamento de sementes consiste na aplicação de diferentes produtos – seja de forma individual, ou em misturas (quando os produtos são compatíveis) – direto nas sementes.

Assim, os produtos fitossanitários aplicados podem ser:

• Químicos, como por exemplo, inseticidas (para o controle de pragas), nematicidas (para o controle de nematoides), fungicidas (para o controle de fungos), adjuvantes, dentre outros;

• Biológicos, como bactérias do gênero Bacillus spp. ou fungos do gênero Trichoderma spp. (para o controle de pragas e doenças); bem como bactérias fixadoras de nitrogênio, como as do gênero Rhizobium (em leguminosas) e Azospirillum spp. (leguminosas e gramíneas), dentre outros) e;

• Físicos, ou seja, com ação nutricional, como a adição de micronutrientes.

E se eu não realizar o tratamento de sementes?

Dependendo do histórico da área em relação à ocorrência de pragas e doenças e até mesmo da cultura antecessora (que pode ser hospedeira de pragas e doenças), a não realização do tratamento de sementes, pode gerar uma série de impactos negativos à lavoura, como por exemplo:

• A redução do poder germinativo e do vigor das sementes, o que provoca o estabelecimento desuniforme e até mesmo a redução da população de plantas (um componente importante e que, então, terá reflexos na produtividade da lavoura);

• A introdução de pragas e doenças em uma área até então livre delas. E isso acontece com o uso de sementes não certificadas, produzidas na propriedade (quando a legislação permite), ou de procedência duvidosa;

• A necessidade de aplicações de defensivos que, até então, não seriam precisos, aumentando os custos da lavoura;

• A disseminação de doenças à longas distâncias, uma vez que o cultivo das sementes ocorre em um local e a sua comercialização pode ser feita em outros.

Tabela com os principais patógenos disseminados via sementes

Vantagens da realização do tratamento de sementes

Além disso, em condições de déficit hídrico no solo, o tratamento de sementes pode beneficiar a cultura.

Isso porque, em condições de déficit hídrico, as sementes têm uma demora maior para que a emergência ocorra. Desta forma, permanecem mais tempo no solo expostas, principalmente, a fungos.

Em lavouras de soja, por exemplo, em condições de déficit hídrico, o tratamento de sementes proporciona maior emergência de plântulas e o bom estabelecimento da cultura, principalmente quando os estresses ocorrem nas primeiras duas semanas após a semeadura.

Isso porque, o tratamento de sementes cria uma zona de proteção em torno das sementes, protegendo-as de microrganismos do solo. E, com isso, impede e previne a sua deterioração. Dessa forma, quando as condições de umidade e temperatura forem ideais, as sementes germinarão.

No entanto, o tratamento de sementes, por si só, não é garantia de sucesso. Pois, é preciso realizá-lo da melhor forma, com boa cobertura e durabilidade da aplicação. Além disso, é importante ter atenção no uso dos produtos, sendo preciso analisar a sua compatibilidade.

Quando é recomendado o tratamento de sementes?

De modo geral, recomenda-se o tratamento de sementes para manter a sanidade das sementes quando esta entrar em contato com o solo.

Então, é preciso ter atenção redobrada quando: 

• Houver observações de contaminações por fungos fitopatogênicos no lote de sementes (ou seja, presença de sinais dos fungos nas sementes), que pode ser determinado pelo teste de sanidade, realizado em um laboratório de análise de sementes;

• As condições climáticas na semeadura e as previsões logo após forem adversas, como por exemplo: excesso de umidade no solo devido ao grande volume de chuvas, ou semeadura no “seco”, ou seja, com o solo muito seco;

• A condição for de semeadura com temperaturas amenas e solo úmido, ou semeadura em solo demasiadamente seco com previsões de grande volume de chuvas. Pois, isso provoca a criação de uma crosta que dificulta a emergência das plântulas;

• O solo apresentar baixa fertilidade e compactação.

Dessa forma, nestas condições, o tratamento de sementes é indispensável!

Planejando o tratamento de sementes

É importante planejar o tratamento de sementes não só em função de quais patógenos e pragas se busca controlar, mas também dos produtos serão aplicados.

No entanto, vale destacar que é possível dispensar o tratamento de sementes na ausência de pragas e doenças e em casos que exijam a inoculação – como a de bactérias na soja – e as previsões climáticas forem favoráveis ao rápido estabelecimento da cultura.

A saber, os tipos das formulações recomendados para o tratamento de sementes são:

• DS: pós, para tratamento de sementes a seco;
• ES: emulsão para o tratamento de sementes;
• FS: concentrado fluído para o tratamento de sementes;
• LS: solução para o tratamento de sementes;
• PS: semente peletizada;
• SS: pó solúvel para o tratamento de sementes;
• WS: pós, para a preparação de “slurry” (lama, pasta).

Mas atenção, avalie as condições da sua área sempre junto a um profissional!

Tipos de tratamento de sementes: vantagens e desvantagens

No caso dos fungicidas, estes conferem proteção diferenciada, podendo ser de contato ou sistêmicos. 

Os fungicidas de contato são protetores, ou seja, tem efeito apenas externamente à semente e devem ser aplicados antes da infecção pelo patógeno.

Já os fungicidas sistêmicos terão ação sobre as sementes e tecidos novos formados, ou seja, sobre a plântula, pois são translocados (movimentados no interior da planta).

Uma técnica que tem se mostrado eficiente é a mistura de produtos de contato e sistêmicos, pois a semente e a plântula emergida estarão protegidas por um período, em média, de 15 dias após a aplicação dependendo do residual do produto.

Além disso, o tratamento de sementes pode ser realizado diretamente na propriedade, mas também é possível comprar as sementes já tratadas.

Tratamento On Farm

O tratamento de sementes on farm é aquele realizado na fazenda. Ou seja, as misturas de produtos fitossanitários, as doses, a adição de adjuvantes, bem como mistura da calda final às sementes são feitas pelo na própria fazenda.

Para isso, normalmente, ocorre a adição das sementes em sacos ou em betoneiras, em seguida, é feita a adição da calda, misturando-se às sementes por um período de tempo. Mas cuidado, esse processo pode causar danos físicos à semente, reduzindo sua qualidade fisiológica.

Ademais, no tratamento on farm, é importante adotar boas práticas para garantir que os produtos utilizados sejam compatíveis, nas doses e volume de calda corretos, para não reduzir a qualidade fisiológica das sementes.

Vantagens do tratamento de sementes on farm

• O produtor pode direcionar o tratamento de sementes em função da necessidade na sua área de cultivo, principalmente na ocorrência de patógenos habitantes de solo, como oomicetos, causadores das podridões por exemplo;

• O custo tende a ser menor.

Mas, as vantagens podem não superar as desvantagens em alguns casos. Assim, a recomendação é de, que se possível, adquirir sementes com o tratamento industrial de sementes (TSI).

Desvantagens do tratamento on farm

• Às vezes, pode provocar uma maior exposição do produtor aos produtos fitossanitários;
• É difícil atingir a uniformidade do tratamento na massa de sementes;
• É preciso ter conhecimento técnico para realizar misturas compatíveis, caso contrário, pode haver prejuízos na lavoura por ineficiência.

Tratamento industrial (TSI)

Em contrapartida, no tratamento on farm, neste caso, utilizam-se equipamentos específicos como o sistema de bateladas e de fluxo contínuo. Isso proporciona uma ótima cobertura, uniformidade, bem como segurança nas doses, volume de calda e produtos fitossanitários utilizados.

Além disso, no TSI, são usados equipamentos com sensores em tempo real, que medem a quantidade de sementes e produtos adicionados dentro dos tratadores. Dessa forma, há uma maior a precisão, segurança e economia de produtos.

Vantagens do Tratamento Industrial de sementes (TSI)

• Maior cobertura e uniformidade do tratamento na massa de sementes;
• É um processo que garante mais segurança e precisão e, assim, maior economia de produtos e de tempo;
• Melhores resultados na proteção das sementes e menor risco de danos físicos;
• Menor risco de contaminação ambiental.

Desvantagens do Tratamento Industrial de sementes (TSI)

• Tem um custo mais elevado de aquisição das sementes.

Problemas na mistura de produtos em tratamentos on farm (incompatibilidade)

Problemas de incompatibilidade podem ocorrer, principalmente, em misturas de microrganismos + fungicidas + micronutrientes.

Por exemplo, as bactérias do gênero Bradyrhizobium spp., tem sua população viável (viva) reduzida drasticamente, mesmo quando a inoculação é feita após o tratamento de sementes. E isso diminui a formação de nódulos em soja.

Além disso, no tratamento de sementes, não se deve misturar estas bactérias com micronutrientes como molibdênio (Mo) e cobalto (Co) – que são indispensáveis na fixação biológica de nitrogênio.

Assim, é importante sempre conferir a compatibilidade dos produtos fitossanitários que se deseja aplicar!

E também, é importante lembrar que o uso de produtos biológicos, aliado ao uso de produtos incompatíveis, pode comprometer totalmente a eficiência da aplicação.

Por isso, se necessário, acesse as tabelas para a consulta de algumas compatibilidades para as culturas da soja, milho, algodão, entre outras clicando aqui.

Conclusão

Em resumo, o tratamento de sementes é uma ferramenta indispensável para alcançar um estande uniforme e uma boa população de plantas na lavoura, principalmente quando a semeadura ocorre em condições adversas.

Além disso, vários patógenos podem ser disseminados via sementes. Dessa forma, a aquisição de sementes de qualidade é o primeiro passo. 

O segundo é analisar quais tratamentos químicos, biológicos ou físicos devem ser usados, em função das necessidades da cultura, bem como da área de cultivo.

Assim, é indispensável que produtor e os profissionais estejam atentos à compatibilidade dos produtos utilizados: se estes podem, de alguma forma, alterar o pH da calda; ou até mesmo provocar alguma reação química que cause o entupimento de bicos.

Por isso, a aquisição de sementes com tratamento industrial (TSI) sempre será a alternativa com uma maior relação custo/benefício, pois a qualidade do tratamento neste sistema é superior ao tratamento on farm.